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Saque e Voleio

Curtinhas de Brasília e notinhas de viagem

Alexandre Cossenza

14/05/2018 00h55

Chega ao fim minha viagem a convite do Instituto Sports pelos Futures de Rio Preto, São Paulo e Brasília – todos com patrocínio do Santander por meio da Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Foram 21 dias agitados, de muito calor (nenhum rain delay!), com muitas conversas, entrevistas deliciosas de fazer, jogos ótimos de ver e muito aprendizado.

Neste domingo, meu último dia (o circuito segue com o Future de Curitiba), Oscar Gutierrez conquistou o título de simples na capital ao derrotar Marcelo Zormann por 6/2 e 6/2. No post de hoje, trago as já tradicionais curtinhas sobre a semana.

– Sem dúvida, o nome da semana foi Paulo André Saraiva dos Santos. Menino de Brasília, que teve seu primeiro contato com o tênis aos 11 anos, graças a um projeto social. Filho de pai pedreiro e mãe diarista, encordoa raquetes para ajudar a pagar as contas e recebe ajuda de muita gente. Neste Future, conquistou seu primeiro ponto no ranking mundial. Bati um papo com ele e publiquei na quinta-feira. Leia aqui.

– Paulo André curtiu o momento. Deu várias entrevistas (entre eles, Correio Braziliense e TV Globo), treinou normalmente e ainda fez uma boa apresentação contra Christian Lindell, cabeça 1 do torneio, nas oitavas de final. Empolgou a torcida, que lotou o espaço em volta da quadra. No fim, Lindell, sueco nascido no Rio de Janeiro, acabou vencendo por 6/3 e 6/0.

– Registro brilhante do fotógrafo João Pires. Nas viradas de lado, Paulo André sentava e lia algumas anotações. Entre elas, "saltar no saque", "paciência" e "competitivo todo tempo". Confira nos cliques abaixo.

– João Pires cobre tênis há 38 anos e é um dos profissionais mais respeitados e queridos do meio. Está sempre bem humorado (até quando tem duas câmeras roubadas num torneio), tem ótimas histórias para contar e é uma pessoa generosíssima. Aproveito o "gancho" das imagens acima para lembrar da entrevista que fiz com João e publiquei na última semana. Ele conta casos divertidos e fala de como a fotografia e o tênis mudaram ao longo dos anos. Aposto que vocês vão gostar de ler. Cliquem aqui.

– Outro encontro legal foi com Antonio Lindoso, técnico de Paulo André Saraiva. O profissional falou das dificuldades de trabalhar com o alto rendimento, lembrou de quando Paulo André começou a treinar sob sua tutela e contou histórias da evolução do jovem.

– A cena que mais me marcou durante a semana foi Igor Marcondes sentado, sozinho e de cabeça baixa, em um gramado afastado das quadras. O paulista havia acabado de perder na primeira rodada para Christian Oliveira e sentiu duramente a derrota. Primeiro, conversou com Ricardo Siggia. Depois, ficou sozinho um tempo, absorvendo o resultado ruim. Dói ver cenas assim. Dói porque elas são raras. E dói mais porque Marcondes não sabe o que vai fazer daqui a um mês se não conseguir dinheiro para seguir viajando. E dói mais ainda porque o circuito está cheio de gente com mais dinheiro, menos esforço e se importando pouquíssimo para suas derrotas.

– Thiago Wild foi eliminado na primeira rodada por Carlos Eduardo Severino. Dois pontos importantes sobre o jogo: o primeiro foi a inconsistência de Wild. Nuns momentos, brilhante. Em outros, afobado e impreciso. Abriu 3/0 nos dois sets. Perdeu ambos em tie-breaks. O outro detalhe foi a cabeça fria de Severino depois de perder três match points seguidos. Ainda mais após o que aconteceu na semana anterior. Em São Paulo, ele também perdeu três match points. Lá, porém, cedeu a virada a Rafael Matos e abandonou quando perdia o terceiro set por 6/5 e 40/15.

– Aliás, vale lembrar: ao conquistar o título em Rio Preto, Wild disse que o mais importante era a constância. Jogar bem várias semanas, o ano inteiro, "é mais importante do que fazer um título e três primeiras rodadas" (leia aqui). Por enquanto, o paranaense tem um título (Rio Preto) e duas derrotas seguidas (São Paulo e Brasília). Ele não deve estar nada satisfeito, embora tenha levantado o troféu de duplas em Brasília ao lado de Tomas Etcheverry.

