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Quem é quem e o que esperar das quartas de final de Wimbledon

Alexandre Cossenza

09/07/2018 17h07

Os quatro maiores nomes que entraram em quadra nesta segunda-feira, a chamada Manic Monday de Wimbledon, saíram vitoriosos. Roger Federer e Serena Williams, os principais favoritos, venceram em sets direitos e sem muitas dificuldades. Os dois continuam sem perder sets. O que precisa acontecer para que, nesta segunda semana de torneio, eles tenham mais trabalho? Quem são os principais desafiantes? No post de hoje, proponho um "quem é quem" das quartas de final, lembrando como cada um dos tenistas (quase) chegou até lá e o que pode acontecer de agora em diante.

Chave masculina

[1] Roger Federer x Kevin Anderson [8]

Quando a chave foi sorteada, escrevi que Roger Federer tinha caído na metade dos "sacadores". Sam Querrey, Kevin Anderson, Milos Raonic e John Isner estavam por perto. Depois de uma semana, isso se confirmou. O suíço chega às quartas depois de vitórias rotineiras em uma chave mais do que tranquila. Bateu Lajovic, Lacko, Struff e Mannarino sem perder sets e sem ter seu serviço quebrado. Aliás, ele não é quebrado há 81 games na grama de Wimbledon. O último a conseguir vencer no serviço de Federer foi Tomas Berdych, ainda no ano passado.

Para Kevin Anderson, a campanha significa sua terceira participação nas quartas de final de um slam – a primeira fora do US Open, onde é o atual vice-campeão. Como escrevi há pouco, Anderson é o estereótipo do veterano alto (32 anos, 2,03m de altura), com saque potente e que bate forte e reto na bola. E a maioria desses veteranos vem conseguindo desempenhar em nível mais alto com mais frequência (vide Cilic, Isner e Querrey) ultimamente. Especificamente sobre o duelo com Federer, o dilema do sul-africano é que o suíço não costuma ter tantos problemas assim com sacadores – nem em Wimbledon. Mas promete ser um jogo interessante. Certamente, será o primeiro obstáculo de verdade para Federer este ano.

[13] Milos Raonic x John Isner [9]

Olha os outros sacadores aí. Milos Raonic, último a derrotar Roger Federer (um Federer lesionado, é verdade) em Wimbledon, desistiu de Queen's por causa de um problema muscular, mas parece em forma no All England Club. Passou, é bom que se diga, por uma chave tranquila. Bateu Broady, Millman, Novak e McDonald. É justo dizer que Isner será seu primeiro teste de verdade.

Assim como Raonic poderia ter encarado Marin Cilic, John Isner estava na chave de Grigor Dimitrov, que tombou na estreia, e Stan Wawrinka, que caiu na segunda rodada. Com isso, o americano duelou com Maden, Bemelmans, Albot e Tsitsipas. Jogou cinco tie-breaks (venceu três) e só foi exigido mesmo na partida de cinco sets contra Bemelmans. Disparou 134 aces, acertando 77% de primeiros serviços e ganhando 83% dos pontos com eles. Pelo que ambos fizeram no torneio, é difícil apostar num favorito aqui. Os números de Wimbledon e o histórico de confrontos (3 a 1 para Isner, com sete tie-breaks jogados em nove sets) sugerem um leve favoritismo para Isner.

[12] Novak Djokovic x Kei Nishikori [24]

Fora Roger Federer, Novak Djokovic foi quem jogou o tênis mais consistente desde a primeira rodada em Wimbledon. Passou por Sandgren, Zeballos, Edmund e Khachanov com competência e, se não foi dominante com o serviço como o suíço, fez a diferença com a devolução. O grande obstáculo mesmo foi Edmund, que jogou um grande primeiro set e teve torcida a favor. Nole lidou bem com tudo isso e segue favorito para chegar à final.

Kei Nishikori, por sua vez, ganhou o duelo dos combalidos com Ernests Gulbis nesta segunda. Administrando dores no cotovelo, o japonês viu o letão cair de mau jeito e lesionar o joelho durante o tie-break do terceiro set. Não dá para dizer em que condições Nishikori vai estar, mas ele certamente está escalado no papel do azarão contra Djokovic.

[5] Juan Martín del Potro / Gilles Simon x Rafael Nadal [2]

O "quase" do fim do primeiro parágrafo se justifica aqui. Depois de três sets longos, Juan Martín del Potro e Gilles Simon tiveram seu jogo de oitavas de final suspenso. O duelo recomeça amanhã com o argentino liderando por 2 sets a 1: 7/6(1), 7/6(5) e 5/7. Estava sendo um teste físico para ambos. Simon pediu massagem na coxa esquerda. Del Potro também recebeu atendimento médico. E quem ganhar vai enfrentar um cidadão que não para de crescer no torneio. Não vai ser fácil pra nenhum dos dois.

Do primeiro jogo até a vitória desta segunda sobre Jiri Vesely, Rafael Nadal evoluiu bastante na grama. Se eu tinha dúvidas sobre até onde ele chegaria no torneio, a chave ajudou, tirando de seu caminho grandes sacadores nas primeiras rodadas. Bicampeão de Wimbledon e finalista cinco vezes, o espanhol conseguiu ganhar ritmo e chegou às quartas pela primeira vez desde 2011. Agora, será muito mais duro de bater do que na primeira semana. Del Potro foi sua vítima no US Open/2017 e em Roland Garros/2018. A grama favorece o saque do argentino, mas também exige mais de sua movimentação. Pode ser o melhor jogo das quartas. No caso de virada de Simon, acho que o favoritismo de Nadal será grande.

