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Saque e Voleio

O campeão voltou

Alexandre Cossenza

14/07/2018 12h08

Não, Novak Djokovic não é campeão de Wimbledon. Ainda tem pela frente uma final que pode ser duríssima (lembram de 2015?) contra Kevin Anderson. Não é esse o ponto. O ponto é que o sérvio, "aquele" sérvio campeão de tudo, está de volta. E provou isso do primeiro ao último minutos das 5h14min do duelo contra um Rafael Nadal em grande forma e no topo do ranking. De outro modo, Nole não teria chegado a essa vitória memorável por 6/4, 3/6, 7/6(9), 3/6 e 10/8.

O Djokovic de hoje, 31 anos e número 21 do mundo, precisou de tudo que "aquele" Djokovic mostrou tanto em 2011 quanto em 2015/16, quando dominou o circuito. A começar pela devolução de saque, que pressionou Nadal desde os games iniciais. Aliás, o nível altíssimo do sérvio fazia parecer que ele poderia deslanchar no jogo e encerrar o duelo sem dificuldades.

Só que Nadal subiu de nível. Brigou para confirmar o saque no início da segunda parcial e, quando conseguiu a primeira quebra, estabeleceu-se de vez no jogo. Mesmo assim, o espanhol ainda precisava brigar por cada ponto. A movimentação de Djokovic voltou a ser espetacular e, na grama, fez toda diferença do mundo. Cada winner de fato de Nadal vinha, aparentemente, depois de duas ou três bolas que não voltariam contra qualquer outro rival.

Nole também mostrou a velha intensidade – aquela que fez tanta falta no início do ano, até Indian Wells e Miami. Gritou quando estava insatisfeito, esbravejou com erros não forçados e até se autoflagelou, batendo agressivamente seguidas vezes com a raquete no próprio pé durante o quarto set (quebrar a raquete no chão danificaria a grama). Em momento algum, mostrou-se conformado. Sempre brigou por mais.

Em Queen's, faltou um ponto para o título. Se alguém podia dizer que Djokovic ainda não tinha jogado seu tênis A nos momentos decisivos, não pode mais. O sérvio salvou-se brilhantemente de quatro set points no tie-break do terceiro set e, mais tarde, de cinco break points no quinto set (dois no 4/4 e três no 7/7). Sacou brilhantemente. Foi frio, preciso e decisivo. O campeão voltou.

Coisas que eu acho que acho:

– Ainda que Djokovic tenha jogado um tênis espetacular até aqui, não convém descartar Kevin Anderson. Vale lembrar que em 2015, quando Djokovic voava no circuito, o sul-africano abriu 2 sets a 0 e quase provocou uma zebra gigante. Nole venceu por 6/7(6), 6/7(6), 6/1, 6/4 e 7/5, com uma grande ajuda do rival no fim. Anderson, sacando em 5/5 no quinto set, cometeu duas duplas faltas seguidas sacando em 15/15. Deu a quebra decisiva quase de graça. Não sei se o Anderson de hoje, mais experiente, top 10 e vindo das vitórias que conquistou sobre Federer e Isner, cometeria o mesmo vacilo.

– Enquanto o jogão entre Nadal e Djokovic se desenrolava, muitos perguntaram sobre seu lugar na minha lista de jogos preferidos de Wimbledon. Preciso ver de novo. A princípio, não sei onde (ou se) encaixá-la.

– Nadal sai sem o título, mas com seu melhor desempenho em Wimbledon desde o título de 2010. Ouso dizer que seu tênis este ano foi melhor – e mais adequado à grama – do que o mostrado em 2010. Na transmissão oficial, Boris Becker ressaltou as muitas subidas à rede e os voleios precisos do espanhol. Em um momento do jogo contra Nole, o alemão classificou o Nadal de hoje como um expert na grama. É um elogio e tanto.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.