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Rafael Nadal, o improvável recordista de longevidade

Alexandre Cossenza

03/11/2017 11h59

A temporada de 2017 pertence a Rafael Nadal. Depois de um par de anos atrapalhado por lesões e mostrando um nível de tênis bem abaixo de seu melhor, o espanhol voltou ao topo do tênis e terminará o calendário em primeiro lugar. Impossível questionar os números. Foram dois títulos de slam (além de um vice), dois de Masters 1000 (e mais dois vices) e outros dois de ATPs 500 (com um vice).

Em números absolutos, não foi a melhor temporada da vida do espanhol. Talvez tenha sido, por outro lado, a mais relevante. Afinal, significou uma volta ao cume do esporte depois de períodos duros. Nos últimos anos, Nadal perdeu jogos em situações nas quais estava habituado a sair vitorioso, deixou de jogar torneios grandes por causa de lesões e competiu em condições longe das ideais. Com mais de 30 anos nas costas – e, principalmente, nos joelhos! – um retorno à liderança do ranking não parecia nada provável àquela altura.

Grande campeão que sempre foi, Nadal nunca deixou de acreditar que podia voltar a vencer como antes. Aos poucos, reconquistou a confiança em seu forehand e em sua capacidade de minar e destruir rivais. O backhand voltou a fazer estrago. O serviço, é bom que se diga, nunca voltou à velocidade daquele US Open de 2010, mas muito mais por opção do que por capacidade (Nadal sempre disse que prefere um tempo extra antes de executar seu segundo golpe). E, acima de tudo, o corpo ajudou.

Quando o físico está em dia, o espanhol treina mais. E o Nadal que pode treinar à vontade é a versão mais perigosa de Nadal. Uma versão que voltou a dominar o saibro europeu, que fez duas finais de slam em quadras duras e que encaixou uma sequência de 18 vitórias em 19 jogos em piso sintético (do US Open até a desistência em Paris, anunciada nesta sexta-feira por causa de dores no joelho).

O mais curioso – e proporcionalmente espetacular – é constatar que Nadal, um tenista que sempre precisou mais do físico do que alguns de seus contemporâneos, se transformou em um campeão e recordista de longevidade aos 31 anos. Ao terminar 2017 como número 1, ele se torna o mais velho tenista na história a fechar uma temporada no topo do ranking. Além disso, é de Nadal o recorde de maior intervalo entre a primeira e a última vez que alguém encerra um ano como #1: nove anos entre 2008 e 2017. Nada mau, não?

Coisas que eu acho que acho:

– Nadal foi o campeão da temporada e terminará 2017 como número 1, mas uma discussão interessante continua ar: quem foi o "melhor" do ano? Ele ou Federer? É possível levantar argumentos interessantes a favor de ambos. O suíço, por exemplo, jogou menos, mas teve aproveitamento melhor (49v e 4d contra 67v e 10d do espanhol). Além disso, superou Nadal nos quatro confrontos diretos do ano e é favorito no caso de um quinto encontro em Londres, no ATP Finals.

– Minha opinião: é fácil imaginar que Federer teria os pontos necessários para ser número 1 se tivesse jogado o circuito europeu de saibro e o Masters de Paris. Mas fazer esse tipo de ponderação seria entrar no reino do "se", e isso significaria imaginar que o suíço, com 35/36 anos durante a temporada, também poderia ter se lesionado e ficado fora de Wimbledon. Ou ainda imaginar se Federer e Nadal teriam esse nível de sucesso se Djokovic e Murray não tivessem sofrido com lesões em 2017. Não adianta. No fim das contas, o que aconteceu de fato foi que Nadal jogou mais, venceu mais e merece ser o melhor do ano. Mesmo com Federer eventualmente conquistando o ATP Finals.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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