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Saque e Voleio

Angelique Kerber e a coroação de uma (outra) grande campeã em Wimbledon

Alexandre Cossenza

14/07/2018 14h20

Serena Williams, 36 anos, deu à luz em setembro do ano passado, teve complicações no parto, passou por uma série de cirurgias após o nascimento da filha e voltou às quadras em março. Agora, em julho, com uma filha de dez meses acompanhando sua equipe, a americana era favoritíssima para conquistar o título de Wimbledon. Seu camarote tinha gente como Anna Wintour e Lewis Hamilton. O Box Real tinha Meghan Markle torcendo a seu favor. A Quadra Central, principal arena do tênis, parecia o palco perfeito para a coroação de uma das maiores campeãs do esporte.

No entanto, desde que a primeira bola entrou em jogo, o que o público viu foi o retorno de outra grande campeã: Angelique Kerber. Ex-número 1 do mundo e campeã do Australian Open e do US Open de 2016, a alemã viveu um 2017 complicado. Em ocasiões, jogou lesionada. Também jogou afobada. Às vezes, jogou simplesmente mal. Teve resultados abaixo do esperado e sofreu uma queda considerável no ranking. Foi parar fora do top 20.

O começo de 2018 foi promissor, com um título logo em Sydney, o primeiro evento do ano. Ainda assim, Kerber sofreu derrotas duras nos slams. Tombou diante de Halep em Melbourne e Paris. Foram reveses duros em jogos ganháveis. Só agora, em Wimbledon, é que tudo se encaixou. E foi numa partida quase perfeita que a alemã de 30 anos, atual #10 do mundo, bateu Serena Williams por 6/3 e 6/3 e conquistou o terceiro slam da carreira.

Kerber foi impecável no que faz de melhor e até nos aspectos mais vulneráveis de seu tênis. Alongou trocas de bola, defendeu-se brilhantemente e executou passadas quando precisou. Terminou o jogo com apenas cinco erros não forçados. Além disso, capitalizou onde mais precisava: o segundo saque de Serena. Ganhou incríveis 69% dos pontos nessas condições e quebrou o serviço da oponente quatro vezes – sempre que conquistou break points.

Enquanto isso, Serena entupiu sua coluna de erros não forçados – foram 24 ao todo – e deixou muito a desejar quando subiu à rede, vencendo 50% dos pontos na região e falhando em voleios não tão complicados. A americana também esteve mal nas devoluções. Errou demais e deixou de aproveitar o que Kerber tinha de mais vulnerável. Nenhum saque da alemã chegou sequer a 170 km/h. Sua média de segundo serviço foi de 124 km/h. Serena, num dia normal, faria estrago nas devoluções. Não foi o que aconteceu, e Wimbledon teve de coroar a outra grande campeã.

Coisas que eu acho que acho:

– Dizer que Serena Williams fez uma partida muito abaixo de suas possibilidades não é tirar mérito de Kerber. É, simplesmente, constatar o que aconteceu em quadra. A alemã fez o que precisou para conquistar o título. Mais exigida, talvez fizesse mais. Simples assim.

– Perder uma final de slam tampouco faz Serena menor. Como bem escreveu Jelena Djokovic, esposa de Novak, no tweet acima, "essa mulher incrível teve uma filha apenas um dia antes de eu dar à luz minha filha, dez meses atrás. Eu mal estou sobrevivendo assistindo, e ela está CORRENDO e jogando uma FINAL de grand slam. Apenas para colocar as coisas em perspectiva."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.