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Saque e Voleio

Federer, mais um recorde, e a grande distância para a #NextGen

Alexandre Cossenza

17/03/2018 19h03

Ao derrotar o croata Borna Coric por 5/7, 6/4 e 6/4, Roger Federer se garantiu na final do Masters 1.000 de Indian Wells e bateu um recorde pessoal: as 17 vitórias em 17 partidas disputadas em 2018 significam o melhor início de temporada de sua carreira. Sim, o suíço conseguiu a marca aos 36 anos, vencendo o Australian Open e o ATP 500 de Roterdã.

O triunfo deste sábado esteve longe de ser uma vitória rotineira. Borna Coric foi um grande adversário, com um backhand calibradíssimo, belas defesas e contragolpes precisos. Se é verdade que Federer não esteve em seus melhores dias, também é fato que Coric teve muito a ver com isso. Manteve o suíço atrás com golpes fundos e pesados e alongou os pontos. Impediu que o número 1 do mundo atacasse com a frequência que gosta.

Em determinado momento, o melhor que Federer conseguiu fazer foi manter a bola em jogo e dar poucos pontos de graça. E deu certo. O nível altíssimo de Coric sofreu uma queda no segundo set e outra no terceiro. Ainda assim, o croata teve chances. Sacou em 4/2 na segunda parcial. Sacou em 4/3 e esteve a um ponto de fazer 5/3 no terceiro set. Não conseguiu fechar. Federer viu as janelas, entrou e "furtou" a vitória do croata, mostrando que inteligência e paciência também contam bastante numa quadra de tênis.

Se não aproveitou as chances que teve neste sábado, Coric, atual 49º no ranking da ATP, fez um lindo torneio. Derrubou Albert Ramos Viñolas, Roberto Bautista Agut e Kevin Anderson – entre outros – para chegar à semifinal. Passou a jogar mais perto da linha de base e atacando mais. Agregando isso a seu jogo já bastante consistente e sua velocidade de deslocamento, o croata consegue colocar em quadra um "pacote" interessante e perigoso, algo que por lesões e outros problemas, não conseguiu nos últimos anos. Coric, vale lembrar, foi número 33 do mundo em 2015, mas passou a maior parte do tempo desde então entre 40 e 60. Não deu o salto que parecia prestes a dar. Talvez agora seja o momento. Ele sai de Indian Wells novamente no top 40.

Enquanto isso, Roger Federer vai dando seguidas amostras da distância entre ele e a #NextGen, que ainda é considerável. E talento talvez nem seja o maior dos fatores nessa equação. Gente como Kyrgios, Zverev, Coric, Chung, Rublev, Khachanov e Edmund tem talento de sobra. Nenhum deles, porém, tem o "pacote" para competir com Federer ou as versões saudáveis de Nadal, Djokovic e Murray. A cada um deles, falta algo. Kyrgios não tem o foco ou o físico. Zverev, segundo Ferrero, não se dedica o bastante. Coric teve lesões. Rublev e Khachanov não são tão consistentes assim.

E mesmo quando um deles se coloca na situação de Coric hoje, perto de derrubar o número 1 do mundo, é preciso lidar com a pressão do momento. Não é fácil derrotar alguém que você cresceu venerando. Hoje, nenhum #NextGen tem um conjunto de habilidades (físicas e mentais) superior a um dos quatro grandes. Num slam, em melhor de cinco, sem lesões, colocaria minhas fichas em qualquer um do Big Four antes da #NextGen. E Roger Federer, o único saudável dos quatro no momento, segue mostrando, um jogo após o outro, que a distância ainda é grande.

Coisa que eu acho que acho:

– Ainda sobre fichas e apostas: alguém pode questionar o recorde pessoal das 17 vitórias de Federer este ano, já que Djokovic ainda não voltou a seu melhor nível e Nadal se lesionou na Austrália, mas eu vou all-in no suíço versão 2018 contra o Federer que foi número 1 de 2004 a 2008.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.