Topo

Saque e Voleio

Wild, o cartão de visitas e o aviso: 'Tenho mais tênis do que alguns aqui'

Alexandre Cossenza

27/02/2018 07h00

Em seu primeiro jogo de chave principal em um ATP na carreira, o paranaense Thiago Wild, 17 anos, não fez feio. Longe disso. Foi agressivo do começo ao fim, mostrou suas muitas qualidades e tirou um set do veterano Carlos Berlocq, ex-top 50 e atual #131 do mundo. No fim, com cãibras, o brasileiro #620 da ATP sucumbiu no Ibirapuera por 3/6, 6/3 e 6/2.

Depois da derrota na primeira rodada do quali no Rio de Janeiro (6/2 e 6/0 para o francês Corentin Moutet, 18 anos, #135 e quadrifinalista do ATP de Quito), a atuação no Brasil Open, em São Paulo, serviu como um cartão de visitas de Thiago Wild para o circuito ATP. Ainda que seu ranking esteja longe deste tipo de evento, seu tênis não está tão atrás assim.

Durante o primeiro set, foi ele que ditou os pontos. Não fosse um gamezinho ruim no início da segunda parcial, não sei se Berlocq teria reagido. O argentino, é bom dizer, também usou de toda sua experiência (talvez "malandragem" seja uma expressão mais justa) para esticar o jogo. Conferiu marcas o tempo inteiro, discutiu com o árbitro, pediu atendimento médico… Aquela rotina que Caroline Wozniacki e nós sabemos como funciona.

São "recursos" dentro do regulamento que, mesmo quando não desestabilizam obviamente o adversário, alongam e esfriam o jogo. Às vezes, é tudo que basta para que o bom momento do rival passe. Foi assim que aconteceu nesta segunda-feira. E quando chegou o terceiro set, Wild teve cãibras e não ofereceu a mesma resistência – o que é até normal na combinação idade + ocasião que o brasileiro vivia no Ibirapuera.

E não foi só tênis que Wild mostrou. Junto com a bela atuação veio mais uma pitada de sua personalidade. Após deixar a quadra, disse: "Tenho mais tênis do que alguns jogadores que estão aqui, mas a parte física ainda fica um pouco para trás. Tenho que aprender a lidar com certos momentos e estipular os que são importantes e os que não valem tanto" (leia a íntegra aqui).

Coisas que eu acho que acho:

– Quem leu a entrevista que fiz com Wild em novembro, sabe que o garotão não tem papas na língua e confia no próprio taco. Ele quer terminar 2018 entre os 200 do mundo, diz que gosta de pressão e que não vai suportar chegar aos 28 anos jogando Challengers. Leia aqui.

– Sempre que alguém diz algo do tipo "tenho mais tênis do que fulano", vai dividir opiniões. Alguns vão gostar da autoconfiança. Outros vão colocar na conta da arrogância. Normal.

– Eu prefiro os autoconfiantes-ou-arrogantes aos derrotistas-vitimistas. O discurso do "entro sem expectativas" e "saio feliz pelo aprendizado", além de entediante, é encolhedor. Os autoconfiantes-arrogantes eventualmente vão perder jogos por soberba, mas é muito mais fácil ensiná-los a administrar o "salto alto" do que fazer um derrotista-vitimista pensar grande. E quem não pensa grande alcança menos do que pode.

– No caso específico de Thiago Wild, concordo. Ele tem mais tênis do que alguns nomes na chave principal do Brasil Open.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.