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Saque e Voleio

O preocupante (ou não) início de Roger Federer

Alexandre Cossenza

30/08/2017 14h03

Não foi bonito. Tanto no começo quanto no fim, Roger Federer deu sinais de vulnerabilidade. Primeiro, com uma movimentação nada animadora e um backhand descalibrado. Mais tarde, com decisões questionáveis na hora de fechar a partida. Em um jogo que normalmente o suíço venceria sem suar, o público do Estádio Arthur Ashe viu o ex-número 1 do mundo ficar em quadra por cinco sets contra o jovem Frances Tiafoe: 4/6, 6/2, 6/1, 1/6 e 6/4. Mas o que dizer agora, com a vitória na conta de Federer? O que esse triunfo diz em relação às chances do pentacampeão no resto do US Open? É preocupante? Animador? Nenhum dos dois?

Comecemos pelo copo meio vazio e o pavoroso início de partida. Faltou movimentação, faltou precisão, faltou muita coisa. Dos 56 (!!!) erros não forçados que cometeu no jogo inteiro, o suíço somou 18 deles só na primeira parcial. Tiafoe nem estava tão bem assim na partida (venceu o set com apenas seis winners). E aí vem a pergunta: a lentidão ainda era consequência de dores nas costas? Difícil responder sem estar no corpo do tenista, mas o próprio Federer afirmou que esteve cauteloso no começo. Não que o suíço fosse afirmar para todos adversários ouvirem se suas costas ainda estivessem doendo, mas parece uma explicação razoável.

Também preocupou a afobação no quinto set. Federer sacou para o jogo, teve match point e acabou quebrado. Subiu à rede mal três vezes e perdeu os três pontos. Sorte que Tiafoe, sacando em 4/5, cometeu três erros bobos. A precipitação poderia ter jogado Federer em um tie-break de quinto set, onde as margens são mínimas. Depois de comandar o segundo e o terceiro sets, perder o controle do confronto não era o que se esperava do suíço. Não contra Tiafoe, não numa primeira rodada de slam.

Por outro lado, o copo meio cheio diz que o jogo acabou e que, pela lei das probabilidades, Federer não deve ter outra atuação assim. Mesmo que esteja ainda sentindo dores, terá um dia e meio para se recuperar. Além disso, enfrentará Kavcic ou Youzhny, e quem avançar não terá um dia de descanso (privilégios de ter um currículo cheio e jogar na única quadra com teto retrátil). O cenário mais provável é outra vitória do suíço e mais dois dias para tratamento e recuperação. Além dos óbvios treinos que vão deixá-lo mais afiado para a segunda semana.

Outro ponto positivo do jogo foi o saque. Não, Federer não foi espetacular no serviço. No segundo e no quarto sets, ficou abaixo dos 50% no aproveitamento de primeiro serviço. Mesmo assim, há dois dados importantes a apontar. Primeiro, os 63% de acerto no quinto set. Ou seja, no momento mais importante, foi mais preciso. Além disso, há a questão da velocidade, que é quase sempre um bom indício da "saúde" das costas de um atleta. Federer sacou, em média, a 186 km/h o primeiro serviço e a 154 km/h o segundo. Na final de Wimbledon, quando estava 100% fisicamente, os mesmos campos estatísticos registraram 181 km/h e 159 km/h, respectivamente. Logo, não parece que o fundamento tenha sofrido em razão de dores.

Minha opinião? Depois do susto de um quinto set com mais drama do que o necessário/esperado, Federer estará mais forte nas rodadas seguintes. Nem tanto pelo velho chavão "jogo duro dá confiança" porque ele não precisa disso a essa altura da carreira, mas porque terá tempo de se tratar e treinar. Como ele mesmo disse, a ferrugem do começo do jogo era esperada de alguém que passou dias apenas em fisioterapia. Agora, vivo no torneio, a impressão que dá é que o tênis de Federer só tem uma direção a seguir: para o alto. Muito para o alto.

Coisas que eu acho que acho:

– É triste ver o que aconteceu com a temporada 2017 de Angelique Kerber. De campeã do US Open à eliminação na primeira rodada deste ano, com uma queda na estreia também em Roland Garros e oitavas em Melbourne e Wimbledon, a alemã vai deixando o top 10 e indo parar (por enquanto) no 12º posto. Seu saque anda mais vulnerável do que nunca e nem a velha consistência do fundo de quadra tem rendido frutos.

– Nadal pouco empolgou durante sua estreia contra Dusan Lajovic. Esteve errático e quase perdeu o primeiro set. A partir da segunda parcial, encontrou um ritmo melhor e controlou o jogo. Ainda assim, foi um início. Contra um adversário melhor, ceder o controle das ações logo cedo pode custar muito caro. Pelo menos Nadal, assim como Federer, tem mais alguns dias para encontrar um tênis suficientemente bom para competir em alto nível na segunda semana.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.