– Ainda sobre Wild: ele assinou com a Octagon para gerenciar sua carreira. No Brasil, será representado pela Koch Tavares.

– Não poderia haver lugar melhor do que o Clube do Exército para a realização do torneio. As quadras são boas e, por sua disposição, é fácil acompanhar vários jogos ao mesmo tempo. É perfeita, aliás, a espécie de plataforma que existe entre as quadras Central e 2. Com alguns passos, você sai da beira de uma quadra para a beira da outra.

– Ganhei duas aulinhas sobre Lei de Incentivo. Uma de Gilmar Machado, manager de Orlandinho, que recentemente aprovou um projeto para captar cerca de R$ 250 mil para o atleta em um período de seis meses. Gilmar explicou o procedimento, que pode ser feito por qualquer um. Publicarei em breve no blog.

– A segunda aula foi cortesia de Karla Cândido, do Ministério do Esporte. Conversamos no sábado, no Le Club Accor Hotels Vip Lounge, e aprendi um bocado tanto sobre procedimento quanto sobre os critérios adotados pelo Ministério para aprovação de projetos. Compartilharei essas informações em breve aqui no Saque e Voleio.

– O clube, como todo, é excelente. Campos de futebol, piscina, quadras de beach tennis, mais quadras de saibro cobertas e outras quatro quadras de piso duro que pareciam ter sido finalizadas há poucos dias. Difícil encontrar lugar melhor para praticar e ver a modalidade.

Coisas que eu acho que acho:

– Sobre a curtinha a respeito de Marcondes, sei que vai ter gente dizendo "que bobagem, acontece com todo mundo", "a vida é injusta mesmo", etc. e tal. Não, ninguém me disse que a vida é justa, mas vou continuar me comovendo com momentos assim no dia a dia. Para mim, tênis é mais do que resultados, placares, troféus e prize money. Tênis é um esporte de pessoas que agem e reagem. É uma modalidade em que personalidade e caráter fazem muita diferença. No dia que eu deixar de me sensibilizar com certos gestos e momentos, também deixarei de blogar.

– Vale observar que as últimas semanas foram bastante produtivas para jovens brasileiros. Além dos títulos de Wild e Matos no Brasil, João Menezes venceu dois Futures em Abuja (Nigéria), Jordan Correia foi campeão no Cairo na semana passada, e Felipe Meligeni levantou o troféu desta semana, também no Cairo (Egito). Ele bateu Orlandinho em dois tie-breaks na decisão.

– Raramente faço comentários deste tipo, mas vou registrar porque a semana de Brasília foi especial neste sentido. Muitos (mesmo!) leitores do blog apareceram no Clube do Exército, deram um alô e trocaram algumas palavras comigo. Foram dias muito bacanas para mim.

– Ainda no tema, deixo um alô especial para o Luís Henrique Bogado, grande fã de Roger Federer, que apareceu uma noite lá no torneio. Não só foi extremamente simpático comigo como conseguiu uma quadra para batermos uma bolinha na manhã do sábado. Conhecer pessoas assim é uma das coisas mais gratificantes de manter um blog no ar há 11 anos, não importa se para 30 ou 300 mil leitores mensais.

– Outra notinha pessoal: o bom de cobrir uma sequência de torneios com listas de jogadores quase iguais é poder mostrar – especialmente aos tenistas mais jovens – que você não está ali para ouvir conversas dos outros, criar polêmica ou prejudicar ninguém. Jornalistas e atletas (de qualquer esporte) podem conviver tranquilamente e desenvolver relações de respeito e amizade, desde que um saiba o papel do outro. Quando não há técnico ou assessor para dizer que o jornalista é inimigo, tudo fica mais simples para todo mundo.

– Em todos os posts sobre os Futures que publiquei nas últimas três semanas, escrevi que viajei a convite do Instituto Sports. Pois fica aqui meu muito obrigado à equipe do Instituto, que organizou três belos eventos em sequência e fará pelo menos mais três no segundo semestre. Além de competentes, me receberam como parte de uma família. Dividimos vans, Ubers, almoços, jantares, ideias, fotos e risadas. Conversamos sobre temas como futebol inglês, hospedagens em Buenos Aires, Palmeiras, uma dublagem de Rambo 2 e um pitoresco blog de tênis sobre viagens e paqueras. O time me ajudou em tudo que pedi e – importante dizer – ninguém impôs pauta alguma. Nem ao show do Catra, no último sábado, me forçaram a ir.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.