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Copa Davis: um guru, três desfalques e um intrigante Brasil x Colômbia

Alexandre Cossenza

06/04/2018 06h00

Há muito tempo, a equipe brasileira da Copa Davis não entrava para um confronto de Zonal Americano (uma espécie de segunda divisão) tão imprevisível e equilibrado – pelo menos no papel. E há uma série de elementos que fazem esse duelo particularmente interessante. Desde o retorno do ex-top 30 Santiago Giraldo (atual #290 do mundo), incluindo três grandes desfalques brasileiros e um confronto de duplas de altíssimo nível.

Brasil sem três nomes fortes

A equipe que viajou até Barranquilla não tem Thomaz Bellucci, Rogerinho e Bruno Soares. São três desfalques de peso. Bellucci, ainda que vivendo fase ruim, é o mais experiente simplista do país e tem um histórico muito bom em Copa Davis. Foi ele, inclusive, que tirou o Brasil do buraco contra a Colômbia em 2012, derrotando Alejandro Falla de virada na sexta-feira e completando o triunfo no domingo, quando superou Santiago Giraldo.

Desta vez, Bellucci preferiu privilegiar seu calendário pessoal. Rogerinho fez o mesmo – o que não é surpresa, considerando o tratamento que ele recebeu quando o Brasil enfrentou o Japão, em Osaka, no ano passado. Mas não é só isso. O paulista é hoje o #113 do mundo – posição que não lhe garante estar na chave principal de Roland Garros. Rogerinho precisa de pontos porque estar entre os 100 primeiros significa muito financeiramente. Hoje em dia, jogar os quatro slams significa embolsar mais de meio milhão de reais, mesmo com quatro derrotas em primeira rodada.

👀👉🏻🎾🇧🇷 Treinando duro por aqui ! @dmelo777 @edfaria54 – 📷matheujoffre – #daviscup

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Além disso, Bruno Soares já havia anunciado que estaria fora da Davis em 2018. Com a esposa grávida, o mineiro ganha algumas semanas de folga do circuito e passa mais tempo com a família. Somando isso tudo, o Brasil perde três de seus melhores tenistas. Em condições normais, todos seriam titulares.

Sem eles, restou ao capitão João Zwetsch escalar Thiago Monteiro, número 125 do mundo e vindo de seis derrotas seguidas no circuito, Guilherme Clezar (#234), Marcelo Melo (duplista #1 do mundo) e Marcelo Demoliner (#55 de duplas). Não é a escalação dos sonhos de nenhum brasileiro, mas era a melhor formação possível diante dos três desfalques.

O retorno pós-guru de Santiago Giraldo

Se os simplistas brasileiros não são garantia de vitória, a Colômbia tem seu próprio ponto de interrogação. E dos grandes. Santiago Giraldo, 30 anos, ex-top 30, poderia ser o nome da experiência para levar o time à vitória. Hoje, no entanto, o veterano é uma incógnita. Depois de afundar no ranking durante a maior parte de 2017, Giraldo encerrou a temporada em setembro e só voltou em março. Fez dois jogos – um no quali de Miami e outro no Challenger de Le Gosier – e perdeu ambos. O segundo desses reveses foi diante de Ante Pavic (#291), croata que venceu apenas dois em 11 jogos em 2018.

Há quem coloque a culpa pela má fase de Giraldo em sua relação com Pepe Imaz, ex-tenista espanhol que prega "amor e paz" e longos abraços. Se você leu o blog ontem, sim, estou falando do mesmo Pepe Imaz que ganhou fama como "guru de Djokovic". E se os boatos dão conta de que Boris Becker colocava em Imaz a culpa pela falta de dedicação do sérvio, há gente da imprensa colombiana que vê a mesma má influência sobre Giraldo (leiam isto, por favor). Coincidência ou não, os "sintomas" são os mesmos. Sérvio e colombiano falam em buscar felicidade, mostram-se passivos dentro de quadra e caíram de rendimento.

Sorteio ajuda o Brasil

Sendo 100% justo, não foi só o sorteio que foi bom para o Brasil. O atual ranking de Giraldo o coloca como número 2 do país e força um jogo contra Thiago Monteiro logo na sexta-feira. Por que isso é bom? Porque o cearense pode não estar numa boa fase, mas seu momento, mesmo com seis derrotas seguidas, é muito melhor que o de Giraldo. Não é nada improvável uma vitória brasileira nesse primeiro jogo, e se isso acontecer, Clezar entra com menos pressão para enfrentar Daniel Galan (#257) na sequência. O primeiro jogo começa às 17h de Brasília, com a segunda partida logo na sequência.

Dupla colombiana favorita

Pelo menos no papel, Robert Farah (#21) e Juan Sebastian Cabal (#18) levam vantagem. Jogam juntos há muito tempo e estão em casa. Marcelo Melo, que andou lesionado e perdeu os últimos três jogos ao lado de Lukasz Kubot, não tem o mesmo entrosamento com Marcelo Demoliner. Não que seja uma zebra gigante se mineiro e gaúcho surpreenderem, mas, em tese, a dupla da casa entra em quadra como favorita no sábado.

Brasil 🇧🇷 vs Colombia 🇨🇴 #daviscup

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A previsão

O único palpite que darei para o confronto é sobre o clima (e, mesmo assim, depois de consultar o Weather Channel): muita umidade e temperatura na casa dos 27 graus tanto na sexta quanto no sábado, com chance pequena de chuva. Ah, você achou que eu faria uma previsão do confronto? Tá difícil. Este Colômbia x Brasil é daquelas séries em que tudo pode acontecer nos cinco pontos. Porque se os donos da casa têm a dupla e o piso duro a favor, eles não sabem que Giraldo vai aparecer para jogar. E não custa lembrar que Clezar tem H2H favorável contra Galan (não é muito: 1 a 0) e que Marcelo Melo é um dos melhores duplistas do planeta.

Coisas que eu acho que acho:

– Escrevo há algum tempo que os problemas em convocações anteriores afetam as decisões dos jogadores. Na conversa que tivemos no Rio Open, o presidente da CBT, Rafael Westrupp, disse não acreditar que a relação com João Zwetsch fazia jogadores deixarem de defender o país. Pois Feijão, em entrevista ao Globoesporte.com, não deixou dúvidas. Criticou Zwetsch e disse estar "cagando" para a Davis após ser preterido em mais de uma convocação.

– Será que Rogerinho pensaria diferente e defenderia o país se não tivesse sido deixado de lado – e sem satisfação – por Zwetsch antes da Davis contra o Japão?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.