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Marcelo Demoliner: o duplista #NextGen e sua ascensão com o 'guru' Soares

Alexandre Cossenza

06/11/2017 13h21

Marcelo Demoliner acaba de completar o melhor ano de sua carreira como duplista. Começou a temporada como #67 e terminou como #35 do mundo. Coincidência ou não, o ranking do gaúcho de 28 anos é o mesmo de Bruno Soares quando o mineiro fechou 2010, também com 28 anos. Embora nada seja garantia no mundo instável do tênis e ninguém vai prever que Demoliner também vai vencer cinco títulos em torneios do grand slam, há motivos de sobra para ser otimista quanto ao futuro "incerto" do gaúcho.

"Incerto" porque após um ano de sucesso com o parceiro neozelandês Marcus Daniell, o brasileiro ainda não sabe com quem vai jogar em 2018. E o primeiro motivo para esse otimismo é justamente Bruno Soares, que se tornou um amigo, confidente e conselheiro. O mineiro foi um dos tenistas a quem Demoliner recorreu quando ainda só pensava em ser duplista. Hoje, estabelecido no mundo do tênis mas ainda praticamente um #NextGen em um circuito de duplas dominado por veteranos, Demo ainda ouve de Soares todo tipo de dicas e conselhos.

Além disso, como vocês, leitores, vão perceber na entrevista abaixo, realizada na semana passada, o gaúcho é inteligente, mostra-se consciente de quanto precisa evoluir, conhece bem as dificuldades do circuito e gosta de tênis. Aliás, Demoliner gosta também de conversar sobre o esporte. Ficamos 55 minutos batendo papo sobre o circuito, sobre tênis, sobre a vida (e excluí da transcrição vários trechos). O jovem falou sobre os momentos alegres e duros de 2017, suas mudanças técnicas, a troca de parceiro, a paixão por Wimbledon, seu reconhecimento no circuito e a certeza de que tomou a decisão certa ao tornar-se exclusivamente duplista. Leiam e conheçam melhor o duplista que vai herdar o legado de Sá, Soares e Melo.

Você começou o ano como #67 do mundo, terminou como #35. Terceiro ano seguido de subida no ranking. O que está amadurecendo no seu tênis ou em você que está permitindo essa subida?

Então… Uma coisa que fez eu dar um salto grande foi eu ter melhorado minha devolução de saque. isso foi uma das coisas que mais me deu base para todo meu jogo. Porque o saque é uma arma natural minha. Ainda preciso melhorar uns detalhes pequenos que a gente vê, mas não é um furo tão grande quanto era minha devolução. Hoje em dia, os caras estão sacando na minha direita também. Antes, era só na esquerda. Só na esquerda. Eu treinei muito devolução e entendi também o processo de calma, que é um negócio que na dupla precisa muito.

Calma?

Se tu tá sem calma, é uma… É engraçado até. Foram coisas de amadurecimento, de perguntar para muitos jogadores, de buscar informações, de falar com o Bruno (Soares), André Sá… Os caras me ajudaram muito, sabe? Tanto é que eu ganhei várias vezes do André, que eu nunca tinha ganhado deles. Mas foi essa convivência com pessoas mais experientes e o entendimento do jogo que estão fazendo com que eu amadureça e consequentemente melhore tudo.

Como são essas conversas? O que você pergunta? É mais sobre aspectos técnicos, plano de jogo ou o quê?

É mais de como se portar nos momentos importantes, de manter a calma, de manter o teu plano de jogo, de acreditar que tu pode, mesmo com a pressão, fazer aquela jogada que tu tá treinado… São coisas pequenas, mas fazem muita diferença. O Bruno diz "cara, faz a mesma coisa que tu faz o jogo inteiro. O momento importante vale a mesma coisa que o momento que não é importante. Vale o mesmo ponto." Só que tem uma pressão a mais porque na tua cabeça tu coloca que é um ponto importante, sabe? E quanto tu te coloca essa pressão, obviamente os nervos… É diferente o ponto. Então tenta fazer o simples e o que tu tem que fazer.

