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RG, dia 13: Nadal e Wawrinka - como eles chegaram à final e o que precisarão para vencê-la

Alexandre Cossenza

09/06/2017 16h09

Cada um de seu jeito, com planos de jogo distintos e de maneiras muito diferentes, Rafael Nadal e Stan Wawrinka conquistaram, nesta sexta-feira, suas vagas na final de Roland Garros. O texto de hoje analisa taticamente as duas semifinais, ilustrando com vídeos de lances espetaculares e recheando com números interessantes.

Os 87 winners

Demorou, mas Stan Wawrinka confirmou seu favoritismo e fez valer seu plano de jogo. Disposto a agredir Andy Murray do começo ao fim da partida, o suíço partiu para o ataque desde os games iniciais. Agrediu e agrediu e agrediu até quando a execução não foi a melhor. Perdeu o primeiro set, mas acreditou na tática. Quando conseguiu mais winners do que erros não forçados, levou a melhor.

Stan podia ter vencido por 3 sets a 0 tranquilamente. Na primeira parcial, sacou em 5/3 e, mais tarde, teve um set point com seu serviço no tie-break. No terceiro set, sacou em 4/2 antes de levar a virada. Não triunfou com mais facilidade porque o número 1 do mundo lutou como sempre. Seu tênis não machucava na briga pelo controle dos ralis, mas exigia precisão do suíço. E exigiu tanto que o campeão de 2015 esteve a um game da eliminação.

Wawrinka, porém, venceu um tenso tie-break de quarto set para esticar a partida. Murray, esgotado, sentiu o baque. Stan the Man, que reduziu seus erros no fim e terminou com 87 winners e 77 erros não forçados (contra 36 e 36 de Murray, respectivamente), fechou o encontro por 6/7(6), 6/3, 5/7, 7/6(3) e 6/1, em 4h34min.

Importante: quem segue minha conta no Twitter sabe que viajei de São Paulo de volta para casa durante os quatro primeiros sets da partida. Os quatro parágrafos acima descrevem o jogo baseados no resumo que me foi feito por Sylvio Bastos, amigo, comentarista de tênis no Fox Sports e parceiro de empreitada no Grand Slam Club.

O passeio

Dominic Thiem eliminou (um esgotado, é verdade) Rafael Nadal no Masters de Roma e começou esta sexta-feira quebrando o saque do espanhol. Mas se alguém se animou com a perspectiva de uma zebra ou pelo menos de um duelo equilibrado e emocionante, logo levou uma ducha gelada na cabeça. Nadal, mesmo sem começar o encontro jogando tão bem, devolveu a quebra, venceu três games seguidos e abriu vantagem rapidinho. O austríaco até que teve suas chances. Obteve mais quatro break points, divididos em dois games, ainda na primeira parcial. Não converteu.

Nadal aproveitou que as pancadas kamikazes de Thiem não entravam com a frequência necessária e, aos poucos, foi calibrando seu tênis. A partir do segundo set, nem correu riscos demais nem deu tantas chances ao oponente. O austríaco, por outro lado, foi perdendo a fé em seus golpes. E quando bater forte na bola não dá certo, o que fazer contra Nadal em Roland Garros? Alongar os ralis? Thiem até tentou isso em alguns pontos, mas quase sempre acabou correndo atrás da bola ou vendo um winner inapelável passar por seu lado. Não havia para onde correr.

Quando abriu o terceiro set com uma quebra, Nadal aplicou o golpe final. Thiem desmoronou e não fez mais nada lógico. Fim de papo: 6/3, 6/4 e 6/0, em 2h07min. Enquanto o eneacampeão fez 23 winners e 22 erros não forçados, o austríaco acumulou 21 e 34 nos mesmos quesitos. Outro número importante: Nadal converteu 6/10 em break points. Thiem, apenas 1/8 (desses oito, cinco vieram no primeiro set e um, solitário, apareceu no último game da partida).

No ranking

Pela primeira vez desde 2009, Novak Djokovic deixará de ocupar uma das três primeiras posições na lista da ATP. O sérvio, que saiu de Roland Garros ano passado como detentor dos quatro títulos de grand slam, agora ficará sem nenhum troféu. A liderança do ranking continuará com Andy Murray, e o segundo posto será decidido entre Rafael Nadal e Stan Wawrinka na final. O resto do top 10 fica com Djokovic, Federer, Raonic, Cilic, Thiem, Nishikori e Zverev.

Quem vai levar?

Stan Wawrinka nunca perdeu uma final de slam – foram três delas. Rafael Nadal nunca foi derrotado em uma decisão de Roland Garros – e ele jogou nove. O favoritismo é, obviamente, do eneacampeão. Pela consistência, pela confiança, pela forma física e técnica. Se Wawrinka fez um lindo torneio e anotou uma belíssima vitória sobre Murray na semifinal, precisará fazer ainda mais e errar ainda menos no domingo.

É claro que é possível. O suíço tem golpes para isso e já foi campeão em Paris, mas as probabilidades jogam a favor de Nadal. Nunca antes na carreira o espanhol havia chegado à decisão de forma tão dominante, perdendo tão poucos games. Foram só 29 em 2017. Antes disso, os 35 de 2012 já impressionavam.

Stan precisa atacar e sacar bem. Não é tão fácil na prática – nem para seu incrível backhand – mas não parece haver outra solução que não passe por uma jornada pífia de Nadal. Em condições normais, o suíço precisa se impor e fugir do backhand, usando bem sua direita angulada, que precisará estar calibrada.

Nadal, por sua vez, deve investir no seu ataque de porcentagens, como sempre fez. Constrói o ponto aprofundando bolas altas no backhand do rival (especialmente se o rival é destro com backhand de uma mão, como Thiem e Wawrinka) e espera uma chance boa para buscar o winner. É um plano difícil de combater.

O ponto do dia

Perdendo por 2 sets a 1, com 3/3 e um delicado 30/30 no placar, Stan Wawrinka acertou essa direita espetacular para evitar um break point.

Bônus: ilustrando o tipo de coisa que Thiem precisou fazer para ganhar pontos hoje…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.