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Saque e Voleio

Thiago Alves: sobre técnicos mal pagos e jovens sem referência na transição

Alexandre Cossenza

27/04/2018 00h55

Thiago Alves pertence a dois grupos de raros brasileiros: o dos que chegaram ao top 100 do circuito profissional e o dos ex-top 100 que trabalham como treinadores de alto rendimento na modalidade. O rio-pretense, que encerrou a carreira de tenista em 2013, voltou brevemente às quadras nesta semana, quando disputou a chave de duplas do Future de São José do Rio Preto ao lado do pupilo Mateus Alves, de 17 anos.

Mateus, atual #47 ranking mundial juvenil, é uma promessas do país do momento. Cabe a Thiago, portanto, conduzi-lo no período que historicamente é o mais complicado para brasileiros: a transição para o circuito profissional. Aproveitei minha vinda a Rio Preto, onde estou a convite do Instituto Sports – organizador do torneio – para bater um papo com Thiago.

Ficamos meia hora sentados à beira da Quadra 1 do Harmonia Tênis Clube falando sobre muitas coisas. Thiago falou sobre os primeiros passos como treinador, falou das características que lhe ajudam na função e que falta reconhecimento – especialmente financeiro – a quem está trabalhando no tênis de alto rendimento.

Mas Alves falou, principalmente, sobre transição. Enfatizou que falta referência aos jovens brasileiros e que, por isso, Mateus passa por períodos de treino na Espanha. Não, o rio-pretense não acredita que o tênis brasileiro parou no tempo. Para ele, não se trata de estilo de jogo. O que nos diferencia da Argentina – sempre bom um parâmetro geográfico e econômico de comparação – é a falta de ex-tenistas envolvidos. Leiam!

Seu último jogo foi aqui, em 2013, no Harmonia. Você estava com 30 anos. Por que parar?

O que me desanimou foram a sequência de viagens e a falta de objetivo. Depois daquele confronto da Copa Davis contra os Estados Unidos [em fevereiro de 2013, os EUA derrotaram o Brasil por 3 a 2 pela primeira rodada do Grupo Mundial. Sam Querrey venceu o quinto jogo contra Alves por 4/6, 6/3, 6/4 e 7/6(3)]… No dia seguinte ao do jogo com o Querrey, eu falei "pô, e agora? O que vai me motivar a seguir jogando?" E eu não encontrei essa motivação. Eu voltei, não lembro quanto tempo fiquei aqui em Rio Preto, cancelei algumas viagens e, na sequência, estava indo para a Europa jogar o Interclubes alemão. Eu jogaria alguns Challengers também. No voo de ida para São Paulo, eu tive síndrome do pânico. Eu não estava a fim de sair de casa. Foi a única vez que senti na minha vida. Quando cheguei em São Paulo, eu não queria nem ingressar no avião. Conversei com algumas pessoas que me ajudaram e me acalmaram. Fui e consegui passar esse período lá na Europa, mas eu decidi que pararia no fim do ano. O Challenger de Rio Preto acabou sendo a última competição.

Lembra como foi sua primeira semana de aposentado?

Na verdade, eu não tinha total certeza se isso seria um período ou se seria uma coisa definitiva, tanto que eu não anunciei que aqui seria meu último torneio. "Vai que eu fico um tempo longe das quadras e me arrependo", entendeu? Aí acabei abrindo meu leque de opções. Meu pai tem uma empresa. Eu fiquei um mês sem querer fazer nada, vendo o que eu queria fazer, aí um dia eu acordei e falei "pai, eu vou para a empresa". Ele tem uma marmoraria há quase 30 anos aqui em Rio Preto. É uma empresa bem sólida. Aí eu acabei querendo ir para esse lado. Fui para a empresa, comecei a gostar, comecei a ver o outro lado da situação. Quando a gente é atleta, a gente é muito o centro das coisas. Tudo meio que anda ao seu redor. Tua casa, tua equipe… E quando você vai para uma empresa, as coisas mudam. O cliente é a sua prioridade. Foi onde eu aprendi. Tenho certeza que isso me ajudou muito na transição como treinador depois. Eu passei um ano e meio com meu pai. Nesse período, eu cheguei a trabalhar com tênis, com um garoto chamado Leo Andreoli, que foi meu primeiro aluno. Eu treinava só ele. Eu tenho certeza. Não era o Thiago que é hoje. Eu precisei desse tempo para realmente, depois, com o Mateus, com o Zormann, com toda a equipe… A gente tem que entender que eles são a prioridade. Eu consegui trocar bem esse chip. Isso ajudou bastante.