O ponto e a consequência, né? Porque se você erra, justamente porque você se colocou pressão, aquilo te abala mais no ponto seguinte e afeta também a confiança…

Eu vou te dizer uma coisa que também foi uma das principais para eu dar esse salto que dei este ano, que é fazer o que tu tem que fazer, e se tu errar, tu fez o que tinha que fazer. Então tu tira a tua pressão. Isso foi uma das principais coisas que aprendi – que tô aprendendo e que está dando um resultado muito grande. Muito grande. Eu vi que é isso mesmo. Todo mundo faz, e eu vou ter que fazer.

Você falou de detalhes do saque que precisa melhorar. Que detalhes?

Eu tenho um problema nas costas, e eu saco sem olhar para a bola.

Em todos os saques?

Todos os saques!

Se colocar uma venda nos olhos, você consegue sacar?

Huuuum… Boa pergunta! (risos) Mas, por exemplo, se tu pega uma foto na hora do impacto (com a bola), eu tô quase impactando e não tô olhando para a bola. Estou com a cabeça para baixo. É um negócio que eu tenho no meu ombro que estou tentando melhorar com fisioterapia e exercícios, que eu acho que também vai melhorar muito o meu saque. Eu mudei também o negócio (a posição) das pernas e um pouco do toss.

Mudou o que nas pernas?

Antes, eu sacava com as pernas juntas.

Tipo o Thiago Monteiro?

Tipo o Thiago Monteiro.

Nossa, me dá nervoso o saque do Thiago. Tem que ter muita força na perna pra fazer o saque com as pernas juntas já antes do toss…

Perfeito. Eu tive muitas mudanças no meu saque. Quando eu jogava simples, eu imitava o Pete Sampras. Eu fazia igualzinho o Pete Sampras.

Levantando o pé e tudo mais?

É! O pezinho e tal. Depois, eu juntei os pés. Daí agora eu saco com eles abertos de novo. Mas é o aberto que facilita mais para as minhas pernas e na questão de postura também. Na questão do toss, eu sacava com o toss assim (demonstrando uma espécie de loop com a mão, o que fazia a bola não subir em linha reta), e eu não tinha muito controle do toss. Hoje, eu tenho mais controle. São esses detalhezinhos que fazem diferença.

Tênis é um negócio muito louco.

É muito louco, é muito louco. E uma coisa que melhorou muito meu saque foi o segundo saque. Porque eu comecei a entender um negócio no segundo saque, no final do movimento, do saque kick, principalmente. Eu até fazia bastante dupla falta e agora quase nunca faço porque eu peguei o movimento, eu entendi. Lá na academia tinha um equipamento com uma bolinha que eu fazia esse movimento (demonstrando o movimento da raquete pegando de raspão a bolinha para gerar o efeito kick), e eu entendi, comecei a executar e melhorei muito o segundo saque. E se tu sabe que seu segundo saque é bom, você pode arriscar mais o primeiro saque. Foi isso.

É muito detalhe…

Cada detalhe tem muita importância em cada fase.

Você já ouviu falar num jornalista americano – ele já morreu até – chamado David Foster Wallace?

Cara, não me é estranho.

Ele escreveu um artigo anos atrás sobre o Michael Joyce, que foi técnico da Sharapova e tal. Isso foi na época que o Michael Joyce jogava. Ele foi a um ATP nos EUA e escreveu esse artigo de observação sobre o cara, que estava jogando o quali até. Só que como o David Foster Wallace tinha jogado tênis como juvenil, ele entendia das minúcias do esporte. O texto dele é super didático. Ao mesmo tempo em que ele descreve o que acontece com o Michael Joyce, ele vai explicando o que é um quali, o que é um ATP, e tem uma parte do texto que é muito legal porque ele fala sobre a quantidade de cálculos que um jogador tem que fazer cada vez que bate na bola. Você observa a altura que ela vem, tem que calcular o ângulo do quique, a potência da bola e ainda pensar o que você quer fazer com ela. Depois de decidir, você tem que mudar a empunhadura, pensar no local do impacto com a bola, a potência que você quer gerar… É um negócio insano.

