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Saque e Voleio

O grande triunfo pessoal de Azarenka em Miami

Alexandre Cossenza

30/03/2018 08h00

A caminhada de Victoria Azarenka no WTA de Miami terminou nesta quinta-feira, com uma derrota de virada para Sloane Stephens (3/6, 6/2 e 6/1) nas semifinais. Um revés que evidenciou mais a falta de forma física do que a falta de tênis, garra ou competitividade da bielorrusa, que vencia a segunda parcial por 2/0 antes de perder os dez games seguintes. E que ninguém se engane: a passagem de Vika pela Flórida precisa ser vista como uma enorme vitória pessoal de alguém que sofre todos os dias em uma briga judicial pela guarda do filho.

Antes de qualquer outra coisa, não cabe comparar a situação de Azarenka com a de Serena Williams. A americana voltou rápido ao circuito, ainda está fora de forma e saiu de Miami irritada com a derrota e sem dar a entrevista obrigatória. Mais do que isso: para Serena, ralar nos treinos e entrar em quadra significa menos tempo com a filha. É uma separação nada fácil. Seria perfeitamente compreensível se a americana guardasse a raqueteira no porão e nunca mais olhasse para ela. Amor de mãe e filha é assim, indescritível, o maior do mundo.

Para Vika, a sensação de competir é totalmente diferente. Não só porque seu filho já está maior e os dois já passaram mais tempo juntos, mas justamente por causa da disputa na Justiça. Como a própria Azarenka afirmou em Indian Wells, o tênis é, hoje, sua válvula de escape. Estar num vestiário, rever as colegas de circuito e entrar em quadra fazem parte de uma reconexão com algo que ela fez e amou a vida inteira. É esquecer, por algumas horas do dia, que existe uma chance de ela não poder ter o filho a seu lado o tempo inteiro.

De novo: como ela mesma disse em IW, é admirável que Azarenka consiga manter a cabeça no lugar em certos momentos. Que ela consiga isso e ainda derrote gente como Agnieszka Radwanska e Karolina Pliskova é realmente impressionante. Mostra que com um pouquinho mais de tempo no circuito – ainda mais neste circuito atual, sem uma presença dominante – Vika teria todas as armas para ir longe e brigar sempre por títulos.

É uma pena que seu futuro próximo seja incerto. Ainda sem poder viajar livremente por causa da disputa pelo filho Leo, é provável que Azarenka volte a se afastar dos torneios – não se sabe até quando. E a campanha em Miami, que só terminou nas semifinais diante da campeã do US Open, só deu um motivo a mais ao mundo do tênis para lamentar a ausência da ex-número 1. Que não dure mais tanto assim.

Coisas que eu acho que acho:

– Mudando radicalmente de assunto (já que eu não tive tempo para escrever antes sobre isso), Thomaz Bellucci e Rogerinho optaram por não jogar a Copa Davis. Com isso, João Zwetsch escalou o time com Monteiro, Clezar, Sorgi, Melo e Demoliner. Tudo leva a crer, segundo o comunicado da CBT, que Sorgi será apenas o quinto jogador, e Clezar é quem vai para a quadra como simplista #2 em Barranquilla, na Colômbia.

– A Colômbia terá Daniel Galán, Santiago Giraldo, Alejandro González, Juan Sebastian Cabal e Robert Farah. Além de uma dupla fortíssima, o time da casa tem o retorno de Giraldo e um Galán embalado, inclusive com vitórias sobre Feijão e Bellucci no Challenger de San Luis Potosí.

– Gosto de ver Clezar no time. Primeiro porque é hora de deixar o confronto do Japão no passado e segundo porque o gaúcho tem histórico favorável contra Galán (1 a 0) e González (3 a 2). Não que sejam indícios definitivos de algo, mas não é nada ruim. Além disso, com o confronto em quadra dura, Monteiro em má fase (seis derrotas seguidas) e o ponto da dupla longe de estar garantido, a atuação de Clezar será decisiva.

– Se alguém ainda não leu a recente entrevista de Feijão ao Thiago Quintella, do Globoesporte.com, faça o favor de ler. De mudança para os EUA (leia-se: "não dependerá mais de ajuda da CBT"), João Souza criticou o presidente, Rafael Westrupp, disse estar "cagando" para a Davis e culpou o capitão, João Zwetsch, por isso. Ao que parece, quem acha que a relação de Zwetsch com os tenistas não afeta a escalação precisa conversar mais com os jogadores…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.