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Saque e Voleio

A semana do saibro: campeões improváveis e pouco ameaçadores

Alexandre Cossenza

07/05/2018 07h00

A última semana teve três ATPs 250 e, quando isso acontece, especialmente quando esses sete dias caem entre um 500 e um Masters 1.000, aumentam as chances de resultados inesperados. Afinal, a semana distribui os principais nomes por três chaves. Costuma ser uma boa chance para os batalhadores conquistarem grandes feitos. O balanço desta vez? Títulos inesperados de Taro Daniel, em Istambul, e João Sousa, que triunfou em uma empolgada arena portuguesa em Estoril. Houve também, é claro, a conquista de Alexander Zverev em Munique – esta, sim, bem mais previsível.

Zverev, aliás, foi um dos três top 10 a jogar nesta semana, o que se justifica primeiro porque ele evitou a forte chave de Barcelona e depois porque era uma chance de atuar em casa, onde ele defendia o título. O resultado pouco diz além de confirmar o óbvio, que é o enorme potencial do jovem alemão. São poucos que ainda duvidam do talento do atual número 3 do mundo. A questão, agora, é saber quando ele vai começar a ir longe nos slams, e não é um título de 250 que vai mudar esse cenário.

A campanha de João Sousa foi, de longe, a mais legal da semana. Sim, o português já tinha dois títulos de ATP na carreira, mas vencer em casa, em Estoril, com uma quadra cheia e vibrante, foi um momento memorável e, sim, histórico: o primeiro ATP conquistado por um homem português em seu país. E nem dá para dizer que a chave era fraquíssima. Sousa passou por Kyle Edmund nas quartas, Stefanos Tsitsipas na semi e Frances Tiafoe na decisão. A gente já viu muito jogador "da casa" com mais talento ficando pelo caminho em chaves muito mais fracas, não? Está cheio de exemplo por aí.

Enquanto isso, em Istambul, Taro Daniel aproveitou a poção de vida extra que ganhou na incrível virada contra Rogerinho, nas quartas de final. O brasileiro esteve muito perto de fazer sua primeira semi de ATP na carreira. Abriu 4/0 e 40/30 no terceiro set contra o japonês, mas acabou tombando por 6/4. Daniel, então, bateu Chardy na semi e Malek Jaziri na final. Passou longe de ser a decisão mais esperada no ATP turco.

O ranking do saibro

O circuito chega a Madri com 2/3 dos torneios de saibro pré-Roland Garros e com a certeza de sempre: Rafael Nadal continua como favorito indiscutível ao título em Paris. O espanhol venceu os dois torneios mais importantes da terra batida e lidera o "ranking do saibro" com 1.500 pontos. A lista, que, no fundo, no fundo, não diz tanto assim, ainda tem no top 10 os seguintes nomes: Kei Nishikori (620 pontos), Alexander Zverev (610), Grigor Dimitrov (450), Stefanos Tsitsipas (435), David Goffin (360), Marco Cecchinato (315), Pablo Andújar (295), Richard Gasquet (290) e Dominic Thiem (270).

O nome a observar com carinho aqui é Tsitsipas, dono de um jogo solto, bacana de ver e que se beneficia do tempo adicional que o saibro concede antes de cada golpe (e que conquistou o amor eterno de Thiago Quintella, colega do Globoesporte.com). Não por acaso, bateu Thiem em Barcelona, onde fez a decisão contra Nadal. O grego surge como o nome-surpresa da temporada europeia de 2018 – todo ano aparece alguém assim, como escrevi neste post.

E se o ranking da terra batida ainda não diz muito, é possível fazer uma pequena leitura com base nesses oito torneios: o equilíbrio mostra que, fora Rafa Nadal, não há ninguém claramente superior ao resto. Trata-se de uma ótima notícia para o número 1 do mundo, que este ano ainda não precisou se preocupar com Federer, Wawrinka, Murray ou o nível de Djokovic.

Thiem, que no papel me parece a principal ameaça, foi facilmente batido pelo espanhol em Monte Carlo e decepcionou em Barcelona. Talvez o austríaco esteja realmente sentindo falta de uma sequência maior de torneios. Frequentemente criticado por um calendário cheio ao limite, Thiem sempre disse, afinal, que precisa de jogos para ganhar ritmo. Este ano, jogou menos e ganhou menos. Pode lhe fazer bem no fim do ano, mas certamente a lesão no tornozelo antes da temporada de saibro não ajudou.

Coisas que eu acho que acho:

– A semana foi doída para tenistas brasileiros. Em Istambul, Rogerinho esteve a cinco pontos de fazer sua primeira semifinal de ATP, mas perdeu uma vantagem incrível. No Challenger de Savannah, Guilherme Clezar teve 6/2 no tie-break do terceiro set contra o boliviano Hugo Dellien, mas perdeu seis pontos seguidos e a partida. Também em Savannah, Thomaz Bellucci teve 5/4 e dois set points contra Christian Harrison, mas fez duas duplas faltas. Perdeu por 7/5 e 6/4. Na WTA, Bia Haddad Maia sacou para o segundo set contra Sara Errani em 5/3. No game seguinte, teve um set point. Não aproveitou as chances e acabou eliminada no quali de Madri.

– Em compensação, três títulos de simples em Futures. João Menezes venceu em Abuja, na Nigéria, Rafael Matos levantou os troféus de simples e duplas (com Marcelo Zormann) em São Paulo (Sobre o torneio paulista, fiz um resumo aqui.), e Jordan Correia conquistou o evento do Cairo. Post atualizado às 9h20min, com a informação sobre Correia. Obrigado ao colega Felipe Priante, do Tenisbrasil, pelo lembrete.

– Eu queria ter visto mais do WTA de Praga para ter algo a falar sobre o desempenho de Petra Kvitova, que levantou o troféu em seu país. Cerca de ano depois de voltar às quadras após um longo processo de recuperação – Petra teve a mão esquerda seriamente lesionada em um assalto – ela fez esse emocionante discurso para seu público. A maior parte é em tcheco, mas me parece um caso daquele em que as imagens dizem tudo. Vejam abaixo.

– Kvitova, aliás, venceu a final em Praga no sábado e estreou em Madri já no domingo. Cansaço? Problemas de adaptação? Pois Petra, atual #10 do mundo, despachou a ucraniana Lesia Tsurenko por 6/1 e 6/2, rapidinho. Nada mau para quem talvez não conseguisse voltar a jogar tênis.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.