O que separa Bia Haddad da elite (por enquanto)
Bia Haddad entrou na Quadra 1 de Wimbledon com status de zebra, diante da número 2 do mundo, Simona Halep. Soltou o braço e abriu 3/0 no primeiro até que a romena elevasse seu nível, equilibrasse as ações e deixasse a partida emocionante. A brasileira ainda sacou para fechar o primeiro set, mas foi quebrada. No fim, Halep saiu de quadra vitoriosa por 7/5 e 6/3. Um resultado esperado, ainda que num jogo muito mais parelho do que o que se poderia imaginar.
No balanço, foi uma partida com vários pontos positivos para Bia, atual #97 no ranking da WTA. Não só porque foi apenas sua segunda partida na vida em uma chave principal de Wimbledon, mas porque a paulista fez muitas coisas do jeito que deveria fazer. Inclusive tomar a iniciativa do jogo, que era a única maneira de sair de quadra com uma vitória nesta quarta-feira.
Talvez o mais interessante do tênis de Bia é que ele foi bem planejado, e ela é muito consciente disso, o que fica claro toda vez que a paulista entra em quadra. A ideia é aproveitar seu 1,85m de altura, sacar bem e ganhar pontos de graça já no serviço ou comandar o ponto a partir da segunda bola. Sempre atacando primeiro, distribuindo bolas e fazendo a adversária se movimentar o tempo inteiro. Na devolução, agredir o segundo saque e, de novo, tomar o comando das ações.
O plano é traçado para aproveitar a altura e a potência da paulista, minimizando sua movimentação, que nunca será a melhor do circuito. É o jeito Kvitova de jogar. Bia sempre se espelhou na tcheca (bicampeã de Wimbledon) e hoje talvez seja a brasileira (incluindo homens) com o jogo taticamente mais bem definido. Ela começa as partidas sabendo o que precisa fazer e sempre vai atrás dos pontos. Não troca bolas sem propósito, não tenta disparar winners de olhos fechados nem espera que os pontos caiam do céu. Não foi diferente contra Halep.
O que faltou? No primeiro set, tirar mais do primeiro serviço. Conquistar 52% dos pontos com o fundamento não é suficiente contra Halep, que vence a maioria dos ralis em quase todas as partidas. Esse número subiu para 62% no segundo set, mas Bia venceu só 27% dos pontos com o segundo serviço. Superar Halep exigiria mais consistência, mais precisão, menos oscilações. A romena não está no top 10 por acaso.
É justamente o que ainda separa Bia da elite. A brasileira consegue fazer jogos parelhos contra gente da estirpe de Elena Vesnina e Simona Halep, mas precisa oscilar menos. Nesta quarta, na primeira real queda de nível da brasileira, a romena venceu dez pontos seguidos e saiu rapidinho de 2/3 para 6/3.
A distância não é tão grande assim. Talvez já fosse menor se a carreira profissional de Bia não tivesse sido interrompida por lesões em diferentes momentos. De qualquer modo, é animador ver que a paulista conhece suas armas, suas deficiências e o necessário para tirar o máximo de seu tênis. Um pouco mais de vivência em torneios e jogos grandes, e Beatriz Haddad Maia pode ir muito, muito longe.
Coisas que eu acho que acho:
– Comentei no podcast Quadra 18 que o favoritismo de Petra Kvitova era superestimado ela não havia sido testada o bastante na grama. Pois no primeiro jogo complicado, os nervos apareceram, e a tcheca acaou eliminada por Madison Brengle: 6/3, 1/6 e 6/2. Resultado bom para Johanna Konta, cabeça 6, que encontraria Kvitova nas oitavas. A britânica, aliás, venceu um jogo duríssimo contra Donna Kevic, sacando muito sempre que esteve contra as cordas: 7/6(4), 4/6 e 10/8.
– Enquanto isso, a campeã de Roland Garros passou um grande aperto diante da canadense Françoise Abanda (#142). Depois de perder o primeiro set, Jelena Ostapenko venceu um nervoso tie-break e triunfou na parcial decisiva: 4/6, 7/6(4) e 6/3.
– O Brasil já ficou sem seus quatro simplistas, já que Bellucci e Rogerinho haviam perdido na estreia. Thiago Monteiro caiu hoje diante de Karen Khachanov: 3/6, 7/6(5), 7/6(3) e 7/5. Era o resultado esperado, mas deve ter deixado um gosto amargo para o cearense, que teve uma quebra de vantagem no segundo e no quarto sets, além de um set point na terceira parcial. As três foram vencidas por Khachanov, que errou muito ao longo do jogo (50 erros não forçados na generosa/econômica matemática dos estatísticos de Wimbledon), mas foi atrás da vitória o tempo inteiro. Monteiro, que apostou na regularidade (e nos erros do rival), só conseguiu um winner nos dois tie-breaks. O golpe vencedor veio tarde demais, quando o russo já tinha 6/1 no placar.
– Andy Murray e Rafael Nadal venceram bem. O britânico esteve afiado para lidar com o jogo imprevisível de Dustin Brown, o que é animador, mas não é o tipo de desafio que serve como parâmetro para analisar suas chances na segunda semana. O espanhol fez outra bela apresentação e bateu Donald Young em três sets. É a primeira vez desde 2014 que Nadal chega na terceira rodada em Wimbledon e, pelo demonstrado até agora, não parece que ele vai parar por aí.
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