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Saque e Voleio

Da luta de Ferrer às reações de Nadal, Copa Davis brilha em Valência

Alexandre Cossenza

08/04/2018 19h40

Uma plaza de toros transformada em quadra de tênis. Um país apaixonado por tênis e seus campeões. Um confronto com o número 1 e o número 4 do mundo. Jogos em melhor de cinco sets. Um veterano jogando em sua cidade. O confronto entre Espanha e Alemanha, válido pelas quartas de final do Grupo Mundial da Copa Davis, prometia muito desde sempre. E agora, que acabou, dá para dizer que cumpriu tudo. Cada minuto valeu intensamente para quem pagou ingresso ou ficou à frente de uma TV ou computador.

Valeu não só pelo retorno de Rafael Nadal, que continua invicto no saibro em jogos de Davis, mas pela torcida valenciana, que criou um ambiente glorioso, pelo dramático duelo de duplas do sábado, vencido por um time alemão que viu desaparecer uma vantagem de 2 sets a 0, e pelo rumo que o duelo tomou, terminando apenas na quinta hora do quinto jogo, no quinto set. David Ferrer, justo o tenista da casa, bateu Philipp Kohlschreiber por 7/6(1), 3/6, 7/6(4), 4/6 e 7/5 e deu a vitória para a Espanha.

Ferrer vale uma menção à parte. O ex-top 5, hoje com 36 anos, está longe de jogar seu melhor tênis. Na sexta-feira, foi rapidamente superado por Alexander Zverev (#4): 6/4, 6/2 e 6/2. Cinco anos atrás, escalá-lo no domingo seria quase certeza de vitória. Hoje, passa longe disso. O capitão Sergi Bruguera poderia ter mandado Roberto Bautista Agut (#17) para a quadra, mas não. Optou pela experiência de Ferrer. Foi all-in, acreditando que, jogando em sua cidade, o veterano sairia vitorioso. A aposta foi recompensada com uma atuação heroica.

Mesmo diante de um preciso e agressivo Kohlschreiber, Ferrer se sustentou como deu. Venceu o primeiro tie-break, venceu o segundo tie-break e teve até uma quebra de vantagem no quinto set. Kohlschreiber devolveu a quebra e conseguiu até um 15/40 com o espanhol sacando em 3/4. Ferrer se segurou até que o rival vacilou no momento mais sensível. Com o placar em 5/5 e "iguais", jogou uma direita na rede e errou um voleio. Foi a quebra final. Ferrer, mais subestimado do que nunca e tão lutador quanto sempre, mostrou mais uma vez seu valor. O ex-número 3 do mundo foi novamente um gigante de 1,75m de altura e fechou o jogo 4h51min depois do primeiro ponto.

E se todo mundo ficou na beira de seus assentos com tanto drama, quem viu pela TV pôde se divertir com as reações de Rafael Nadal, já que a transmissão oficial manteve uma câmera estrategicamente apontada para o número 1 do mundo. Rafa gritou, pulou, fez careta, sorriu, aplaudiu… Sem deixar dúvida para o planeta sobre sua dedicação à Copa Davis. Veja abaixo, entenda e, claro, divirta-se.

As semifinais e os playoffs

A França derrotou a Itália por 3 a 1 em Gênova e agora vai sediar o duelo de semifinais contra a Espanha. A outra semi será entre a Croácia, que bateu em casa o Cazaquistão por 3 a 1, e os Estados Unidos, que também fizeram valer o mando de quadra e superaram a Bélgica por 3 a 0.

Os playoffs, que decidirão quem disputará o Grupo Mundial em 2019, terão Argentina, Grã-Bretanha, Suíça, Austrália, Sérvia, República Tcheca, Canadá, Holanda, Japão, Hungria, Índia, Colômbia, Uzbequistão, Suécia, Áustria e Bósnia.

Os jogos serão de 14 a 16 de setembro, naquela data maldita que é logo depois do US Open e que costuma castigar os tenistas que vão longe em Nova York (é mais fácil culpar o formarto atual da Davis do que encaixar a competição em outras datas, aparentemente).

Coisas que eu acho que acho:

– A Copa Davis é espetacular por tudo que descrevi acima, mas é preciso admitir que esse Espanha x Alemanha foi uma exceção no Grupo Mundial. Teve os números 1 e 4 do mundo, foi numa arena fantástica, com um ambiente incrível e jogos disputadíssimos. Nem sempre acontece, e é justamente esse o argumento de quem quer mudar o formato da competição. Maaaaas essa costuma ser uma visão elitista, de gente de país rico que disputa o Grupo Mundial. Quem argumenta assim não vê as imagens incríveis de Argentina x Chile e não sabe da virada incrível da Índia em cima da China (com direito à 43ª vitória de Leander Paes!). Para cada EUA x Bélgica esvaziado no Grupo Mundial (e todos ATPs americanos perderam força – é um problema do país, não dos formatos dos torneios), há pelo menos um duelo vibrante em algum Zonal pelo mundo.

– Lleyton Hewitt, grande apaixonado pela Copa Davis e defensor ferrenho da manutenção do formato atual, esteve ativo no Twitter, perguntando se a ITF está falando sério e dizendo que a entidade está tentando destruir os confrontos em casa e fora o incrível ambiente da competição. O australiano até retweetou a entrevista do capitão da Alemanha, Michael Kohlmann, concedida no sábado sobre o ambiente do confronto. O alemão deu seu próprio recado para o presidente da ITF: "Saudações, Dave Haggerty. Isto é Copa Davis."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.