Topo

Saque e Voleio

Djokovic começa mal e tomba diante de azarão italiano após tie-break espetacular

Alexandre Cossenza

05/06/2018 14h22

No começo, parecia que um incômodo no pescoço seria responsável por uma derrota inesperada de Novak Djokovic em Roland Garros. O sérvio, no entanto, recebeu atendimento médico e começou a jogar melhor. Foi aí que ficou clara a ameaça do italiano Marco Cecchinato, que vivia momento inspirado, disparando foguetes de backhand e acertando curtinhas que tiravam o favorito de ação. O azarão, número 72 do mundo, até salvou três set points antes de abrir 2 sets a 0. Djokovic conseguiu reagir e parecia levar o jogo para o quinto set, mas vacilou outra vez e acabou eliminado por 6/3, 7/6(4), 1/6 e 7/6(11). Cecchinato, no torneio de seus sonhos, vai às semifinais de Roland Garros para encarar Dominic Thiem, que superou um esgotado Alexander Zverev.

Atual número 22 na lista da ATP, Djokovic viveu um pouco de tudo nesta edição de Roland Garros. Fez uma primeira rodada pouco brilhante contra Rogerinho; mostrou fragilidades na segunda fase, contra Jaume Munar; passou por um teste duro diante de Roberto Bautista Agut e mostrou solidez ao não dar chances a Fernando Verdasco. Cecchinato foi alguém que agrediu o sérvio com sucesso. Jogou com confiança e saiu de buracos – inclusive no tie-break, quando Nole sacou em 4/3, com a possibilidade de alcançar três set points. A coisa só começou a desandar para o italiano na terceira parcial.

Djokovic, é claro, teve muito a ver com a queda de rendimento do italiano. Campeão do torneio em 2016, o sérvio calibrou as devoluções, colou na linha de base e apostou que conseguiria ser agressivo sem dar muitos pontos de graça. Cometeu só cinco erros não forçados no terceiro set. Enquanto isso, desenvolvia-se um início de processo de aboborização (explicação no pé do texto para os visitantes pouco frequentes no blog) de Cecchinato, que já não era nem tão preciso com os golpes e nem tão sólido mentalmente. O italiano, aliás, foi penalizado em um ponto no primeiro game do quarto set, após se ausentar da quadra quando não podia fazê-lo.

O favorito parecia rumar tranquilamente para o quinto set, mas vacilou feio quando sacou em 5/3 no quarto set. Abriu 30/0, mas cometeu seguidos erros até dar um break point ao italiano. Cecchinato aproveitou a chance com uma direita indefensável. A reação incendiou a Quadra Suzanne Lenglen, com fãs gritando os nomes de ambos. O italiano parecia ter readquirido a confiança de antes. A abóbora voltava a ser carruagem. Outro break point veio no 11º game. Desta vez, Cecchinato mandou um backhand na rede e perdeu a oportunidade. Djokovic forçou outro tie-break, e o que aconteceu em seguida foi espetacular.

Foi, possivelmente, o melhor momento de todo o torneio. Em uma série de pontos longos e espetaculares, Cecchinato e Djokovic trocaram set points e match points. O sérvio salvou três match points e teve outras três chances de fechar o set, mas não conseguiu convertê-las. No fim, na quarta oportunidade, o azarão finalmente completou a zebra com uma esquerda que passou alta pela rede e quicou no finzinho da quadra, enquanto Djokovic apenas olhava.

Coisas que eu acho que acho:

– Sabe quando a fada madrinha (ou Rumpelstiltskin, dependendo de sua relação com contos de fada) transforma uma abóbora numa carruagem? O processo contrário eu chamo de aboborização. É quando um azarão que faz um partidaço cai de nível e vê o favorito tomar controle do jogo. A magia acaba, e o veículo volta a ser jerimum. Não confundir com "amarelar". É bem diferente.

– Djokovic pagou obviamente pelo péssimo game que jogou quando sacou para fechar o quarto set. Ainda protagonizou lances lindos no tie-break, mas o nível de tênis de Cecchinato também estava nas alturas. No fim das contas, acho que mais pesou na "conta" para Nole hoje foi o começo ruim. Quando o adversário está inspirado nesse nível, não dá para perder dois sets já de cara.

– A campanha dos sonhos de Cecchinato em Roland Garros fez muita gente desenterrar a notícia de que, em 2016, o italiano foi condenado em seu país por manipular resultados. Ele, de fato, foi suspenso pela Federação Italiana de Tênis por 18 meses. O que nem todo mundo resgatou é que Cecchinato apelou da decisão e foi inocentado pelo comitê olímpico de seu país. Ele nunca foi punido pela Federação Internacional de Tênis (ITF) nem pela Unidade de Integridade do Tênis (TIU).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.