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Wimbledon 2017: o incrível salto de Petra Kvitova ao posto de favorita

Alexandre Cossenza

01/07/2017 02h20

Um mês atrás, Petra Kvitova era dúvida para o torneio de Roland Garros. Ainda em processo de recuperação após uma lesão séria em um tendão da mão esquerda, a tcheca pensava apenas em voltar a jogar tênis profissional. Hoje, uma vitória em Paris e outras cinco em Birmingham depois, a #12 do mundo surge em Wimbledon como mais cotada ao título.

Como isso aconteceu? Obviamente, o histórico da bicampeã no All England Club pesa. Também conta a campanha do título em Birmingham, ainda que o troféu tenha vindo após uma série de vitórias nada espetaculares. Mas, claro, essa conta também passa pelas ausências de Serena Williams e Maria Sharapova (principalmente a americana) e pelo momento pouco animador do resto do circuito feminino. É disso que trata este guiazão, que avalia as chaves, imagina cenários e lista os jogos mais interessante na primeira rodada – e onde vê-los. Role a página e fique por dentro.

A favorita

O potencial é inegável. Kvitova tem um ótimo saque, um forehand mortal e um slice venenoso. Um pacote completo que, quando funcionando em força máxima, transforma adversárias em espectadoras. Dois títulos de Wimbledon estão aí como prova. Faltariam, contudo, ritmo de jogo e consistência. O título em Birmingham, por outro lado, aumentou a dose de otimismo. Pouca gente lembra, a essa altura, que Kvitova só passou das oitavas uma vez nos últimos dez slams que disputou. É muito pouco para tanto talento. Logo, é preciso analisar esse favoritismo da tcheca com cuidado.

Contra Kvitova pesa o sorteio da chave. Ela, afinal, precisaria enfrentar Johanna Konta, a terceira mais cotada ao título, logo nas oitavas de final. A britânica, lembremos, foi vice em Nottingham e só perdeu em Eastbourne nas semifinais – e por WO . Em condições normais, seria um jogo duríssimo para Kvitova. Konta, porém, sofreu uma lesão nas costas e disse não saber se estará 100% já nos primeiros dias em Wimbledon. Além disso, a inglesa vai enfrentar na estreia sua algoz em Roland Garros. Será?

Fora esse possível (ou provável?) encontro com Johanna Konta, Kvitova tem uma chave acessível. Estreia contra Larsson, Brengle ou Hogenkamp na segunda rodada, provavelmente Garcia em seguida. A favorita para chegar às quartas seria Simona Halep, que ainda briga pela liderança do ranking. Só que a romena não impõe na grama os mesmos obstáculos que são tão eficientes no saibro. Por fim, nas semifinais, Kvitova enfrentaria a vencedora de uma seção que tem Svitolina, Cibulkova, Venus e Ostapenko como principais cabeças de chave.

Resumindo: é possível imaginar Kvitova atropelando a chave e conquistando um terceiro título no All England Club? Claro que sim. Seria fantástico. Mais uma página no conto de fadas pessoal da tcheca. Mas também é perfeitamente possível que Kvitova tenha um dia ruim – como muitos outros em sua carreira – e tombe de forma precoce ainda na primeira semana. Seu favoritismo, pelo menos por enquanto, é muito mais baseado em seu potencial do que no tênis mostrado recentemente.

As outras candidatas

Em condições normais, quem seriam as candidatas a um título em Wimbledon? Uma lista assim poderia incluir Angelique Kerber (vice-campeã em 2016), Karolina Pliskova (#3 do mundo), Agnieszka Radwanska (vice em 2012), Venus Williams (pentacampeã), Garbiñe Muguruza (vice em 2015) e um punhado de outros nomes que correm por foram, como Sabine Lisicki (vice em 2013), Coco Vandeweghe, Madison Keys, etc.

Agora vejamos por que elas estão atrás de Kvitova, Pliskova e Konta nas listas de favoritas. Angie não vem jogando com a confiança e a solidez que a levaram ao topo; Aga venceu só quatro dos últimos dez jogos que fez e foi derrotada na única apresentação que fez na grama em 2017; Venus atravessa um momento difícil na vida pessoal (leia abaixo com mais detalhes) e Muguruza tem o potencial, mas também tem a oscilação que lhe derrubou diante de Barty (Birmingham) e Strycova (Eastbourne).

Restam, então, Karolina Pliskova e sua movimentação deficiente (embora compreensível para seu 1,86m de altura). A tcheca, sim, tem um retrospecto digno na grama, com 13 vitórias e três derrotas desde o ano passado. Pliskova tem ainda uma chave interessante, com Rodina na estreia, Niculescu/Rybarikova na sequência e possivelmente Xhang na terceira rodada.

As oitavas seriam contra a vencedora da seção encabeçada por Gavrilova e Pavlyuchenkova. Wozniacki e Mladenovic são os nomes mais cotados para estarem nas quartas. E se você ainda não achou a chave de Pliskova interessante, saiba que ela enfrentaria nas semis a "campeã" do quadrante de Kerber e Kuznetsova, que também tem Radwanska e Muguruza. Qualquer uma das quatro (ou nenhuma delas) pode estar na Quadra Central na segunda quinta-feira.

As seções mais difíceis de prever

Sem ninguém em momento dominante, a chave dá chances para muita gente – especialmente com o equilíbrio da WTA e a imprevisibilidade que vem junto com partidas em melhor de três sets. Por tudo que já foi dito acima, há dois quadrantes mais interessantes na chave. O de Kerber, Muguruza, Radwanska e Kuznetsova, onde é muito possível que nenhuma das quatro chegue às semifinais; e o de Svitolina, Cibulkova, Venus e Ostapenko, onde é possível que vejamos o incrível (ou incrivelmente ruim) duelo de Jelena Ostapenko e Madison Keys. Alguém aí arrisca palpites para esses grupos? Eu, não.

