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André Sá: o melhor exemplo para o tênis brasileiro nos últimos 15 anos

Alexandre Cossenza

01/03/2018 07h00

A carreira de André Sá, 40 anos, chegou ao fim na noite desta quarta-feira, em São Paulo. Ele e Thomaz Bellucci, seu pupilo nas simples e parceiro nas duplas, foram derrotados por Federico Delbonis e Máximo González por 7/6(4) e 7/5, colocando um ponto final em uma trajetória que deve ser observada com carinho e atenção por jovens jogadores, pais e técnicos.

Não, André Sá não foi o maior vencedor do tênis brasileiro. Não conseguiu os títulos de simples de Thomaz Bellucci nem venceu slams em duplas como Bruno Soares e Marcelo Melo. Só que no conjunto da obra, contando o que fez e faz dentro e fora de quadra, vida e obra do "mineiro de Blumenau" precisam figurar entre as maiores da história do país.

E olha que os números de André não são nada, nada ruins. Como simplista, foi número 55 do mundo, disputou as quartas de final de Wimbledon na Quadra Central contra Tim Henman, Nas duplas, jogou 30 finais em três décadas diferentes, levantou 11 troféus (de Hong Kong/2001 até São Paulo/2017), foi semifinalista de Wimbledon e seu melhor ranking foi o #17, em 2009.

Ainda nas duplas, é preciso reconhecer o legado de André ao desbravar o circuito de duplas. Ainda que não tenha sido o primeiro brasileiro com sucesso na modalidade, o mineiro já estava estabelecido como duplista em 2006, ano em que começou a parceria com Marcelo Melo, que na época tinha apenas 22. Foi o empurrão que Melo precisava para mergulhar de vez nas duplas e, alguns anos depois, com patrocínio da Centauro, juntar-se a Bruno Soares. E hoje Soares é uma espécie de mentor de Marcelo Demoliner, o duplista "NextGen" do Brasil. Tudo isso começou 12 anos atrás, com André.

O mineiro também sempre foi exemplar fora de quadra. É até hoje um belo representante do tênis. Inteligente, educado e solícito. Um pouco político demais às vezes, é bem verdade, mas ninguém é perfeito (rs). Nunca vi dizer não a jornalistas. Sempre tratou todo mundo com respeito, mesmo discordando – algo que muita gente no meio do tênis precisa aprender. Ajudou o fã e a imprensa a entenderem melhor as minúcias da modalidade. Fez-se presente com frequência e aproximou muita gente do tênis.

E agora, quando começa a preencher "técnico de tênis" nos formulários da vida, vai dar ainda mais ao esporte. Na verdade, já vem fazendo isso. Quem acompanhou suas declarações recentes sobre o trabalho com Thomaz Bellucci (leia aqui e aqui)viu que, na pior das hipóteses, o mineiro já jogou uma nova luz sobre quem é o ex-top 30. Que André tenha toda sorte do mundo no que vier no futuro. Que o mundo do tênis reconheça e copie o exemplo que André deixou no passado.

Coisas que eu acho que acho:

– Possivelmente, alguns leitores viram o título deste post e pensaram em Gustavo Kuerten, tricampeão de Roland Garros e número 1 do mundo, aposentado em 2008. Guga, a meu ver, é exceção, um fora de série para os padrões brasileiros, e exceções não são os melhores modelos. Consideradas as devidas proporções, Federer é exceção; Nadal é modelo.

– O respeito que André conquistou no circuito é imenso e vai além da panelina sul-americana. Até por ter treinado nos EUA e falar inglês melhor do que a média, o mineiro sempre foi bem visto em todos os círculos. Não por acaso, foi indicado recentemente como consultor de relacionamento com os jogadores pela Federação Internacional de Tênis (ITF).

– Parabéns à Wilson pela confecção das máscaras com o rosto do André. Algo simples de fazer e de bom gosto. E ainda traz informações sobre a carreira do atleta. A empresa homenageia seu atleta e coloca a marca em exposição. Oportunidade aproveitada. Perfeito.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.