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Wimbledon 2017: Federer e mais quem?

Alexandre Cossenza

30/06/2017 13h15

Andy Murray fez apenas um jogo oficial na grama – e perdeu; Rafael Nadal evitou Queen's e ganhou uma de duas exibições; Novak Djokovic não foi testado na fraca chave de Eastbourne; Stan Wawrinka também tombou na estreia em Queen's; e o mesmo vale para Milos Raonic. Juntemos tudo isso e temos Roger Federer, campeão pela nona vez em Halle e hepta em Wimbledon como favorito em mais um slam.

Não que o suíço precisasse de um cenário nebuloso de seus adversários para ser o mais cotado no All England Club. É isso, no entanto, que se apresenta antes do início de Wimbledon. Este post avalia o sorteio e o que pode acontecer nas próximas duas semanas em Londres, chamando atenção para a juventude que sai do qualifying, as chances dos brasileiros, onde vê-los e as cotações das casas de apostas.

O maior favorito

A derrota para Tommy Haas na primeira rodada em Stuttgart pouco ou nada pesa nessa equação, já que os resultados e as atuações em Halle foram um bom indício do que esperar de Roger Federer em Wimbledon. Primeiro porque o suíço avançou na chave sem jogar brilhantemente. Depois porque aos poucos foi evoluindo, sacando melhor, e terminando sua participação com uma imponente vitória sobre Alexander Zverev.

O sorteio pouco mudou o favoritismo de Federer nesta edição de Wimbledon, embora não seja a mais fácil das caminhadas. Ou não fosse a mais fácil das caminhadas para um tenista normal. É preciso tomar cuidado extra porque a gente tende a analisar Federer de um jeito diferente justamente por causa de seu histórico na grama.

Uma estreia contra Dolgopolov, por exemplo, seria traiçoeira para a maioria dos tenistas. No caso do suíço, é difícil imaginar um jogo equilibrado. O mesmo vale para um eventual encontro com Mischa Zverev na terceira rodada. Também poderia ser perigoso encarar John Isner nas oitavas, mas o americano nunca foi tão longe no All England Club. Talvez a primeira ameaça real seja Milos Raonic, nas quartas de final. Foi o canadense, afinal, que eliminou Federer ano passado. Parece improvável, até por seu ano pouco brilhante até agora, que esse raio caia duas vezes no mesmo lugar.

O favorito na outra metade dessa chave de baixo é Novak Djokovic, o cabeça 2. E é uma metade chatinha toda vida, que inclui uma estreia contra Klizan, uma possível terceira rodada contra Del Potro, Kokkinakis ou Gulbis, oitavas contra Monfils ou Feliciano e quartas contra Thiem, Gasquet ou Berdych. Se Nole passar por isso tudo, a semi contra Federer pode ser bem interessante. Recentemente, porém, o sérvio não vem mostrando tanta consistência assim – mesmo levando em conta sua boa campanha em Eastbourne (este post é escrito antes da final). E talvez seja necessária uma atuação do nível de 2014 e 2015 para derrubar o suíço mais uma vez. Hoje, antes do início do torneio, não parece provável. Daqui a uma semana e meia, quem sabe?

O "campeão" do sorteio

Andy Murray, o atual número 1, não teve um sorteio tão generoso assim. O bicampeão de Wimbledon pode encarar Fognini ou Vesely na terceira rodada, Kyrgios ou Pouille nas oitavas e Tsonga ou Wawrinka nas quartas. Não é o caminho dos sonhos de ninguém. Muito menos para alguém que vem oscilando a temporada inteira. Dá para imaginar em um de dois cenários: ou o escocês passa por esse povo todo elevando seu jogo e adquirindo ritmo ou ele fica pelo caminho cedo.

Quem se deu bem mesmo no sorteio foi Rafael Nadal. De novo. Não tanto porque a chave é fácil, mas porque ele pode ter algumas rodadas para se adaptar melhor à grama. Ele estreia contra o australiano John Millman e, na segunda rodada, pega Young ou Istomin. Khachanov apareceria na terceira rodada, antes de um eventual duelo com Karlovic ou Gilles Muller nas oitavas.

Não dá para falar das chances de Nadal na grama sem abordar a questão física. Ainda em Roland Garros, o espanhol disse que precisaria estar com os joelhos em ótima forma, para conseguir fazer base e jogar na posição mais baixa que a grama exige. Não ir a Queens foi um indício de que nem tudo estava tão bem. A derrota para Berdych na exibição – ainda que seja só exibição – em Hurlingham também não foi tão animadora.

A primeira semana de Wimbledon dará um panorama melhor. Até lá, convém não ser otimista demais quanto às chances do espanhol. Agora… se ele passar por Khachanov e alcançar as oitavas, é bom prestar bastante atenção no bicampeão. Ninguém que fez cinco finais seguidas em Wimbledon esquece como jogar na grama, certo?

A melhor história

O assunto ainda não ganhou tanta força, mas pode crescer durante as duas semanas. Andy Murray, afinal, pode perder a liderança do ranking para Rafael Nadal, Stan Wawrinka ou Novak Djokovic.