Chave feminina

Dominika Cibulkova x Jelena Ostapenko [12]

Dominika Cibulkova é o nome mais intrigante das quarta. A eslovaca, lembremos, seria a cabeça de chave 32 antes de Wimbledon decidir incluir Serena na lista de seeds. A diminuta Dominika (1,60m de altura), então, precisou navegar por uma chave que tinha Alizé Cornet, Johanna Konta, Elise Mertens e Su-Wei Hsieh (a algoz de Simona Halep). Pois não só derrubou duas cabeças de chave como alcançou as quartas sem perder sets. É o caso típico de tenista que vai bem em Wimbledon porque se movimenta muito bem na grama, algo que não é natural para todo mundo (já fez quartas em 2011 e 2016).

E Cibulkova vai precisar disso para se defender das pancadas de Jelena Ostapenko, que já repete as quartas de final do ano passado no All England Club. A letã, que não perdeu sets, teve uma chave mais acessível, com Dunne, Flipkens, Diatchenko e Sasnovich. Não encarou nenhuma cabeça de chave no que seria uma seção duríssima com Kvitova e Sharapova, que decepcionaram. Em nome da consistência, eu colocaria minhas fichas em Cibulkova aqui, mas sua margem não é tão grande assim. Tudo pode acontecer quando Ostapenko entra numa quadra de tênis.

[14] Daria Kasatkina x Angelique Kerber [11]

A julgar pelo seu ranking, Daria Kasatkina não fez nada de espetacular em Wimbledon, mas derrotou uma Ashleigh Barty que foi campeã na grama de Nottingham e uma Van Uytvanck que vinha de eliminar Garbiñe Muguruza. E fez isso do fundo de quadra, movimentando-se bem e distribuindo passadas. Com 1,70m de altura, é mais uma a provar que há espaço para "baixinhas" em Wimbledon – embora nenhuma delas tenha conquistado o título no passado recente. A última campeã de Wimbledon com menos de 1,75m foi Martina Hingis (1,70m), em 1997.

Angelique Kerber, com 1,73m, entra neste grupo. A alemã foi vice em Wimbledon em 2016 e, em 2018, é a última top 10 viva no torneio. Pelo currículo e que jogou até agora (bateu Zvonareva, Osaka e Bencic), pode ser considerada a favorita na metade de cima da chave. O porém é que a temporada 2018 de Kerber vem sendo recheada de campanhas que começam promissoras, mas terminam em decepção. Foi assim na Austrália e em Roland Garros, onde foi superada por Simona Halep e foi assim também em Indian Wells, onde, após bater Makarova, Vesnina e Garcia, tombou diante da mesma Kasatkina que vai enfrentar agora. O histórico de duelos entre elas aponta equilíbrio (3 x 3), e o último encontro, em Eastbourne, só foi decidido no tie-break do terceiro set. Difícil prever algo aqui.

[20] Kiki Bertens x Julia Goerges [13]

Kiki Bertens sempre disse que não conseguia jogar tênis do seu jeito na grama. A holandesa se considera uma especialista em saibro e nunca havia passado da terceira rodada em Wimbledon. De repente, este ano, derrubou Venus Williams e Karolina Pliskova para chegar às quartas. Tudo bem que americana e tcheca já não vinham fazendo uma grande temporada, mas Bertens aproveitou a chance. Ela acredita que pode jogar de maneira ainda mais agressiva e diz que precisa aprender a aceitar jogar com menos margem e errar mais na grama.

Pois Bertens vai ter outra chance de fazer isso contra Julia Goerges, alemã de tênis agressivo e que, quando encaixa uma boa sequência, é difícil de derrubar. No entanto, sua presença nas quartas não deixa de ser uma surpresa. Goerges, afinal, perdeu na estreia em Wimbledon em 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. Quebrou a série de seis anos sem vencer derrubando gente como Puig, Strycova e Vekic. Alcança as quartas de um slam pela primeira vez na vida. Bertens parece a favorita aqui.

[25] Serena Williams x Camila Giorgi

A metade "agressiva" da chave feminina termina com Serena Williams favoritíssima como sempre. Até agora, tirando a vitória contra Mladenovic, a americana passeou no torneio. E isso inclui a vitória desta segunda sobre Evgeniya Rodina por 6/2 e 6/2.

Até agora, nada parece sugerir que Camila Giorgi tem uma chance boa. Ou melhor, quase nada. A italiana já conseguiu grandes zebras aqui e ali. Contra Serena, porém, nunca venceu um set – em três jogos, sendo um em quadra dura e dois no saibro.

Coisas que eu acho que acho

– Não tem grande relevância devido ao contexto, mas vale o registro pela curiosidade: Serena Williams se tornou a quadrifinalista de pior ranking na Era Aberta em Wimbledon. A "recordista" anterior era Mirjana Lucic-Baroni, #134 do mundo em 1999. Serena, hoje, é a número 181 do ranking da WTA.

– Muito mais relevante: Serena chega à arca de 90 vitórias em Wimbledon. Ela perdeu apenas 10 jogos no torneio em toda a carreira.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.