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Saque e Voleio

Documentário mostra Federer e Nadal em seus momentos mais vulneráveis

Alexandre Cossenza

06/08/2018 12h16

Para muitos, a final de Wimbledon em 2008 foi o maior jogo de tênis da história. Rendeu debates, discussões e até um livro – Strokes of Genius, escrito por L. Jon Wertheim, que na época era jornalista sênior da Sports Illustrated. A revista, inclusive, deixou de lado os esportes americanos para dedicar uma capa à partida. "Um épico do tênis. Nadal derrota Federer na Maior Partida da História", dizia a manchete. Coisa rara e ousada, até para a SI.

Dez anos depois, Strokes of Genius virou um documentário co-produzido por Amblin Television (divisão da produtora fundada por Steven Spielberg), Rock Paper Scissors Entertainment e Tennis Channel. E que belo documentário, viu? A começar pelas participações dos protagonistas, Rafael Nadal e Roger Federer. Os dois gravaram depoimentos exclusivos para o filme e foram sinceros e detalhistas em um nível difícil de ver no tênis. Ambos revelam, genuinamente, seus momentos mais vulneráveis.

Espanhol e suíço falaram sobre suas sensações ao longo do duelo. Federer admitiu que jogou as duas primeiras parciais quase como se não acreditasse que poderia vencer. Nadal, por sua vez, admitiu o nervosismo quando esteve perto da vitória, liderando o tie-break do quarto set. "Quando estava sacando para ganhar Wimbledon, pensei 'vou ganhar Wimbledon'. [O match point perdido] Talvez tenha sido a pior sensação que já tive numa quadra de tênis. Porque eu nunca penso 'vou ganhar'. Jogo o ponto. Mas para mim era tão importante aquela partida, que senti que tinha a bola ali e pensei que ia ganhar."

O filme é brilhante ao contextualizar aquele confronto, lembrando da final de Roland Garros e do momento favorável a Rafa Nadal. "Meu problema foi ter perdido a final de Roland Garros um mês antes, de uma maneira horrível", diz Federer. O espanhol, por sua vez, lembra o quanto doeu estar perto da vitória e não aproveitar a chance na final de Wimbledon um ano antes.

No que diz respeito especificamente à final de 2008, o doc mostra, obviamente, muitos dos momentos incríveis do jogo – inclusive as duas passadas espetaculares, em pontos consecutivos, no fim do quarto set. Uma para chegar a um match point, outra para anulá-lo. O vídeo traz também entrevistas pós-jogo, cenas de bastidores e alguns detalhes e ângulos que não foram vistos na transmissão oficial do duelo, dez anos atrás.

Mas Strokes of Genius não é só sobre o jogo. É sobre a história e os contrastes que fizeram de Federer x Nadal uma das maiores rivalidades da história do esporte – não só do tênis. O filme mostra como a personalidade de cada um se formou. Mostra o suíço em seu momento de jovem esquentado e quebrador de raquete e traz Pete Sampras lembrando da derrota para Federer em Wimbledon. Mostra também Toni Nadal dizendo o que sempre pediu de seu sobrinho. E como tudo isso resultou em dois gênios tão brilhantes quanto diferentes, vivendo na mesma época e batalhando no maior dos palcos.

O documentário – imperdível se você é fã de tênis – foi exibido no Tennis Channel e na BBC em julho deste ano. Hoje, Strokes of Genius está disponível no iTunes por US$ 7,99. É bem possível que esteja em breve num dos populares serviços de streaming, mas quem tiver pressa e tem familiaridade com torrents vai encontrar o filme nos sites mais conhecidos.

Coisas que eu acho que acho:

– Meu momento preferido do documentário é a parte em que Federer fala sobre a relação com Nadal e como ele não queria aceitar que havia uma rivalidade até o momento em que não foi mais possível negar que ela existia. É o tipo de coisa que ele nunca revelaria na época, mas agora, dez anos e muitos confrontos depois, já topa abordar.

– Aliás, para quem está acostumado a lidar com tenistas e seus egos, é admirável a participação de Federer em Strokes of Genius. Afinal, trata-se da lembrança de uma derrota que o mundo nunca vai esquecer. Mesmo assim, ele topa aparecer e dá declarações bastante reveladoras sobre seus momentos mais frágeis no tênis e naquele jogo. É lindo de ver ele falando, com bom humor, sobre a época em que começava no circuito profissional e "achava que era melhor do que eu era na verdade".

– A lista de pessoas que participam do doc também é gloriosa. John McEnroe fala sobre sua própria rivalidade com Bjorn Borg, Martina Navratilova e Chris Evert lembram de seus confrontos. Também dão seus depoimentos Robert Federer, Lynette Federer, Toni Nadal, Rafael Maymó, Miguel Nadal, María Isabel Nadal, Benito Perez-Barbadillo, Severin Luthi, José Higueras, Pierre Paganini, Carlos Moyá, Heinz Gunthardt, Tim Henman, Bjorn Borg e outros nomes relevantes.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.