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Título de Isner é nova evidência de que a '#NextGen' segue no fim da fila

Alexandre Cossenza

02/04/2018 08h44

Acontece de tempos em tempos. Quando Gustavo Kuerten derrotou Pete Sampras e Andre Agassi em Lisboa, era o fim de uma geração. Agassi ainda seria número 1 e Sampras ainda venceu um slam, mas o circuito já pertencia à turma de Guga, Norman, Safin e Hewitt. Mais tarde, o ATP Finals de 2003 marcou o início da Era Federer. Em algum momento, uma nova geração de jogadores toma as rédeas do tênis e dá início a um período diferente.

Desde que o Big Four se estabeleceu, ali por volta de 2008 (foi quando Djokovic venceu seu primeiro slam e Murray alcançou sua primeira final), a modalidade não vê um momento assim. Imaginou-se que a turma de Dimitrov, Raonic, Dolgopolov e Nishikori incomodaria mais os quatro grandes. Não aconteceu. Mais recentemente, a ATP resolveu badalar a ótima geração de Zverev, Kyrgios, Coric, Chung, Rublev, Khachanov, Shapovalov e outros.

Hoje em dia, é possível imaginar o Big Four deixando o circuito sem uma dessas derrotas marcantes. Federer, Nadal, Djokovic e Murray venceram tanto e por tanto tempo que seus corpos sentiram o baque – cada um de seu jeito, é claro. O circuito, hoje, tem espanhol e britânico lesionados, além do sérvio em recuperação e de um Wawrinka igualmente ausente por questões físicas. Momento ideal para a nova geração se lançar ao topo?

Sim. Só que o que se vê, um grande torneio após o outro, é que a #NextGen ainda está no fim dessa fila. Dimitrov, 26 anos, venceu o ATP Finals. Del Potro, 29, foi campeão em Indian Wells. Agora, em Miami, foi a vez de John Isner, 32, levantar uma taça pela primeira vez em um Masters 1.000. Isso sem contar que Cilic, 29, jogou duas das últimas três finais de slam. Anderson, 31, esteve na decisão do US Open. E nada de a #NextGen brigar seriamente pelo topo.

Hoje, Rafael Nadal voltou à liderança do ranking mundial (ele tem 8.770 pontos contra 8.670 de Federer). O espanhol não jogou em Indian Wells e Miami, abandonou o ATP Finals e o Australian Open por causa de lesão, jogou machucado em Paris e ficou fora de Acapulco também por problemas físicos. O suíço, por sua vez, não jogou nenhum torneio no saibro e também deixou de atuar em Paris e Cincinnati. Ainda assim, ambos têm quase 4 mil pontos (o equivalente a dois títulos de slam) de vantagem sobre Zverev, #4 do mundo com 4.925 pontos – é o mais bem ranqueado da #NextGen. Uma distância enorme. Chung, 21 anos e #19 do mundo, é o segundo mais bem colocado da turma e soma 1.897 pontos. São quase 7 mil pontos a menos que Federer.

Então se alguém ainda acha que o tênis masculino está perto de uma fase de domínio de Zverev, Kyrgios, Chung ou quem quer que seja da chamada #NextGen (até Thiem, forçando a barra da faixa etária), é preciso lembrar que essa turma ainda nem bate consistentemente nomes como Del Potro, Cilic, Dimitrov, Raonic, Berdych, Isner, Fognini, Verdasco, Cuevas e muitos outros.

Coisas que eu acho que acho:

– Meu texto não seria muito diferente se Zverev tivesse conquistado o título em Miami. O alemão, dono dos títulos dos Masters de Roma (não enfrentou Nadal) e do Canadá (bateu um Federer lesionado na final), ainda precisa fazer muito mais nos slams. Ainda assusta que o atual #4 do mundo só tenha chegado uma vez às oitavas de final nos quatro maiores torneios do circuito. É nesse nível que ele precisa provar que pode vencer.

– Por outro lado, Isner é um dos muitos tenistas que teriam vencido mais na carreira não fosse pelo Big Four. Antes da final deste domingo, o americano decidiu três Masters 1000. Perdeu para Federer (Indian Wells/2012), Nadal (Cincinnati/2013) e Murray (Paris/2016). Além disso, foi derrotado duas vezes por Djokovic em semifinais (Indian Wells/2014 e Miami/2015).

– O torneio deste ano foi o último em Key Biscayne. A partir de 2019, o Masters de Miami será disputado no complexo do estádio do Miami Dolphins, da NFL. A quadra central será dentro do estádio, e o resto da estrutura será montado no estacionamento. Parece um passo atrás, mas se conseguiram fazer o tênis dos Jogos Olímpicos num lugar onde não havia nada antes, não há motivo para duvidar de que Miami continuará sendo um evento interessante.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.