E um detalhe… Mais ainda: em menos de um segundo!

Sim! Aí você vai devolver o saque de um Sam Querrey… É meio segundo pra pensar em alguma coisa! E o Bopanna ainda me acertou aquela devolução no match point! (Querrey e Demoliner tiveram match point contra Rohan Bopanna e Pablo Cuevas na final do ATP 500 de Viena, e o indiano acertou uma bela devolução para anular o saque do americano em um dos match points. Bopanna e Cuevas foram campeões, vencendo o match tie-break por 11/9.)

Tu viu o jogo?

Vi o final.

Não é possível. Eu juro que eu fiquei… Não consegui dormir na noite… Na próxima noite.

Você mal tocou na bola, né?

Eu não toquei! Eu só toquei na devolução, que o cara sacou o primeiro saque, eu tentei um lob e saiu um pouco, e depois saquei o primeiro saque, o cara devolveu, eu dei uma direita, o Querrey tentou volear curtinho e errou. É foda que nã depende só de ti, né? Por isso que, cara, tem que manter a calma. Os caras falam "você jogou seis finais de ATP" (Demoliner perdeu as seis)… A primeira final de ATP eu estava nervoso. Foi com o Bellucci, em Quito, contra o Duran e o Carreño Busta. Essa final eu admito que joguei mal. Se eu tivesse jogado melhor, poderia ter sido diferente. Mas as cinco outras eu joguei bem, velho. Só que tu joga bem e não depende só de ti. O parceiro faz uma cagada ou faz uma escolha errada, enfim… Não depende de ti. Então eu tenho que manter a tranquilidade, não posso pensar em número, saber que isso é um processo e que eu tenho só 28 anos, a carreira de dupla é longa… Eu sou o #NextGen da dupla, que nem os caras falam (risos).

A derrota mais doída foi essa, de Viena?

Foi porque eu não consegui pegar na bola, mas a gente salvou match point no segundo set. Podia ter perdido antes. É um negócio muito louco. A semifinal a gente ganhou de WO. Podia ter jogado e perdido. Tem tantos fatores que tu não pode te martirizar, sabe?

E qual foi o melhor momento? Viena também?

Foi doído, mas eu vejo sempre o copo meio cheio.

Se não tivesse sido bom, não teria doído…

Exato! Não era nem para ter ganhado a primeira, a segunda rodada. Fomos para a final! A final pode vir para a gente ou ir para os outros, sabe? Como eu te falei, não depende de mim só. Foi o que aconteceu. E um momento muito legal para mim foi Wimbledon, ter jogado na Quadra Central uma semifinal de um grand slam. Foi Mista? Foi mista, mas e uma semifinal de grand slam! Tem gente que não dá valor. Eu dou valor!

Foi o primeiro ano que você e o Marcus Daniell jogaram a temporada quase inteira juntos. Mudou muito poder fazer um calendário inteiro com o mesmo cara?

Muda bastante. É sempre bom tu ter um parceiro fixo porque a gente também pegou um treinador para a dupla. Eu treino na Tennis Route, e o João [Zwetsch] estava com o [Thomaz [Bellucci], e o Duda Matos estava com o Thiago Monteiro, então eu precisava de alguém que pudesse me dar uma atenção maior. Não que eu tive falta de atenção deles, mas eu precisava de alguém full-time, então o Marcus tinha um cara bom com ele. E faz muita diferença, sabe? Porque tu sabe que o teu parceiro faz de bem e faz de ruim. Eu sei o que eu faço, e a gente sabe como cobrir esses furos, e a dupla fica muito mais forte, sabe?

Vi uma entrevista na ESPN em que você dizia que estavam evoluindo juntos.

É assim.

Vocês já ficavam à vontade pra falar o que acham que o outro precisa melhorar?