E o início como treinador mesmo foi quando?

Depois de um ano e meio, eu não consegui ficar longe do tênis. Recebi uma proposta do clube [Harmonia Tênis Clube, o mesmo onde Alves treinou durante boa parte da carreira] para montar uma equipe. Foi aí que eu resolvi realmente voltar e criar uma carreira como técnico. Antes, eu não estava com a ideia de fazer uma carreira, voltar a viajar e seguir. Meu foco era a empresa. Quando eu vim para o clube, as coisas começaram a andar de uma maneira diferente. O Matheus [Alves] treinava com o Edvaldo [Oliveira, ex-técnico de Thiago e técnico do Harmonia], mas o Edvaldo já não estava querendo tanto viajar. Aí o pai do Mateus veio conversar comigo e ocorreu essa energia nossa, de a gente estar junto até hoje.

O Edvaldo foi seu treinador durante muito tempo, né?

Durante um bom tempo, não! Quinze anos! Ele sempre foi meu porto seguro. Não foram 15 anos consecutivos. Minha relação com ele começou com 15 anos de idade. Fiz a pré-temporada de 15 para 16 anos com ele, em dezembro, e no meu segundo ano de 16, ele já viajou comigo para o circuito COSAT. Sempre no Harmonia. Nesse período, eu saí, voltei. Ele também. Nossa história tem muito vai-e-volta, mas ele sempre esteve presente na minha vida.

Qual é a melhor parte de ser técnico?

(risos) É difícil assim. Eu, hoje, consigo me satisfazer muito em cima dos meus atletas. Ontem, o Márcio [Carlsson] me perguntou se eu tinha vontade de jogar. "De jeito nenhum!"

Depois do jogo?

Não, antes do jogo mesmo. Ele até brincou, disse "se alguém botasse uma grana para você voltar, você voltaria?" Eu falei "de jeito nenhum". Acho que a melhor parte de ser técnico é quando você consegue se satisfazer com os seus atletas, sabe? Hoje, eu consigo, com toda essa veia competitiva que existe dentro de mim… Quando um garoto como o Marcelo, o Mateus, eles jogam e conseguem dar o melhor deles e lutar, eu luto com eles. Eu me satisfaço muito com isso.

A gente estava sentado um ao lado do outro ontem, e deu pra ver que você estava ali muito participativo no jogo.

Eu jogo muito junto. Eu tenho muita vontade de entrar na quadra quando eles estão jogando (risos). É isso aí.

Você é a favor de técnico dentro de quadra, como na WTA?

Sou a favor, sim. É difícil para o circuito porque infelizmente não são todos jogadores que têm condição de levar técnico para um torneio. Com isso, algumas pessoas levariam vantagem, mas também acho muito injusto você pagar para o cara, e o treinador não poder ajudar em nenhum momento durante o jogo. Eu acho o tênis um pouco ingrato em relação a isso. Não sei a fórmula correta para se adequar isso, mas acho muito ingrato um cara ter uma despesa tão alta com um treinador, de estar viajando num esporte individual, e o cara, durante o jogo, não pode ter nenhuma participação.

E a parte mais difícil de ser treinador? É ter que ficar fora da quadra? (risos)

É quando o atleta… Que você pede as coisas para ele, você cobra, e ele não consegue executar, sabe? A frustração de você trabalhar e não ser você que toma as decisões, entendeu? E você vê que muitas vezes ele toma a decisão errada. É muito difícil você se doar ao máximo, e o cara muitas vezes não reconhecer isso na hora do jogo e enfrentar aquilo. E a parte de ser treinador no Brasil é que o reconhecimento financeiro também é complicado. A gente faz isso muito por amor, e muitas vezes as pessoas não enxergam isso. A gente sabe muito bem que o tênis social paga muito melhor que o tênis competitivo. Não é a toa que a gente vê… quantos ex-top 100 ou ex-jogadores que estão realmente ligados no competitivo?

