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Sony se atrapalha na divulgação e apela para transmissões online

Alexandre Cossenza

15/03/2018 10h41

(Post atualizado às 18h40min do dia 15/04 com justificativas do Canal Sony)

Noite de segunda-feira, 23h de Brasília, e Indian Wells vivia uma noite de expectativa: Serena Williams enfrentaria sua irmã Venus em jogo válido pela terceira rodada do torneio. No Brasil, entretanto, ninguém viu a partida na TV a cabo. O canal Sony, que possui os direitos exclusivos de transmissão da WTA, o circuito feminino, só começou a exibir partidas nesta quarta-feira, já nas quartas de final – uma semana e meia após o início de um dos eventos mais importantes do calendário.

O público brasileiro também ficou sem ver o retorno de Victoria Azarenka, a primeira partida de Serena, as vitórias da sensação americana Amanda Anisimova, que eliminou Pavlyuchenkova e Kvitova, a eliminação de Garbiñe Muguruza, o aperto que Simona Halep passou diante de Caroline Dolehide… A lista é grande, e o Sony não mostrou nada.

Só que não mostrar não é nem o maior dos problemas do canal. A dificuldade em se comunicar com o fã de tênis brasileiro é o grande drama do Sony. E o torneio de Indian Wells trouxe ótimos exemplos. O primeiro foi um tweet do canal postado no dia 7 de março, dizendo que o torneio começava "hoje, às 17h." O evento, na verdade, começou dois dias antes. Além disso, o tweet trazia uma estranhíssima programação de jogos, incluindo quartas de final em três dias diferentes e semifinais em dias distintos. A postagem foi apagada no mesmo dia, sem explicação do canal.

Em 12 de março, cinco dias depois desse fiasco, a assessoria do canal no Brasil enviou por email outra programação. Os horários eram os mesmos, à exceção das semifinais. Excluíram a transmissão de sábado. Esse email, contudo, não dizia o que seria mostrado ao vivo ou em VT e chegou com um erro grosseiro de informação quanto ao prêmio em dinheiro de Indian Wells.

Mas não acabou! No dia 13 de março, chegou uma nova informação. Outro email da assessoria informava agora que haveria transmissões no site do canal. E, finalmente, o Sony dizia quais partidas seriam exibidas ao vivo ou em VT. E o canal exibiu seu primeiro jogo na quarta-feira, dia 14. Sem equipe no local, como foi no ano passado, o que é mais um indício de que o canal deu passos para atrás em comparação com o que tinha planejado quando começou a mostrar a WTA.

Na mesma quarta, uma luz no fim do túnel. Já além da meia-noite, quando Karolina Pliskova e Naomi Osaka entraram em quadra, o Sony cumpriu a promessa e exibiu o jogo pela internet e com uma grande vantagem: a transmissão era aberta até para não assinantes do Sony.

Óbvio que não é o mesmo do que o prometido lá atrás, que era uma ampla cobertura, com equipes in loco e um belo destaque à WTA. Ainda assim, no cenário atual, o recurso online parece um pequeno oásis para quem gosta do tênis feminino. Que se torne cada vez mais frequente, e o Sony pare de esconder o esporte.

Coisas que eu acho que acho:

– As (poucas) transmissões do Sony são boas. Seja com Jaime Oncins ou Larri Passos nos comentários, além de Cesar Augusto na narração, a qualidade está lá. Ver tênis no Sony é melhor do que alguns outros canais brasileiros. Mas de que adianta ter uma equipe de alto nível no estúdio se o canal não consegue sequer comunicar decentemente quando vai mostrar os jogos e passar informações básicas ao espectador?

– Entre mostrar VTs ou partidas com delay (como aconteceu no WTA Finals do ano passado) e jogar tudo ao vivo na internet, acho que o Sony faz muito bem em disponibilizar o conteúdo online.

– Não é a primeira vez que escrevo sobre como o Sony vem decepcionando desde a segunda metade de 2017. Quem não viu pode ler aqui e aqui. Continua a impressão de que o canal se arrependeu de adquirir os direitos exclusivos da WTA.

– Sobre a WTA: Simona Halep vai continuar como número 1 do mundo. Caroline Wozniacki, que tinha chances de ultrapassar a romena, caiu diante de Daria Kasatkina nas oitavas de final. A dinamarquesa, que precisava chegar à final para ter chances de voltar ao topo, ainda saiu reclamando da velocidade quadra. Disse que o piso lento e o quique alto da bola ajudou Kasatkina e que é "incomum" jogar em pisos assim.

Atualização

Na tarde desta quinta, a assessoria do Sony enviou por email algumas justificativas e observações sobre o post. Eles seguem abaixo, na íntegra, em itálico, seguidos de meus comentários:

Sobre a não exibição de momentos importantes do torneio que aconteceram antes das quartas de final:

"Desde que estreamos o WTA no canal, a estratégia é transmitir a partir das quartas, com exceção do WTA Finals."

Vale lembrar que o WTA Finals do ano passado, iniciado num domingo, só teve cobertura do a partir da quinta-feira. Ou seja, deixaram de mostrar três dias do evento. Além disso, a própria assessoria do Sony, ao justificar esses três dias de ausência, escreveu que "o canal optou por transmitir os josos [do WTA Finals] a partir das quartas de final." E todo mundo sabe que o WTA Finals não tem quartas de final.

Sobre o primeiro post apagado:

"Realmente foi um erro da equipe, que programou o post no dia errado. As informações estavam corretas, mas o post deveria ter subido no dia 14."

Não, nem todas informações estavam corretas. O torneio não começou "hoje, às 17h", mas dois dias antes. Além disso, a própria assessoria enviou posteriormente dois emails com uma mudança na transmissão que estava prevista para 1h de sábado (embora eles discordem que isso seja uma alteração).

Ainda sobre o tweet apagado:

"Ao identificarmos o erro, a equipe apagou o post e comunicou diretamente para quem havia questionado na rede."

Quem nem desconfiou que havia algo errado continuou sem ter todas informações corretas. Não me parece a comunicação ideal com o espectador.

Sobre a mudança na transmissão que iniciaria à 1h de sábado:

"Não excluímos a transmissão de sábado, apenas escrevemos de outra forma: 'a partir das 23h, semifinais'. Ou seja, a segunda semifinal na madrugada de sábado continua, na sequência da primeira, com início às 23h. Ambas ao vivo."

O primeiro tweet não dizia nada sobre ao vivo ou VT. O primeiro email enviado pela assessoria também não fazia essa identificação.

Sobre o erro na informação sobre a premiação para a campeã:

"Como vimos, essa informação estava disponível no site do WTA: http://www.wtatennis.com/calendar sem atentar que o valor era do prêmio geral do torneio, não apenas o destinado ao ganhador, e pedimos desculpas por esse erro."

É o segundo ano que o canal exibe torneios da WTA, e ainda não sabem onde encontrar uma informação que está em todas chaves de torneio.

Sobre a cobertura de Indian Wells feita de estúdio, diferentemente do ano passado, quando os profissionais do canal estavam in loco:

"Infelizmente, não conseguimos enviar equipe para o local dessa vez e a transmissão foi feita do nosso estúdio."

Sobre as transmissões online:

"Estamos trabalhando para transmitir ao vivo no site as partidas programadas para ir em VT na TV. Isso acontecerá no próximo torneio mandatório, o Miami Open."

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.