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Saque e Voleio

Sharapova precisa mais do que mudar de técnico

Alexandre Cossenza

10/03/2018 07h00

Eu citei no post de ontem que Maria Sharapova fazia um começo de temporada abaixo das expectativas, e a maior consequência disso foi revelada à tarde: a russa e seu técnico, Sven Groeneveld, anunciaram o "divórcio". A notícia veio com os protocolares textos pré-aprovados cheios de elogios um ao outro e fazendo menção a uma "decisão mútua" – que, na verdade, é aquilo que acontece quando uma pessoa demite, e a outra concorda com a demissão porque não adiantaria discordar.

Formalidades à parte, Groeneveld não foi primeiro nem o segundo nem o terceiro técnico de Sharapova. Michael Joyce durou cerca de sete anos, Thomas Hogstedt ficou por duas temporadas, Jimmy Connors foi demitido memoravelmente depois uma partida e, finalmente, Groeveneld estava no cargo desde 2013. Era ele o técnico quando Sharapova conquistou Roland Garros pela segunda vez. Ele, inclusive, esperou a russa durante toda sua suspensão por doping.

Desde que conquistou seu primeiro slam, em Wimbledon/2004, Maria Sharapova baseia seu jogo em seus golpes potentes disparados da linha de base. Sua movimentação lateral melhorou, é verdade, mas o 1,88m de altura coloca um teto nessa evolução. O jogo de rede, no entanto, continua quase inexistente. Sharapova também nunca desenvolveu um smash digno de seu ranking – prefere confiar nos swing volleys, esteja onde estiver na quadra. As variações nunca vieram e agora, e a menos de dois meses de completar 31 anos, talvez Maria precise delas mais do que nunca.

O circuito é melhor do que dez anos atrás. Há mais talento, mais potência, mais velocidade. Embora ainda consiga mandar na maioria dos pontos, Sharapova se vê mais frequentemente diante de adversárias velozes, que devolvem mais e mais suas bolas. E não é só isso: a cada dia que passa, o circuito tem mais meninas que conseguem igualar sua potência de bola. A derrota para Naomi Osaka foi um bom exemplo disso.

Sharapova ainda é uma grande competidora – talvez a melhor da WTA ainda hoje. Não desiste de jogos. Nunca joga a toalha. Já ganhou muitas partidas assim, na base da luta, se segurando até calibrar seus golpes e encontrar seu melhor nível de tênis. A margem para isso, contudo, está diminuindo. Sharapova precisa encontrar uma maneira de vencer mais jogos contra adversárias mais jovens e mais rápidas. Não vai ser fácil.

É possível que venha daí a opção pela saída de Groeneveld, que é considerado um dos melhores técnicos do mundo. Só que é preciso reconhecer que, com todos técnicos que trabalhou, Sharapova pouco adicionou a seu tênis – a não ser uma curtinha que lhe ajuda muito na terra batida. É preciso querer mudar, sair da zona de conforto e adicionar algo diferente. Não é tão fácil assim.

Coisas que eu acho que acho:

– Basta conversar com um certo número de técnicos para saber: o mundo está cheio de tenistas que querem mudar sem mudar. Acham que um novo treinador vai fazer milagres. Querem alguém que os faça ter melhores resultados sem agregar nada. "Quero um técnico que me faça tirar o melhor do jogo que eu gosto de jogar", vocês já devem ter ouvido por aí.

– Esse tipo de mudança no time talvez traga algum resultado a curto prazo, quem sabe porque o novo profissional tem outro modo de motivar o pupilo. Mais tarde, fica claro que não funciona a longo prazo. O problema – mesmo – é que não são muitos os tenistas dispostos a expandir seus horizontes e abraçar um trabalho diferente. Via de regra, quanto mais sucesso a pessoa já fez, mais difícil é aceitar isso. O próximo técnico vai mostrar se Sharapova vai finalmente topar o caminho mais longo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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