Eu ia chegar nesse assunto lá na frente… Uns oito anos atrás, o Thomaz [Bellucci] deu uma declaração em São Paulo, falando que o Brasil tinha pouco técnico. Rolou uma grande polêmica na época, mas o que ele estava querendo dizer, entre outras coisas, é que havia pouco ex-tenista envolvido com o alto rendimento. Hoje, o Kirmayr tem seu centro em Serra Negra, o Fino tem as palestras e as clínicas dele, e se a gente pensar, quem são nossos ex-top 100 no alto rendimento, viajando? Agora tem o André [Sá]… Ricardo Mello… Quem mais? E não são muitos por quê? Aí entra essa questão financeira que você fala…

Exatamente. Eu vejo assim: a gente não faz só pela questão financeira. É muito difícil para um ex-jogador, depois de 17, 18 anos no circuito, me dedicando e com aquela rotina, e que parei de jogar porque não aguentava mais viajar… Você cair no mundo viajando com um jogador… Você não tem estabilidade. Você sabe que o jogador pode mandar o treinador embora da noite para o dia. Você não tem essa estabilidade dentro da sua profissão. Não é você que toma as decisões, então você está muito vulnerável ao atleta. E, ao mesmo tempo, não se paga bem. Ou seja, o cara tem que ser um pouco louco (risos) para realmente vestir a camisa e estar todos os dias ali. O cara tem que ter algo a mais. Por isso que a gente tem que valorizar muito esses que estão a fim de realmente ingressar nisso aí.

Para mim, o que mais falta – não é porque estou fazendo isso agora, eu já falava antes – na nossa transição são ex-jogadores. Pode ter certeza. Por que a gente perde tantos jogadores do juvenil para o profissional? Porque nessa fase, você não ganha dinheiro. Nessa fase, você não consegue pagar. É difícil pagar bem um treinador. E é a hora em que a gente mais precisa. Dos 17 aos 21 anos, é uma fase muito crucial. Agora… Quantos garotos realmente, dos 17 aos 21, estiveram com treinadores que passaram por essa transição? Se a gente pegar para olhar, a gente vai ver que são muito poucos. Muito poucos. Primeiro porque não temos muitos jogadores que chegaram no top 100. Depois que não temos muitos jogadores entre os top 100. Aí fica complicada essa conta financeira.

Nós tivemos, durante muito tempo, um patrocínio muito forte da Confederação. Tivemos bastante verba, mas não direcionou muito para essa parte. Isso, na época, deveria ter sido diferente. A gente sabe que o orçamento [da CBT] hoje está muito menor, está mais difícil a situação, mas temos que nadar de acordo com a correnteza.

Você também acha que o tênis brasileiro parou no tempo? Que os jogadores continuam sendo treinados de maneira errada? Em uma conversa que eu tive com o Fino no ano passado, ele falou sobre como no juvenil tem muito técnico que treina jogador pra ganhar na base de bola alta, regularidade, etc. e que hoje não tem mais espaço para isso no circuito mundial. Você concorda com isso?

Eu não acho que o tênis parou no tempo. Eu vejo muita coisa errada, com certeza. A gente não pode falar que estamos num momento bom porque não tem nem dez top 400. A gente tem que imaginar que temos três ou quatro top 100, na minha concepção. O Bellucci; o Rogério está há muito tempo ali, brigando; Thiago Monteiro entrou e vai ficar ali; e temos o Feijão, que é um cara que eu sempre gostei muito e que está passando um momento diferente na vida pessoal dele. Depois, a gente tem uma lacuna grande. É onde não estamos tendo.

Desses que você falou, o Feijão tem 29, o Thomaz tem 30, e o Rogerinho tem 34. Só o Monteiro tem 23.

Exatamente. A minha geração – considero o Rogério, Thomaz e Feijão, talvez, a minha geração… Agora, depois disso, a geração que veio está muito comprometida. Se a gente for ver agora, o João Menezes vem se levantando, mas está se levantando na Espanha, na acadamia do Galo Blanco, que é a base do nosso projeto na Europa. Aí a gente vê o Orlando [Luz] patinando ainda, o Marcelo [Zormann], que está comigo, patinando, o Rafael [Matos] ainda patinando… Já são caras com 21, ou 22 anos que deveriam já estar nesse processo. Aí a gente olha e vê esses quatro moleques por muito tempo… Por que os quatro não entraram?

Nós temos que nos perguntar onde a gente está errando. Hoje, esses quatro estão cada um em um lugar. Não acho que é porque nós não treinamos ou que estamos treinando errado ou que o tênis está parado no tempo. Acho que falta referência para o tênis brasileiro. Esses quatro meninos treinavam juntos, não tinham referência. Eram os quatro o tempo todo. Acho que o que mais falta para nós é essa união no tênis. É difícil falar de união num país tão grande como o nosso, culturalmente nunca unido, sempre com pessoas jogando merda no ventilador, dando tira para tudo que é lado, e é confuso a gente pensar nessa união.

