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Saque e Voleio

Por que o otimismo de Djokovic ainda não conquistou muita gente

Alexandre Cossenza

08/05/2018 06h00

Quem lê as declarações de Novak Djokovic após a vitória sobre Kei Nishikori na primeira rodada vê um sérvio animado, otimista, dizendo coisas como "não esperava um começo melhor" e que foi um "jogo ideal para ganhar confiança". E, vá lá, o resultado tem sua importância no papel. Nole derrubou um ex-top 10 e, afinal, voltou a vencer – o que hoje em dia não acontece com tanta frequência. É compreensível que ele comemore.

O problema é que o discurso não "casa" com as imagens. Quem viu a partida contra Nishikori sabe que o resultado desta segunda-feira vale mais ou menos o mesmo que a vitória de Thomaz Bellucci sobre o japonês na primeira rodada do Rio Open de 2017. O copo-meio-cheio mostrava um bom tenista voltando a conquistar um resultado grande. Era um esboço de uma recuperação na carreira que (ainda) não aconteceu.

O Nishikori de Madri não foi tão ruim quanto o do Rio, mas pouco faz diferença na análise geral. O que vi foi um Djokovic errático e inseguro mesmo diante de um adversário que vivia um péssimo dia. Ao fim de dois sets (22 games), o ex-número 1 acumulou 33 erros não forçados. Ou seja, 1,5 ponto dado de graça por game para Nishikori. E não é só isso.

É importante notar também o tipo de erro não forçado. Não estamos falando aqui do erro Federer-ataca-Nadal, aquele em que um tenista se defende tão bem que força o outro a agredir mais cedo nos pontos, buscando as linhas e reduzindo sua margem de segurança. Não. Djokovic errou bolas menos complicadas e deu muitos pontos de graça. Não foi a mais otimista das atuações, a não ser pelo fato de que veio uma vitória em um dia ruim.

E agora, enquanto espera o vencedor de Kyle Edmund x Daniil Medvedev, Nole terá um dia para treinar, calibrar seus golpes e dar outro passo adiante em sua já longa caminhada de recuperação.

Coisas que eu acho que acho:

– Outro número relevante para observar no tweet com estatísticas: dos 26 winners que Djokovic anotou, apenas seis vieram com seu backhand. E existe termômetro melhor para o sérvio do que sua esquerda na paralela? Quando ela está entrando, e Nole ataca com convicção, o mundo vê um outro jogador. Seis winners daquele lado ainda são muito pouco para quem "não esperava um começo melhor".

– Se você clicou no tweet acima, já viu o incrível erro de Djokovic ao tentar um smash colado na rede. No vídeo abaixo, em que fala espanhol, inglês e até deixa escapar um francês, o sérvio brinca com seu erro e diz que pode ter sido o golpe mais fácil de sua carreira (mas tudo bem quando a vitória vem).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.