Topo

Saque e Voleio

Curtinhas de Rio Preto e outro papo com Thiago Wild, o campeão

Alexandre Cossenza

30/04/2018 02h32

O primeiro torneio da série Future realizado no Brasil em 2018 terminou com a confirmação de algo que já se falava no fim do ano passado: Thiago Wild é, no momento, o jovem de maior potencial do país. Aos 18 anos, tem um saque poderoso, uma devolução perigosíssima e uma autoconfiança louvável.

O paranaense, que começou a semana como #604 do mundo, terminou campeão sem perder sets e vai dar um salto de mais ou menos 80 posições no ranking. Dito isto, chega a hora de registrar algumas notinhas sobre o que aconteceu no primeiro Future brasileiro.

– O Brasil vive um período de tão raros torneios profissionais que todo mundo quer tentar a sorte nos poucos que são realizados. Em Rio Preto, o qualifying teve uma chave de 48. Para São Paulo, Future realizado nesta semana, houve mais de 80 assinaturas. Muita gente ficou fora.

– Falando em quali, chamou atenção o jovem João Hinsching, de 20 anos e 2,05m (!!!) de altura. Jogando o tempo quase todo no saque-e-voleio, furo o qualifying antes de perder na chave principal para João Lucas Reis da Silva. É um nome para observar. E ele é fácil de localizar nos eventos…

– Sobre João Lucas Reis: batemos um papo em um dos primeiros dias do torneio. Ele conta sua experiência, saindo de Recife para treinar no Instituto Tênis com Chico Costa, fala de suas ambições e lembra de quando enfrentou Denis Shapovalov em 2016. Leia aqui.

– Outra entrevista legal que fiz durante a semana foi com Thiago Alves, ex-top 100 que treina o adolescente Mateus Alves. Ele fala de transição, de como faltam referências para os jovens brasileiros e de por que leva seu pupilo para passar períodos treinando na academia do espanhol Galo Blanco. É um ponto de vista bastante interessante de alguém que está envolvido no que vem sendo o maior problema do tênis profissional brasileiro. Leiam aqui.

– Quem se beneficiou das condições de Rio Preto – calor, altitude e bola rápida (Wilson Championship) – foi o sueco-carioca Christian Lindell, que avançou até as semifinais. Só parou diante do argentino Camilo Carabelli, um jovem de 18 anos com porte físico de 25 e um tênis bastante sólido.

– Wild me pareceu possuir potencial maior que o resto da chave. Não por acaso, jogou sempre com certa margem. Mesmo quando viveu momentos ruins, recuperou-se rápido. Também gostei de ver como ele quebrou raquetes, tomou advertência por gritar um palavrão, mas não deixou que o nervosismo momentâneo afetasse seu rendimento em momento algum.

– Depois do título, em conversa com o Instituto Sports, mencionou como vem recorrendo à meditação em variados momentos. Quando erra um certo golpe, lembra-se do exercício mental e de como costuma fazer o mesmo golpe nos treinamentos e que não vê por que não fazê-los também durante os jogos. Segue abaixo meu papo rápido com ele após a final.

Quais você acha que foram os momentos-chave da semana? Você não perdeu sets, mas houve alguns momentos…

Não, não estive set abaixo, mas estive quebra atrás, set point atrás ontem, mas acho que não teve um momento-chave, um jogo que eu diga "agora, sim", mas acho que teve a minha constância. Eu estive muito constante a semana inteira, apesar de eu ter tomado uns breaks ontem e hoje, eu tive uma constância boa.

Não teve um momento em que você sentiu seu jogo melhorando?

Não, eu senti ele piorando (risos). Ontem [na semifinal contra Daniel Dutra da Silva], eu estava muito cansado. Não sei por quê. Às vezes você acorda e… Eu estava muito cansado, entrei mal na quadra, mas pensei "cheguei até aqui para perder? Não, né?" Tentei dar mais um pouquinho e chegar na final.

Hoje, você fez sete duplas faltas em três games, quebrou uma raquete e estava uma quebra atrás na final. Foi um momento relativamente importante, não?

Olha, foi importante, mas era um momento que… Poderia ser 6/3, 6/3 o jogo, de repente? Poderia, mas não foi, então se, se, se… São coisas que não aconteceram, então não tem o que falar.

É muito diferente a sensação de conquistar um segundo título?

No primeiro título, eu já vinha jogando bem. Vinha de uma sequência de torneios bons, tinha feito uma final, uma semi, boas vitórias. Agora, eu não vinha jogando bem. Não vinha tão firme, mas durante a semana eu fui ganhando confiança e acho que realmente estou me sentindo muito bem na quadra. Não sei se tão bem quanto da outra vez, por causa da sequência, mas estou com certeza muito confiante.

E a sensação de levantar o troféu?

Ah, todo troféu é especial. Nenhum é igual ao outro. Pode ser torneio interno, valendo nada, ou pode ser um grand slam. Ganhar é ganhar.

Você disse outro dia que não é uma semana boa que vai mudar muito sua vida. Que o mais importante é o trabalho do dia a dia ser bem feito. Nem o título muda isso?

Não.

Pelas suas declarações, você parece que não quer se empolgar demais por vitórias e resultados. E também não faz muito drama quando os resultados não são tão bons. O que precisa acontecer para você comemorar de verdade e fazer uma festa?

A constância. Ficar jogando bem várias semanas, o ano inteiro, igual foi o ano passado. É mais importante do que fazer um título e três primeiras rodadas.

Agora você vai jogar mais três Futures [São Paulo, Brasília e Curitiba] com chaves parecidas. Você já sabe o que pode fazer, já foi campeão aqui. Muda sua expectativa ou seus objetivos para os próximos torneios porque você ganhou um e sabe que pode ganhar outros?

Eu vim para cá já pensando "posso ganhar, sei que tenho condições de ganhar o torneio", mas assim como eu tenho condições, outros 15 na chave têm condições. O Danielzinho, o próprio Camilo [Carabelli], todos eles que chegaram nas quartas, ali, tiveram uma boa semana. Não é um jogo que vai dizer se você está bem ou mal, se você tem chance ou não. É o momento.

A impressão que eu tive é que você jogou com uma certa margem de folga porque sua bola anda mais, você tem mais jogo do que a maioria. Você sente isso também?

Eu não sei se "folga", mas "tranquilidade". Eu me coloco num estado mental de tênis muito tranquilo porque eu sei que tenho uma boa devolução e um bom saque. Em algum momento do jogo, eu vou ter uma chance. Eu não entro em desespero na quadra. Eu quebro raquete, eu xingo, mas não entro em desespero.

Quebrar raquete, para você, não é algo que signifique que você está descontrolado na quadra, né?

Não. É uma coisa que… Pô, não estou contente, estou puto… Eu vou lá… Não é bonito. Não é uma coisa que "quebrei uma raquete, que legal". Não. Não é uma coisa que ninguém se orgulha de fazer, mas é uma coisa que acontece. Querendo ou não, eu tenho 18 anos e é uma coisa que eu tenho que aprender a controlar. Mas não significa que estou perdendo a cabeça.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.