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Saque e Voleio

A queda de Nadal e quem é quem nas quartas de final em Wimbledon

Alexandre Cossenza

10/07/2017 17h48

A Manic Monday parecia caminhar para terminar como uma rodada de poucas emoções e resultados previsíveis. No entanto, a segunda-feira com todas oitavas de final – masculinas e femininas – raramente decepciona. Desta vez, a emoção veio em doses cavalares com o jogão (em qualidade e duração) entre Rafael Nadal e Gilles Muller. Ace atrás de ace, um bom saque atrás do outro, o luxemburguês de 34 anos e #26 do mundo foi crescendo no jogo e se colocando em uma posição de real ameaça.

Nadal reagiu. Como esperar outra coisa? Venceu o terceiro set, depois forçou o quinto. Com os passos para trás que deu para devolver os serviços de Muller, conseguiu mexer com a cabeça do luxemburguês e colocar mais bolas em jogo. Parecia que o momento era do espanhol, mas se alguém achou que ele atropelaria na parcial decisiva, errou feio. Errou rude. O azarão não ia embora. E mais: como sacava primeiro no quinto set, colocava sempre o favorito sob pressão.

O bicampeão de Wimbledon saiu de 0/15 incontáveis vezes. Também escapou de 0/30 em um punhado de games. Salvou dois match points no 10º game, antes de o quinto set avançar além do 6/6. Salvou mais dois match points no 20º game. Nadal também teve suas chances. Menos, mas teve. Quando Muller sacava em 9/9, foram quatro break points. E se Nadal pode ser acusado de alguma falha em uma derrota tão apertada, vale apontar sua afobação. Apressou dois dos break points. Cometeu um erro em um deles. No outro, arriscou uma subida à rede precipitada. Levou uma passada de Muller.

O luxemburguês, brilhante tecnicamente e firme mentalmente, seguia pressionando até que Nadal sucumbiu. No longínquo 28º game, cometeu erros quando não havia margem. Game, set, match, Muller: 6/3, 6/4, 3/6, 4/6 e 15/13, em 4h48min. Estava completa a grande zebra da Manic Monday.

Quem é quem nas quartas de final

Wimbledon entra na segunda semana com um cenário bem mais claro sobre quem vem jogando bem e pode ser considerado candidato sério ao título. Logo, é hora de analisar os confrontos de quartas de final (meus palpites em negrito).

[14] Garbiñe Muguruza x Svetlana Kuznetsova [7]

O pré-Wimbledon de Muguruza foi pouco inspirador – assim como seu primeiro set nesta segunda-feira – mas a espanhola foi agressiva na medida certa chega às quartas embalada por uma grande vitória sobre a novamente consistente Angelique Kerber. A alemã, aliás, fez um torneio bastante digno, jogando um tênis mais conservador e parecido com o que a levou ao topo do ranking. Podia inclusive ter derrotado Muguruza, mas a espanhola buscou mais o jogo e foi recompensada.

Kuznetsova, por sua vez, navegou uma chave menos complicada (inclusive encarando a Radwanska pouco perigosa de 2017 nas oitavas) e fez o seu com muita competência – sem perder sets, inclusive. Pelo ranking, seria favorita para chegar à semi. O histórico contra Muguruza, contudo, diz o contrário.

Magdalena Rybarikova x Coco Vandeweghe [24]

Rybarikova é "a" surpresa do grupo – menos para Karolina Pliskova. Ao vencer a primeira rodada, a tcheca já dizia que Rybarikova era o pior jogo de segunda fase possível. Não deu outra. A eslovaca derrubou a número 3 do mundo e deu sequência ao ótimo resultado com vitórias sobre Tsurenko e Martic.

Já era de se esperar que Coco e seu saque fizessem algum estrago na grama. A chave também ajudou, e a americana aproveitou para impor sua potência contra Wozniacki nas oitavas. Agora terá uma chance de vingar o 6/1 e 6/4 sofrido diante de Rybarikova. E se vencer, que ninguém duvide que Vandeweghe pode chegar à final.

[10] Venus Williams x Jelena Ostapenko [13]

Vem sendo um Wimbledon estupendo para Venus Williams, que se vê envolvida num caso de acidente de trânsito que terminou com a morte de um passageiro no outro veículo. Enquanto seus advogados trabalham nos EUA, a americana perdeu apenas um set em Londres, confirmando seu status de favorita para chegar às quartas.