Total. A gente sempre foi muito aberto. "Olha, acho que precisa ser isso, isso e isso", "tu não tá fazendo bem isso"… A gente tinha reuniões sempre e falava o que estava achando de bom, de ruim e o que precisava melhorar. É um relacionamento tipo um casamento, né? Tu precisa ser totalmente franco e sincero porque é assim que a dupla vai crescer, como a gente cresceu este ano inteiro. Nosso técnico também era um cara que prezava muito isso. Ele até gravava essas reuniões. Botava um radinho com um microfone, era até engraçado. Cara, eu melhorei muito meu inglês com isso. Porque, cara, meu inglês é bem normal. Eu consigo já falar super bem em relação a tênis, e isso me fez puxar pra eu aprender mais. E foi um crescimento de todos os fatores, sabe? E essas reuniões de tu falar o que precisa ser melhorado, de tu analisar "puta, isso aqui tu não melhorou bem", "a gente precisa botar um foco maior nisso", "a gente está perdendo os últimos jogos por isso"… Então foi sempre muito sincera e aberta essa relação.

E dupla mista? Quartas de final em Roland Garros, semifinal em Wimbledon… Você tá pegando gosto pela coisa, não?

Dupla mista foi também um negócio que me trouxe confiança. Se eu não jogo bem, a gente perde. É o homem que precisa jogar bem. Se a mulher joga o feijãozinho-com-arroz ou não joga tão bem, mas se o homem "apelar", como a gente fala, a gente tem chance de ganhar. Como eu comecei a entrar nessas mistas, é um dinheiro que me ajuda. Eu tenho patrocínios, porém de valor baixo. E melhora muito minha dupla. E também o reconhecimento é bacana, não só de fãs e telespectadores, mas do circuito, o que é importante.

Todo mundo fala que o tenista tem um tempo de adaptação em cada nível. E não é só de nível técnico, é de se sentir à vontade naquele ambiente, com aqueles caras. Você já está à vontade nos ATPs?

Nos 250, bem à vontade. Nos 500, estou me acostumando porque não tive chance de jogar vários 500 por causa do ranking e 1000 eu joguei dois (Miami, com Daniell, e Xangai, com Fabio Fognini). Tive match point contra o Marcelo Melo em Miami. A gente entrou de alternate, jogamos com o Marcelo e o Kubot. Tivemos 6/2, 6/5 e no-ad. Eu dei uma direita na paralela que a bola sai isso aqui (mostra algo menor que um centímetro). Eu tenho até o vídeo. Os caras foram, ganharam o jogo e ganharam o torneio. Confiança, número 1 do mundo, campeões de Wimbledon.

E você se sente também mais reconhecido e respeitado no circuito?

Cara, dá para sentir bastante. Principalmente, os caras te chamam para treinar, te dão uma abertura a mais para conversar. Em questão de treinamento, hoje em dia, está muito fácil de conseguir. Isso é bom, também faz com que eu melhore porque estou treinando com os melhores. Isso eu senti bastante que mudou e tem feito bastante diferença, sabe?

O que você acha que falta pra dar essa última subida, entrar no grupo que joga os Masters 1000 e ficar lá de vez?

Vou te contar que, ninguém sabe, mas eu não jogo mais com o Marcus. A gente combinou de jogar esse ano todo e analisar. Enfim, a gente decidiu que vai dar mais um break, como em 2015. A segunda vez que a gente jogou, a gente veio muito mais maduro, muito mais forte. Também pode ser uma ideia para o futuro. A gente deixou as portas abertas, mas a gente queria tentar alguma coisa diferente para o próximo ano. Agora se você me pergunta…

Com quem você vai jogar?

(risos) Não tenho ideia ainda. Conversei com muita gente, já estava até encaminhado com o Santiago González, mas acabou que ele começou a jogar bem com o Peralta, e acabou que eles vão continuar jogando juntos. Agora estou esperando Paris para ver como fica o ranking de todo mundo para saber com quem jogar no começo do ano, onde entra, onde não entra… É uma matemática chata, mas que precisa ser feita. Quero pegar alguém para jogar pelo menos os três primeiros torneios do ano, e depois vou vendo. Todos ali na frente, do 1 ao 25, estão fechados. Um ou outro se separou, mas já se juntaram com outros. Então tem que esperar para ver o início do ano que vem. Estou achando que o Klaasen e o Ram, se não forem para o Masters (e não se classificaram), daqui a pouco…

Ninguém te procurou ainda?