A interessante corrida pelo número 1

Em Roland Garros, Karolina Pliskova e Simona Halep estiveram perto, mas não conseguiram tirar Angelique Kerber do topo do ranking. Agora, em Wimbledon, o número 1 está em jogo novamente – e, mais uma vez, com Pliskova e Halep na briga.

Desta vez, Kerber tem 1.300 pontos a defender, já que foi vice-campeã em 2016, enquanto Pliskova eliminada na segunda rodada, defende só 70 pontos. Logo, a tcheca é quem tem mais chances de sair de Londres na ponta (a matemática exata só dá para fazer após a final de Eastbourne). No entanto, Halep também terá chances se pelo menos alcançar as quartas.

A briga também inclui Elina Svitolina e , possivelmente, Caroline Wozniacki – se a dinamarquesa vencer Eastbourne. As duas, porém, precisariam de combinações de resultados para alcançarem o número 1.

A história mais desagradável

Venus Williams chega a Wimbledon como personagem principal de um acidente de trânsito que causou a morte de um passageiro no outro veículo. Segundo o relatório da polícia, a tenista americana foi a culpada no acidente porque entrou num cruzamento e parou no meio dele por causa do trânsito parado à sua frente. A motorista do outro carro, que tinha a preferência, não conseguiu frear, o que ocasionou o acidente.

O marido da motorista, um cidadão de 78 anos chamado Jerome Barson, foi levado para o hospital no dia 9 de junho com traumas na cabeça e morreu duas semanas depois. Não deve ser algo fácil de lidar para a pentacampeã de Wimbledon. O advogado da família Barson disse já ter iniciado um processo contra a tenista.

A brasileira

Bia Haddad não está na mais fácil das chaves, mas tem uma oportunidade interessante. Ela vai enfrentar a britânica Laura Robson (sim, quadra grande e torcida contra), que era uma promessa aos 14 anos, em 2008, alcançou o 23º lugar do ranking em 2013, mas sofreu com lesões antes e depois disso. Atual #188 do mundo, Robson só jogou uma chave principal de WTA este ano. Foi em Nottingham, graças a um wild card, e ela foi eliminada na estreia por Julia Boserup (#87) em dois sets.

Caso consiga avançar, a brasileira pode enfrentar a cabeça 2, Simona Halep, que estreia diante da neozelandesa Marina Erakovic. Seria outra partida interessante.

Os melhores jogos na primeira rodada

Seja pelos nomes ou pela grande fase atual de alguém, o que mais tem nessa chave feminina de Wimbledon é jogão na primeira rodada. Minha lista inclui Radwanska x Jankovic (tudo pode acontecer!!!), Puig x Bacsinszky (campeã olímpica contra a semifinalista de RG), Lisicki x Konjuh (lembremos que a alemã já fez uma final em Wimbledon), Barty x Svitolina (potencial considerável de cabeça rolando), Konta x Hsieh (a taiwanesa eliminou a inglesa em RG), Azarenka x Bellis, Suárez Navarro x Bouchard e Haddad x Robson. Vai ser divertido ou não esse torneio?

Tenistas perigosas que todo mundo deveria estar olhando

É Wimbledon, então faz-se obrigatória a menção à búlgara Tsvetana Pironkova. Em 2010, ela eliminou Bartoli e Venus para alcançar as semifinais. Em 2012, tirou Zvonareva e Venus (de novo!) antes de tombar nas quartas. Tudo bem, Pironkova não vence uma partida em Wimbledon desde 2013, mas ninguém quer estar perto dela numa chave. A búlgara encara Sara Errani na primeira rodada e, se vencer, deve enfrentar Caroline Wozniacki, cabeça 5. Não seria intrigante?

Outro nome óbvio é o de Victoria Azarenka, que voltou ao circuito em Malhorca e ganhou na estreia depois de salvar match points. Vika perdeu logo em seguida para Ana Konjuh e chega em Wimbledon com um grande ponto de interrogação acima de sua cabeça. Sua rival de primeira rodada será CiCi Bellis. A fase seguinte é contra Vesnina, cabeça 15, ou Blinkova.

Onde ver

A Globosat mostra Wimbledon no SporTV3, enquanto o canal da Disney usa a ESPN e a ESPN+, além de incluir o programa diário Pelas Quadras, sempre às 19h, ao vivo, para debater o que aconteceu no evento.

Quem prefere opções "alternativas" pode optar pelos streams oficiais de casas de apostas como a bet365 (se não me engano, é preciso fazer um depósito qualquer com cartão de crédito) ou os piratas do Batman Stream e outros sites.

Além disso, haverá conteúdo ao vivo no Twitter no @WimbledonChnl e no site Wimbledon.twitter.com. Isso inclui notícias, entrevistas e cenas de bastidores, segundo informa a assessoria de imprensa do Twitter. Não haverá transmissão de partidas.

Nas casas de apostas

Duas tchecas são as mais cotadas. Primeiro, Petra Kvitova, bicampeã de Wimbledon e vindo do título em Birmingham. Logo atrás, Karolina Pliskova, campeã de Nottingham em 2016, vice de Eastbourne no ano passado e atual finalista também em Eastbourne (escrevo o post antes da final contra Caroline Wozniacki).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.