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Jelena Ostapenko: 299 winners, senhora de seu destino e campeã de Roland Garros

Alexandre Cossenza

10/06/2017 13h55

Sete jogos, 299 winners. Não é erro de digitação. Duzentas e noventa e nove bolas vencedoras saíram da raquete de Jelena Ostapenko na campanha que levou a letã ao título de Roland Garros. Pancada atrás de pancada, a jovem que completou 20 anos dois dias atrás foi abrindo caminho. E que caminho!

É bem possível que digam por aí que este torneio de Roland Garros não teve Serena nem Azarenka nem Sharapova, mas Ostapenko passou por uma campeã olímpica (Puig) na segunda rodada, uma campeã de slam (Stosur) nas oitavas e uma ex-número 1 (Wozniacki) nas quartas, antes de derrubar a grande favorita ao título na final. Uma campanha que incluiu triunfos em dias de sol, jornadas com vento e sets jogados em quadra pesada pela chuva. Que ninguém questione.

O jogo

A final, um triunfo por 4/6, 6/4 e 6/3 sobre Simona Halep, foi um microcosmo de seu torneio. Ostapenko entrou em quadra para ser a senhora de seu destino. Atacou sempre primeiro. Bateu com força total de todas as posições da quadra, em todos os ângulos, para todos os cantos. Às vezes, antes da hora. Às vezes, para longe. Mas sempre ditando o ritmo. Jamais deixou a adversária se sentir confortável.

É fácil dizer agora, com o placar desligado, que Halep deveria ter atacado mais. A romena fez o que a maioria consegue fazer contar Ostapenko. Se segurou no fundo, tentou aprofundar bolas, se defender e exigir que a letã atacasse de posições menos favoráveis. Funcionou durante um set e meio. Halep, lembremos, venceu o primeiro set, abriu 3/0 no segundo e ainda teve três break points para fazer 4/0. Mas, no fim das contas, os oito winners da romena foram muito pouco.

O que mudou? Ostapenko passou a acertar mais. Winner atrás de winner atrás de winner, a letã foi saindo do buraco. No 4/4, Halep esteve a dois games do título, assim como em 2014. Com a vitória, viria também o número 1. Ostapenko não deixou. Nem no segundo nem no terceiro set, em que Halep sacou para abrir 4/1. A jovem de 20 anos insistiu, martelou, e atirou como um gamer que usa macete para ter munição infinita. Fez winner até quando errou (vide vídeos acima e abaixo). Era seu dia. Dia que ela mesma construiu. Dia de uma nova campeã de Grand Slam.

Os winners

Segundo a WTA, Jelena Ostapenko chegou à final após executar 245 winners em seis partidas. Na sétima, disparou mais 54. Terminou o torneio com 299 bolas vencedoras. Não por acaso, Halep disse na coletiva que se sentiu como uma espectadora em alguns momentos da final.

Halep, aliás, somava 118 winners (menos da metade) antes do jogo deste sábado. Com os oito da final, terminou o torneio com 126.

A coincidência

Já foi registrado aqui no blog uns dias atrás, mas vale lembrar no dia do título: Jelena Ostapenko venceu em Roland Garros seu primeiro título de nível WTA. O último tenista a vencer seu primeiro título de mesmo nível (ATP, no caso) foi Gustavo Kuerten, em 1997. O 8 de junho de 1997, dia daquela final contra Sergi Bruguera, foi também o dia em que Ostapenko nasceu. Que coisa, não?

No ranking

Com as derrotas de Karolina Pliskova nas semifinais e Simona Halep na decisão, Angelique Kerber continua na liderança do ranking. A romena fica como número 2, seguida pela tcheca. Serena, Svitolina, Cibulkova, Wozniacki, Konta, Kuznetsova e Radwanska completam o top 10.

A grande subida fica por conta de Ostapenko, atual número 47 do mundo. Ela aparecerá no 12º posto nesta segunda-feira, quando sair a próxima atualização.

A previsão

Bruno Soares jogou ao lado de Ostapenko na chave de duplas mistas. Os dois perderam cedo, mas o mineiro falou maravilhas da letã e fez uma previsão ousada uma semana atrás, afirmando que ela entraria no top 100 em 2018.

O brasileiro, que também já jogou mistas ao lado de Anabel Medina Garrigues, atual técnica de Ostapenko, esteve no box da letã durante as semifinais. Hoje, depois do título, parece até que a previsão vai se confirmar antes do que Soares esperava.

O ponto do dia

Difícil escolher um dos 54 winners de Ostapenko para incluir aqui, mas fiquemos com essa paralela de direita na corrida.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.