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Saque e Voleio

Experiência levou Rafa Nadal a seu 11º título em Roland Garros

Alexandre Cossenza

10/06/2018 12h44

Nem o mais jovem nem o mais rápido dentro de quadra. Tampouco o dono dos forehands mais violentos neste domingo, em Paris. Muito menos o autor dos saques mais potentes na Philippe Chatrier. Rafael Nadal, contudo, era o mais experiente, o decacampeão, o favorito.

Com 32 anos comemorados há uma semana, fez valer tudo isso. Na final contra Dominic Thiem, foi também o tenista mais inteligente. A execução perfeita de seu plano de jogo fez diferença, claro. Porém, Nadal desenhou seu jogo para exigir o máximo do adversário. O austríaco, 24 anos e #8 do mundo, precisaria ser perfeito. Mais do que isso: perfeito por um longo período de tempo. Reside aí o maior obstáculo de encarar Rafa Nadal no saibro.

Não basta ser brilhante, é preciso fazê-lo por três horas. Thiem nem foi espetacular nem manteve alto nível por tanto tempo. Primeiro, vacilou feio demais quando sacava em 4/5 no primeiro set. Errou três direitas excessivamente arriscadas e errou um voleio nada complicado. Foi quebrado de zero, perdendo o serviço na hora mais delicada.

Taticamente, Nadal entupiu o backhand rival com bolas altas e fundas. Thiem tinha dificuldade em achar espaço para atacar com sua direita. Quando conseguia, precisava arriscar e usar bolas anguladas para ser eficiente. O forehand de dentro para fora podia fazer a diferença hoje. O problema: Nadal tem o golpe ideal para sair desse dilema. Um forehand defensivo na cruzada, na corrida, cheio de top spin. Devolvia a bola alta no backhand de Thiem, "reiniciando" o ponto. É um golpe que Nadal faz com regularidade e consistência obscenas.

A experiência do decacampeão também ficou óbvia quando começou segundo set. Rafa foi inteligente para perceber o quanto a quebra abalou Thiem. Logo, atacou como o tubarão que sente sangue em sua proximidade. No embalo, venceu cinco games seguidos e colocou o rival abalado. Afinal, quem vira um jogo contra Nadal, no saibro, em Paris? Um set e uma quebra atrás, uma montanha para Thiem escalar. O austríaco teve uma pequena chance: um break point no 4/2. Nadal fechou a porta com uma curtinha seguida de um backhand. Foi, de fato, a última chance que Thiem teve de "voltar".

O azarão, é bom dizer, tentou várias coisas diferentes na partida. Devolveu saques de forma agressiva, colado na linha – não deu certo. Deu passos para trás e também devolveu do fundão – não rolou. Arriscou bolas de baixa porcentagem para colocar Rafa Nadal na defensiva. Acertou algumas, errou o bastante para não deixar o favorito incomodado. Foi à rede, deu curtinhas, sacou forte ou com spin – nada. Nada foi o bastante para fazer o decacampeão mudar sua tática.

O único susto da tarde foi a cãibra em um dedo. Até nesse momento, Nadal fez valer sua maturidade e foi sentar. Parou no meio do game, antes de abrir uma nova fresta. Ficou assustado, mas foi atendido, voltou e confirmou o saque rapidamente. A cãibra não foi o bastante para frear o número 1. O 11º título deste Nadal, mais experiente e inteligente, era inevitável.

Coisas que eu acho que acho:

– Uma grande atitude vale mais do que um grande swing. A frase é do golfista Seve Ballesteros. Foi usando ela que Toni Nadal se referiu – antes do jogo – à final entre Nadal e Thiem. Ele acreditava que o sobrinho ganharia com sua experiência. "Em 2005, tive muita fé na juventude de Rafael. Hoje tenho fé em sua sonífera, ainda que sempre respeitável, experiência." Leia aqui.

– Onze títulos em um só slam? Apenas Margaret Court, nas décadas de 1960 e 1970 conseguiu (1960-66, 1969-71 e 1973). Impressionante.

– Ao todo, 17 slams. Considerando as ausências em vários torneios e as lesões que o tiraram no meio de outros, é outro número espetacular.

– Thiem venceu apenas nove games e nem dá para dizer que o austríaco jogou mal. Fez mais do que muita gente. Usou o plano B, atirou o plano C, o D e o E. Mas era Nadal, saibro, melhor de cinco, Roland Garros. Como já escrevi outro dia, é o maior desafio do tênis dos tempos atuais.

– Nadal chorou no seu 11º título em Roland Garros e foi aplaudido de pé por um looooongo tempo na Philippe Chatrier (parte desse momento está no tweet acima). Todos sabem o momento raro que testemunharam neste domingo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.