Não acho que a gente parou no tempo. Se a gente for pensar no tênis argentino, continua-se treinando spin alto, bola pesada… Continuam treinando desse jeito. Ou eu tô enganado? Você pega os jogadores argentinos, a maioria joga assim. Você pega Del Potro e talvez um Schwartzman, que ficam mais perto da linha, mas a maioria joga atrás ainda. E que jogador nosso que não tem esse estilo de jogo? Por que eles conseguem entrar e nós não conseguimos. Eles têm referências. Têm ex-treinadores viajando, tem top 50, top 60, ex-top 50 o tempo todo para treinar, e nós não temos. Por que estamos indo para a Espanha treinar no Galo Blanco? O Mateus foi passar três semanas lá agora. Por causa de questão de referência. Se o Mateus pudesse passar três semanas com o Rogerinho e o Thomaz, não precisaria ir para a Espanha.

Lógico que é diferente. A gente chega lá, o Galo é um cara que está trabalhando muito a transição com jogadores russos, que são caras do perfil do Mateus. Caras grandes, com mais de 1,90m, Khachanov [21 anos, #37 do mundo] e Rublev [20 anos, #31]. São caras que jogam muito mais dentro da quadra, estão buscando um tênis mais assim. Mas não acho que a questão seja muito cultural. Acho que a questão mesmo é falta de referência. Isso, para mim, é o principal.

Quando você fala que os quatro não tinham uma referência…

Uma referência profissional!

Se eles estão com 20 e tivesse um profissional com 22…

Ou 23. Se eles estivessem toda hora buscando entrarem, subir de nível… É isso que a gente está tentando fazer hoje com essa equipe que montamos. A gente vem levando eles para os torneios e para o Galo o tempo todo. O Mateus deixou de jogar o Banana Bowl para treinar no Rio Open. Para eles realmente terem referências. Se não for assim, eles ficam treinando da maneira deles, um puxa um pouquinho, o outro puxa um pouquinho… E essa régua? Onde está essa régua? Como é que a gente eleva a régua, se a gente não tem referência? Se os caras treinam entre eles, e eles acham que está bom, está bom! Não tem uma referência. Não vê um cara que é 30 do mundo, um cara que é 50… Por que a Tennis Route vem fazendo um bom trabalho? Porque eles têm referência. O Bellucci estava lá até o ano passado. Tem o Thiago [Monteiro], a Bia, o Demo, aí a molecada olha, vai vendo e tendo referências.A gente está tentando montar essa célula positiva aqui em Rio Preto também, com referências para tentar chegar em algum lugar. Se a gente não tem aqui um top 50, a gente tem que buscar. O Mateus precisa estar próximo, o Marcelo precisa estar perto de caras assim.

Isso era a ideia do Jorge Lacerda [ex-presidente da CBT] lá atrás, de fazer um centro de treinamento nacional e juntar todo mundo…

Com certeza. Tivemos uma Olimpíada e não conseguimos fazer um centro! Não tem jeito. Se você não tem referência e não tem quem puxar, fica difícil. E aí você pega e fala "mas nós tivemos o Guga que não tinha ninguém [como referência]", mas é achar uma agulha no palheiro.

O Guga não pode ser parâmetro para isso.

Exatamente. É uma agulha no palheiro. O Guga é um cara diferente. Se a gente quer fazer jogadores em série, como a Argentina faz, como a Espanha faz… Se você for ver, o Bellucci tinha como referência eu, Julinho [Júlio Silva], Bruno [Soares], Rogerinho… Ou seja, ele estava perto de nós o tempo todo. Os primeiros torneios de dupla dele foram comigo. Ele tinha uma referência também. De todos esses que a gente está falando, os top 50 que realmente ficaram, só Guga, Thomaz e Fino. Ricardo [Mello] chegou a top 50, Saretta chegou a top 50, mas não permaneceram. Thomaz passou muito tempo no top 50.

Como é essa parceria com o Galo?

Quando eu comecei a trabalhar com o Mateus, quando ele tinha 15 anos ainda, eu e o Bruno [Soares] já conversávamos muito sobre isso. Os garotos têm que crescer dentro de um ambiente propício. Na época, o Bruno começou a pleitear com a CBT para a gente [Thiago e Mateus] ir para Cincinnati. Fomos, ficamos no quarto com o Bruno, que cedeu espaço. Ele já vinha tentando fazer isso com o Jorge [Lacerda] há muito tempo, não sei se você lembra.