O (Robert) Lindstedt foi um dos que me chamaram para jogar no ano que vem. O problema é que ele está 70 e poucos. O (Daniel) Nestor me chamou também, mas está 70 e poucos também. É difícil porque tu não entra em nenhum torneio no começo do ano. Só na Austrália. Talvez Auckland, mas eu quero jogar o primeiro antes. Quero pegar alguém pra jogar dois e tentar acostumar para o Australian Open.

Essa do parceiro me pegou de surpresa…

É que é recente!

Eu ia perguntar o grande objetivo da dupla para 2018…

Grande objetivo? Eu entrei nas minhas férias ontem, sabe? Eu prometi a mim mesmo que a partir de sábado (4 de novembro) eu vou desligar o telefone por uma semana e vou ficar sem sinal nenhum. Preciso recarregar minhas energias com a minha namorada. Nós vamos pegar uma pousadinha em Parati e, sabe, ainda não pensei muito no próximo ano. Está uma incógnita com quem eu vou jogar, e é difícil botar expectativa sem ter alguém, sabe?

O ranking é bem cruel para as duplas, né? Os Masters têm chave de 24 duplas, então são só 48 jogadores e são os torneios que valem mais pontos. Para entrar nesse "clubinho" ou você faz uma campanha grande num slam ou faz uma sequência de 500, mas que também é difícil…

Eu não entro também. Para entrar, é bem difícil, mas quando tu entra, fica mais fácil se manter porque tu joga sempre os maiores, pontua mais. Mas para 2019 vão mudar algumas regras nessa questão de chaveamento, de entrada e saída. Talvez não tenha mais os byes nos Masters 1000, o que agrega oito duplas… Não quero fazer suposições que ainda estão em votação, mas talvez acabem com o no-ad…

Muita gente diz que o no-ad não agregou nada.

Difícil dizer. Em questão de tempo, afeta 15 minutos no mais tardar. Eles fizeram as contas lá. Às vezes não é tão justo ter um no-ad porque tem um momento de sorte logo nesse ponto, sabe? Enfim, eles estão pensando em mudar isso. Vou te dizer que eu gosto de jogar no-ad, mas o "deuce" eu acho que é mais justo.

Para terminar, fala um pouco da tua vida no Rio de Janeiro. Você está aqui há um bom tempo já…

Desde 2011. Sou gaúcho-carioca já.

Acho que ouvi alguém falar "cariúcho".

Cariúcho? (risos) Cariúcho! Vou te dizer que eu sou nômade! (mais risos)

Bom, para um tenista não muda tanto o lugar onde mora…

Mas, por exemplo, agora com o ranking melhor eu vou conseguir saber onde eu jogo, posso fazer um calendário melhor, não vou precisar ficar na estrada o quanto eu fiquei este ano. Mas eu moro com meu pai. Ele é o gestor da Tennis Route. Faz três anos que ele mora aqui comigo. É uma delícia morar com alguém da família porque eu saí de casa com 14 anos e desde os 14 eu não morava com ninguém da família. E meu pai é meu melhor amigo. Tu chega em casa, tem uma base, alguém para conversar e tomar um chimarrão, que é um negócio que eu prezo. A gente mora no Recreio, que é um lugar afastado, tranquilo, e eu gosto muito de morar no Rio de Janeiro. Quanto tenho tempo, pego a bicicleta e vou para a praia, tomo um chimarrão. Minha namorada infelizmente ainda mora no sul, mas sempre que pode vem e fica alguns dias comigo. Difícil eu sair do Rio. Gosto muito do Rio, gosto muito de praia.

Para terminar: eu devia ter perguntado isso antes, mas deixei passar… A última vez que a gente fez um entrevistão você tinha acabado de decidir virar duplista. Esta temporada de 2017 mostra definitivamente que foi a decisão certa?