A campeã de Roland Garros teve lá seus momentos de instabilidade, mas sua agressividade vem levando a melhor, do mesmo jeito que aconteceu em Paris. esta segunda, a letã derrubou a cabeça 4, Elina Svitolina, que chegou a sacar para o segundo set. Agora vai para o que promete ser um duelo para ver quem ataca primeiro contra Venus.

[6] Johanna Konta x Simona Halep [2]

Fez um dos melhores jogos do torneio e passou um aperto e tanto contra Donna Vekic na segunda rodada. Sacou bem sempre que precisou – e não foram poucas vezes. Konta chega às quartas após bater Caroline Garcia para fazer um jogão contra Halep. O número 1 do ranking estará em jogo, e a britânica é a favorita das casas de apostas para conquistar o título.

Halep conquistou mais uma chance para chegar ao topo. Será a #1 se derrotar Konta. Ainda não perdeu sets, e isso com uma vitória sobre Victoria Azarenka nas costas, o que não é pouco. A bielorrussa vem jogando bem do fundo de quadra, embora seu saque venha sendo uma vulnerabilidade.

[1] Andy Murray x Sam Querrey [24]

Andy Murray já pode trancar a porta do manicômio e seguir adiante. Depois de lidar com as "personalidades peculiares" de Dustin Brown, Fabio Fognini e Benoit Paire, o número 1 do mundo enfim enfrentará alguém que pode lhe ameaçar de verdade em Wimbledon este ano. Será seu primeiro grande teste. É hora de ver se o escocês está afiado o bastante para confirmar seu favoritismo e chegar à final.

Sam Querrey derrubou Jo-Wilfried Tsonga e Kevin Anderson, ambos em cinco sets. É de se imaginar que vai entrar sem peso nas costas e cheio de confiança. Se o saque estiver calibrado, sabe-se lá o que pode acontecer.

[16] Gilles Muller x Marin Cilic [7]

É "surpresa" porque tem que ser. Foi nas oitavas de final de um slam, contra Nadal, em um quinto set longo e tenso. O resultado desta segunda não vai exatamente ao encontro do histórico de Gilles Muller. Maaaas o bom momento do luxemburguês não era segredo nenhum. O título em 's-Hertogenbosch e a semi em Queen's estavam aí para todo mundo ver e analisar. resta saber como o corpo de 34 anos vai reagir às quase cinco horas do jogo contra Nadal e à emoção de conseguir um a vitória tão grande em Wimbledon. O histórico (sempre ele) mostra reveses frequentes dos algozes de Nadal nas rodadas imediatamente seguintes.

Marin Cilic navegou com destreza uma parte nada tranquila da chave. Derrubou o "perigoso" Kohlschreiber, o habilidoso Florian Mayer, o cabeca 26, Steve Johnson, e o cabeça 18, Roberto Bautista Agut. Não perdeu nenhum set. Vem em grande forma e, em condições normais, é favorito para estar na semi.

[6] Milos Raonic x Roger Federer [3]

Se alguém tinha potencial para derrubar Roger Federer antes das semifinais, o nome óbvio era Milos Raonic. O canadense confirmou seu favoritismo e chegou até as quartas com uma bela vitória em cinco sets sobre Zverev. Fisicamente, esteve bem (até agora). Se vai conseguir repetir o feito do ano passado e despachar o suíço, é outra história – que pode ser bem diferente da de 2016.

O Federer de hoje está melhor fisicamente do que no ano passado e tão afiado tecnicamente quanto jamais esteve. Não por acaso, passou tão fácil por Dimitrov nas oitavas. Não que o búlgaro tenha sido brilhante. Grigor fez exatamente o tipo de jogo que mais beneficia o suíço, acelerando jogadas e tentando atacar a qualquer custo. Não deu certo. E Federer, que não perdeu sets, continua sendo o principal favorito ao título. Será preciso uma atuação estupenda de Raonic para que aconteça nova zebra.

[11] Tomas Berdych x Adrian Mannarino / Novak Djokovic [2]

Difícil combinar Berdych e regularidade na mesma frase, mas o tcheco foi consistente o bastante para avançar em uma seção que tinha Chardy, Harrison, Ferrer e Thiem. Uma lista muito digna de vitórias. Thiem poderia ter feito melhor, mas resolveu aceitar o jogo de pancadaria direta de Berdych e se deu mal. Cabe ao tcheco agora tentar impor seu saque e sua potência contra – provavelmente – Djokovic. O sérvio jogaria contra Adrian Mannarino nesta segunda, mas a longa duração de Nadal x Muller (e a recusa do torneio em trocar Nole de quadra por motivos de segurança – vide tweet abaixo) fez com que a partida fosse adiada.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.