Nadal pode ser número 1 já nas oitavas, mas dependeria de outros resultados. Para não precisar torcer contra ninguém, precisa alcançar a final para voltar ao topo. O mesmo vale para Murray. Wawrinka precisa ser campeão, e Djokovic tem que levantar o troféu e contar com derrotas dos rivais.

Federer, que não jogou no segundo semestre do ano passado, não pode chegar ao topo. Se conquistar mais um título em Londres, o suíço pode chegar até a terceira posição no ranking – não mais do que isso.

Os brasileiros

De modo geral, o sorteio foi generoso para os brasileiros. Não dá para reclamar, considerando que nenhum dos três é cabeça de chave e nenhum deles vai estrear contra um dos 32 pré-classificados. Rogerinho foi o mais azarado e vai encarar o francês Benoit Paire, atual #43. Pior: se vencer, pega Kyrgios ou Herbert.

Thiago Monteiro, que não fez nenhum torneio preparatório na grama e optou por disputar dos Challengers no saibro (Blois e Milão – ganhou um jogo e perdeu dois) pega o qualifier australiano Andrew Whittington (#209).

Bellucci também se deu bem e vai estrear contra um qualifier. O paulista, que está sem técnico após encerrar o trabalho com João Zwetsch e só fez um jogo na grama (perdeu para Kevin Anderson em Eastbourne), joga contra o austríaco Sebastian Ofner (#215).

Os brasileiros nas duplas

Wimbledon felizmente sorteia as duplas junto com as simples, então dá para incluir aqui o que esperar de Bruno, Marcelo e companhia. Soares e Jamie Murray, cabeças 3, ficaram na chave de baixo, que é a menos perigosa (no papel). Eles estreiam contra Jebavy e Vesely e, se vencerem, encaram Duran/Molteni ou Groth/Lindstedt. Confirmados os respectivos favoritismos, brasileiro e britânico enfrentarão Klaasen/Ram nas quartas de final e, depois, Bryan/Bryan ou Herbert/Mahut na semi.

O cenário é um pouco mais complicado para Melo e Lukasz Kubot, cabeças 4. Eles estreiam contra Koolhof/Middelkoop e pegam Petzschner/Peya ou Haase/Inglot na sequência. A chave prevê um confronto com Mergea/Qureshi nas oitavas e Rojer/Tecau ou Bopanna/Roger-Vasselin nas quartas. Os prováveis rivais da semi seriam os cabeças 1, Kontinen e Peers, ou os cabeças 6, Dodig e Granollers.

André Sá, finalista em Eastbourne, jogará ao lado de Dudi Sela e vai encarar na estreia Monroe e Sitak; Demoliner, junto com seu habitual parceiro Marcus Daniell, estreia contra Kuznetsov e Tipsarevic; e Rogerinho, último brasileiro eliminado nas duplas em Roland Garros, joga com Belucci desta vez. Os dois pegam Nestor e Martin na estreia.

Os melhores jogos na primeira rodada

Parece que Juan Martín del Potro tem lugar cativo nesta seção. Mesmo agora, já ocupando uma posição de cabeça de chave, o argentino faz um dos jogos mais duros da primeira rodada ao estrear contra o australiano Thanasi Kokkinakis. Está longe de ser a única partida interessante da rodada inicial. A lista também pode incluir Gasquet x Ferrer e Berdych x Chardy, duelos da mesma seção da chave.

Além disso, vale olhar com atenção Cilic contra o "perigoso" Kohlschreiber, Verdasco x Anderson, Mischa x Tomic e Isner x Fritz.

Juventude do qualifying

Não há como não notar os muitos nomes jovens chegando à chave principal de Wimbledon via qualifying. Vide Tsitsipas (18 anos) Rublev (19), Fritz (19), Garin (21), Ofner (21) e Jarry (21). E não dá para não registrar que o Brasil não teve nenhum tenista no torneio classificatório do slam britânico. Apenas Feijão, atual #150, teria ranking para participar, mas optou por não ir.

Onde ver

A Globosat mostra Wimbledon no SporTV3, enquanto o canal da Disney usa a ESPN e a ESPN+, além de incluir o programa diário Pelas Quadras, sempre às 19h, ao vivo, para debater o que aconteceu no evento.

Quem prefere opções "alternativas" pode optar pelos streams oficiais de casas de apostas como a bet365 (se não me engano, é preciso fazer um depósito qualquer com cartão de crédito) ou os piratas do Batman Stream e outros sites.

Além disso, haverá conteúdo ao vivo no Twitter no @WimbledonChnl e no site Wimbledon.twitter.com. Isso inclui notícias, entrevistas e cenas de bastidores, segundo informa a assessoria de imprensa do Twitter. Não haverá transmissão de partidas.

Nas casas de apostas

Roger Federer, para a surpresa de ninguém, é o mais cotado. Talvez seja espantoso, sim, o nome de Rafael Nadal como o segundo mais cotado – acima até do atual campeão, Andy Murray, que obteve resultados recentes muito melhores na grama. Por outro lado, dá para entender o medo das casas de apostas de perder dinheiro em caso de uma arrancada do espanhol nas próximas semanas.

O guia feminino

Não vai dar tempo de publicar o guia para a chave feminina ainda hoje. Ele deve pintar aqui no blog amanhã (sábado). Até lá!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.