Certíssima. Principalmente pela questão física minha. Eu nunca descobri nem solucionei minhas questões físicas de desidratação e cãibra.

Acho que foi até o Thiago Quintella, do Globoesporte.com, que me falou isso. Que era o mesmo problema do Thomaz, né?

Exatamente. Tipo… Ano passado, eu joguei um torneio de simples contra o Julinho (Júlio Silva), deu três horas, era de noite, eu perdi sete quilos e meio. Obviamente, eu repus quatro litros dentro da partida, mas mesmo assim fiquei com três quilos e meio a menos. Falei "cara, não quero sofrer assim." Nunca descobri e não sei. Foi uma decisão natural. Eu tinha que achar uma coisa para solucionar isso. Na dupla, não tem esse desgaste. Talvez em Wimbledon, que é cinco sets, mas não tão úmido quanto um Rio de Janeiro. E eu sempre fui um cara que joguei muito chip-and-charge, na rede, saque-e-voleio, e também encaixou, né? Só precisava melhorar a devolução (risos)!

Em uma entrevista com o Bruno, eu citei o seu caso e perguntei se ele achava que era uma tendência o Brasil ter duplistas mais jovens. Não lembro exatamente se ele disse sim ou não, mas lembro que ele falou que o exemplo dele e do Marcelo racionalizava o processo. Quem está começando para pra pensar mais cedo…

Tanto é que o (Fabrício) Neis, o Fabiano de Paula, tem alguns jogadores que querem só jogar dupla. Mas com certeza, isso influenciou por causa do momento que vive o Brasil. E eu sou muito grato pelo Bruno, pela ajuda que ele sempre me deu, de conselhos, de amizade. A gente tem passado bastante tempo junto, agora que estou jogando mais torneios com ele, e é o cara a quem eu sou grato. É um cara do bem.

Legal você dizer isso porque anos atrás o Bruno me contava sobre o quanto ele ganhou jogando com o Kevin Ullyett, lembra dele? Em 2009, o Kevin tinha 37, estava no fim da carreira, e o Bruno nascendo na dupla, vindo de uma semifinal de Roland Garros em 2008. E ele fala que aprendeu demais nesse período com o Kevin.

E eu estava aqui com meu amigo antes de você chegar… Ele checou onde estavam o Bruno e o Marcelo com 28 anos, em 2010. O Bruno estava 35, e o Marcelo estava 39 do mundo. Eu não conferi, foi meu amigo que olhou.

(Na verdade, Melo tinha 27 anos ao fim da temporada de 2010. Ao fim de 2011, com 28 anos, o Girafa era #27 do ranking).

Mas é o que o Aliny (Calejon) fala, né? Com 28 anos em dupla, você é bebê no circuito. Pela frente, você tem aí, fácil, sete anos de carreira, podendo chegar a dez se estiver fisicamente bem.

E jogando os torneios que, pô, sempre via pela TV, sempre almejei. Se não dá na simples, tudo bem!

Isso é o mais legal, né? Qual dos quatro você gosta mais?

Wimbledon.

Adoro pessoas que respondem Wimbledon (risos).

Wimbledon é disparado. Não tem comparação.

Quando você jogou lá pela primeira vez?

Em 2013.

Como é que foi?

Engraçado porque o primeiro jogo foi contra os Bryans.

Eu não estava nem perguntando do jogo. Quero saber a sensação de pisar na quadra.

Inacreditável! Eu lembro que fui andando do vestiário para a quadra com as pernas tremendo. Tremiam! Porque a gente jogava na terça-feira, mas acabou jogando na sexta. A gente aquecia, ia e tal, aí chovia. Trocava, cancelava, daí na sexta-feira o tempo estava feio também, tinha a tensão, eu nunca tinha jogado um grand slam, eu estava jogando com o André Sá, um grande amigo que me ajudou demais. Foi bacana. Não foi tão feio (risos). Foi 6/4, 6/4, 6/1 contra os Bryans. Foi bem bacana, cara.

É um lugar incrível.

A tradição também é um negócio que faz com que tenha um peso maior. É incrível, incrível.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.