Lembro, claro.

O Bruno abriu, falou que poderiam viajar com ele. Ele já tinha essa ideia, então nós começamos a colocar em prática, eu e ele. Na primeira Copa Guga, apresentei o Mateus para o Guga e o Rafael Kuerten, e começamos umas conversas. O Hugo Daibert, que é o treinador do Bruno, começo a treinar o João Ferreira [hoje tem 17 anos, #76 do mundo no ranking juvenil], que estava top 50 até pouco tempo atrás. O Guga já vinha apoiando o Pepe Boscardin [hoje com 15 anos, já ganhou o apelido de "novo Guga"] e fazendo um trabalho com ele. Então, o Bruno e Hugo conversaram com o Galo Blanco para receber o Mateus e o João na academia dele. Isso porque o Galo vem fazendo transição muito bem. Ele não vem errando. Pegou o Raonic, já colocou o Khachanov e o Rublev, treinou o Elias Ymer por um tempo… A academia dele é pequena, ele gosta de fazer um trabalho exclusivo, mas ele abriu para a gente. E foram junto o Pepe Boscardin e o João Loureiro, que estavam com o Rico Schlachter. Conseguimos fazer a coisa andar para lá.

Isso vocês estão bancando ou ele abriu sem cobrar?

Não, a gente banca. Cada um tem seu patrocínio. Hoje, o Mateus tem os patrocínios dele… Quem vai… A academia do Galo não trabalha de outro jeito. Os meninos já foram para lá quatro vezes nesse período de um ano. Semana que vem, o Pepe Boscardin e o João Loureiro estão embarcando sábado para passar um mês inteiro. lá vem sendo a nossa base, a nossa referência. Por que estamos indo buscar lá? Porque não temos aqui. A gente não tem aqui! E a gente não tiver referência, vai ficar difícil. Por que o tênis americano contratou José Higueras para levar uma quantidade de treinadores para a USTA? Até o Léo Azevedo foi na época. Por que? Porque eles queriam mudar alguma coisa lá dentro. Queriam fazer os jogadores aprender a jogar mais no saibro. Eles levaram referências para dentro do país. O tênis lá é muito mais desenvolvido lá, mas eles queriam mudar a maneira de jogar. Então enquanto a gente não fizer um trabalho dessa maneira, de trazer jogadores e treinadores para estarem mais próximos e unir mais o que nós temos… Infelizmente, são dois aqui, dois lá, dois aqui, dois lá, e a coisa desanda. Acho que esse é o maior problema. E, querendo ou não, o tênis hoje é na Europa. É diferente.

Para terminar, qual a característica sua que você quer que todo jogador seu tenha?

Acho que o empenho na quadra. Essa determinação que eu sempre tive, a garra de estar lutando pelos pontos, pelo jogo, pela vitória… Acho que isso é o que eu tento mais passar para o Mateus. A gente é muito diferente em termos de postura. Muitas vezes eu passei do ponto também, na minha fase de profissional. Eu muitas vezes brigava, me perdia um pouco, me acelerava demais. Eu acho que o Mateus precisa acelerar um pouco, então essa combinação minha com ele vai achar esse equilíbrio entre nós dois. É isso que eu tento. E o Zormann também é mais o perfil do Mateus. Ele é quietão também.

Você estava falando ontem, durante o jogo, né? "Pô, fez um set, uma quebra, tem que vibrar" e tal…

Sim, sentir o jogo. Sentir os momentos do jogo. Você vê um cara igual ao Federer… Ele sente os momentos do jogo. É um cara quieto, tranquilo, mas sente o jogo. O Nadal, nem se fala. A energia que ele joga! Acho que essa questão é o que eu mais busco num atleta, sabe?

E uma coisa sua que nenhum atleta pode ter? Algo que você fazia ou fez alguma vez na carreira?

Acho que entregar jogo. Essa questão de entregar jogo, isso aí é… Eu entendo muitas vezes que o circuito é pesado, é difícil, mas é duro quando você está ali, está se dedicando, e o cara vai lá e entrega um jogo [Thiago não fala de manipulação de resultado, mas da falta de esforço]. Acho isso aí não deveria acontecer nunca.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.