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Saque e Voleio

A lei das probabilidades finalmente puniu Ostapenko

Alexandre Cossenza

27/05/2018 15h39

A campanha que levou Jelena Ostapenko ao título de Roland Garros no ano passado foi das mais incríveis dos tempos recentes. A letã, nascida em 8 de junho de 1997 (dia do primeiro título de Guga em Paris), terminou as duas semanas somando 299 winners e levantando o troféu após deixar pelo caminho Louisa Chirico, Monica Puig, Lesia Tsurenko, Samantha Stosur, Caroline Wozniacki, Timea Bacsinszky e Simona Halep.

Imprevisível e, acima de tudo, improvável. Uma menina de 1,77m, sem títulos grandes no currículo, #47 do mundo e dando tiros para todos os lados, jogando um tênis agressivo ao limite e limpando todas as linhas das quadras. Não bastasse isso, perdia o terceiro set da final contra Halep por 3/1 antes de vencer cinco games seguidos, numa sequência de tirar o fôlego.

Não dá para jogar assim no saibro, o mais lento dos pisos, e não pagar um preço. O que Ostapenko fez foi desafiar as probabilidades e, incrivelmente, vencer. Mas quem consegue acertar tantas bolas com tanta precisão por tanto tempo? A letã que entrou em quadra este ano, com a pressão adicional de, pela primeira vez na vida, defender um título de slam, deixou evidente o tamanho do obstáculo.

Logo na primeira rodada, cometeu 48 erros não forçados (o equivalente a 12 games – ou dois sets – inteiros) e deu adeus. Quem se deu bem foi a ucraniana Kateryna Kozlova, #66 do mundo, que fez 7/5 e 6/3 e levou para casa a cabeça da atual campeã. Talvez não precisasse ser Kozlova. Talvez não fizesse tanta diferença. Ostapenko joga "sozinha", atacando tudo, não importa quem está do outro lado da rede.

E nem dá para dizer que Ostapenko não teve chances. No intervalo entre os sets, Kozlova pediu atendimento no pé esquerdo. Nesse momento, foi possível ver uma enorme bolha no calcanhar esquerdo da ucraniana. A campeã podia ter atacado menos, trocado mais bolas, forçado a rival a se movimentar mais e, claro, sentir mais dor por causa da bolha.

Ostapenko, contudo, continuou atacando como um gamer desesperado apertando quatro botões ao mesmo tempo. Só que a letã não é gamer e não teve a sorte de dar "pause" acidentalmente. Seguiu em sua pancadaria, mesmo num dia ruim, fazendo subir aquela barrinha na coluna de erros não forçados. Abriu 2/0 no segundo set, mas logo perdeu a vantagem. No fim, os 48 erros pareciam 148. Foi a primeira grande zebra do torneio, mas uma zebra que todos esperavam. A lei das probabilidades finalmente cobrou seu preço.

Coisas que eu acho que acho:

– A chave feminina perdeu três cabeças de chave na mesma seção: Ostapenko, Venus Williams e Johanna Konta. Quem sobrou? Victoria Azarenka, que ainda não estreou. A única cabeça que ela pode ter que enfrentar no caminho até as oitavas é a tcheca Barbora Strycova, #26 do mundo. Será?

– Coincidência curiosa, apontada por Christopher Clarey, do "New York Times", no tweet acima: nos últimos quatro slams, a tenista que defenderia o título não venceu um jogo sequer.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.