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Saque e Voleio

Sorgi, o esquecido salvador

Alexandre Cossenza

04/02/2018 01h11

O time adversário era ruim. Thiago Monteiro esteve abaixo da crítica. A quadra deixava a desejar. A transmissão, um desastre. Restou para João Pedro Sorgi,24 anos e #365 do mundo, estreante em Copas Davis, tornar-se o herói improvável do fim de semana, salvando o Brasil do vexame que seria perder para uma República Dominicana cujo tenista mais bem ranqueado era o pouco expressivo José Hernández-Fernández, #284 no ranking mundial.

Logo ele, Sorgi, convocado como último recurso de um João Zwetsch que foi rejeitado por Thomaz Bellucci, Rogério Dutra Silva, João Souza e Guilherme Clezar. Logo ele, Sorgi, que desde que se tornou profissional não recebeu um centavo de apoio da Confederação Brasileira de Tênis (informação via assessoria de imprensa do atleta). Logo ele, Sorgi, nunca lembrado – sempre esquecido, que precisou disputar o Rio Open de 2017 com uma raquete quebrada porque não tinha patrocínio nem ajuda financeira de ninguém.

Pois foi Sorgi, depois de duas atuações muito ruins de Thiago Monteiro (uma vitória e uma derrota), que precisou entrar no quinto e decisivo jogo contra Robert Cid Subervi, #468 do mundo, para dar a vitória ao Brasil. Uma partida nervosa, com torcida contra e um adversário inflamado. No fim, esgotado e lutando contra uma ameaça de cãibra, o paulista triunfou por 6/7(8), 6/1 e 6/4.

Sorgi, lembremos, começou a sexta-feira derrotado em sua estreia num jogo complicado com José Hernández-Fernández (6/2, 4/6 e 7/6(3) para o tenista da casa) e terminou o sábado sendo abraçado pelos companheiros de time e festejado pelo dirigente que nunca antes olhou com carinho para ele. Que a sua vitória na República Dominicana abra portas e olhos por aí. Que a torcida e CBT parabenizem, agradeçam e reconheçam João Pedro Sorgi.

Coisas que eu acho que acho:

– Repito o que escrevi no dia que o time brasileiro foi revelado. Rogerinho (chave principal) e Feijão (quali) tinham o ATP de Quito para disputar nesta semana, então é compreensível que ambos tenham optado por priorizar suas próprias carreiras. No entanto, parece válida a pergunta: se ambos não tivessem sido mal tratados pela CBT em episódios anteriores de Copa Davis, será que pelo menos um deles não teria viajado a Santo Domingo e evitado todo esse drama?

– Bruno Soares não vai jogar a Davis este ano. Passará mais tempo com a família. Bellucci, consultado por Zwetsch, também preferiu priorizar seus torneios. Clezar, outro que já foi jogado aos leões, também disse não, mas por fatores diferentes. Lesão, calendário e a experiência ruim no Japão pesaram.

– Que Sorgi perdesse o primeiro jogo de sexta-feira era absolutamente normal. O drama todo só aconteceu porque Thiago Monteiro teve um péssimo fim de semana e perdeu um jogo que tinha obrigação de ganhar (sim, a pressão faz parte do papel de ser #1 de um time na Copa Davis). Esteve tecnicamente mal e, principalmente, taticamente mal. Era visível a irritação de Narck Rodrigues, comentarista do SporTV, com a atuação do cearense na sexta-feira. O #1 do Brasil insistia em agredir e cometia seguidos erros forçados, dando vários pontos de graça, enquanto o modesto rival pouco ameaçava nos ralis.

– Monteiro, aliás, mostra pouca evolução desde que "surgiu" para o mundo naquele Rio Open de 2016. Seu jogo continua baseado em trocas do fundo de quadra (até aí, tudo bem, o mundo inteiro joga assim), mas sua devolução pouco melhorou, o jogo de rede continua vulnerável e, principalmente, falta um plano B. Quando não ganha pontos nos ralis, Monteiro frequentemente se vê sem alternativas.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.