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Saque e Voleio

Monstro e médico: Zverev leva seu Jekyll e seu Hyde às oitavas de Roland Garros

Alexandre Cossenza

01/06/2018 12h25

Número 3 do mundo e cabeça de chave 2 em Roland Garros, Alexander Zverev se viu em apuros mais uma vez. Depois de virar e vencer em cinco sets na segunda rodada, o alemão de 21 anos encontrou problemas com o bósnio Damir Dzumhur, #29 do ranking, nesta sexta-feira, pela terceira rodada do torneio francês. Salvou match point e venceu por 6/2, 3/6, 4/6, 7/6(3) e 7/5, mas não sem antes dar exemplos do melhor e do pior Zverev.

Em momentos – geralmente depois de um bom saque ou de um winner do fundo de quadra – Zverev parecia o campeão confiante de Madri, exibindo até uma certa arrogância, típica de jovens talentosos e que acham que podem ganhar de quem for na hora que quiserem. Em outros – especialmente nos muitos erros junto à rede – o alemão mostrava a cara confusa de um J.R. Smith no zerar do cronômetro. E não foram poucas cenas assim.

Foi desse jeito, como se mudasse de personalidade a cada ponto, que Zverev, em cinco sets, venceu 29 pontos nas 67 vezes que foi à rede. Um aproveitamento pífio de 43% contra um adversário que: 1) não vivia uma jornada tão boa assim; e 2) não é nenhum McEnroe junto à rede. E essa estatística incluiu todo tipo de falha. Voleios fáceis, bate-prontos, contra-voleios, bolas em que o adversário alcançou uma curtinha, lances em que o alemão teve de correr para alcançar um drop shot, etc. e tal. Não foi bonito. Muito mais Mr. Hyde do que Dr. Jekyll.

Por outro lado, se foi "monstro" para se colocar em buracos com 73 erros não forçados (quase 15 por set!), Zverev também foi o "médico" para curar-se da autoflagelação. Seja com belos saques para salvar break points ou com curtinhas perfeitas para sair de um 0/40 num 4/4 do quarto set. O número 3 do mundo venceu as parciais mais apertadas, teve sangue frio quando precisou, e isso precisa ser bastante reconhecido.

A grande questão aqui, para mim, é que esses erros todos não são só consequência de um dia ruim de Zverev. O maior problema foi o alemão ter jogado errado, sem uma estratégia aparentemente definida. A impressão que dá – jogo após jogo – é que o número 3 do mundo entra em quadra acreditando que seu saque e seu peso de bola vão resolver o problema. Contra Lajovics e Dzumhurs, resolveram, mas não é com esse tipo de jogo que Zverev tem que se preocupar.

Para vencer algo grande – não falo só de Roland Garros – , será preciso lidar com Nadal, Federer, Djokovic, Cilic, Thiem, Dimitrov, Nishikori, Kyrgios, Del Potro, Fognini… Todo tipo de oponente. Zverev ainda tem muito a melhorar na sua leitura de jogo e nos ajustes táticos. Quando isso acontecer e ele entender que não precisa arriscar tentas bolas de baixa porcentagem, aí sim será complicado parar o alemão – seja ele médico ou monstro.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.