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RG, dia 11: Halep salva match point sem saber, Thiem domina Djokovic e uma regra mal aplicada

Alexandre Cossenza

07/06/2017 14h46

O dia mais quente de Roland Garros até agora teve de tudo. Um match point salvo "sem saber" por Simona Halep no jogo mais aguardado da chave feminina, uma amostra generosa de poder de fogo por parte de Dominic Thiem sobre um desanimado Novak Djokovic, e uma simbólica e quente discussão entre Andy Murray e o árbitro português Carlos Ramos. O resumaço de hoje esmiúça tudinho que rolou nos seis jogos de simples, com vídeos, frases e muito mais!

O melhor jogo

São tantos elementos que fizeram de Simona Halep x Elina Svitolina um jogão que é até difícil escolher um, mas que tal o match point que a romena nunca soube que enfrentou? Pois Halep esteve a um ponto da derrota no tie-break do segundo set e se salvou de forma espetacular, correndo riscos e partindo para o ataque. O grande detalhe, que o público só soube mais tarde, é que a romena não sabia que era um match point. Após o jogo, ela revelou que só soube quando leu comentários no Twitter!

Halep venceu por 3/6, 7/6(6) e 6/0 em uma partida que foi fantástica durante dois sets. Primeiro, com vento e Svitolina faturando o set inicial. Depois, com Halep atacando furiosamente e sem sucesso. A ucraniana, então, abriu 5/1. Sacou em 5/2. Depois, em 5/4. Não conseguiu fechar. Com 1/5 no placar, Halep trocou a estratégia teimosa de atacar tudo por um jogo mais paciente, usando bolas mais altas para se defender e reduzindo drasticamente seu número de erros.

A gangorra mudou de posição. Mais exigida e pressionada, Svitolina passou a errar. Halep disparava winners, mas em pontos trabalhados. A romena teve até duas bolas fáceis para fazer 7/5 e evitar o tie-break. Vacilou em ambas. Precisou, então, salvar o tal match point do qual nunca teve ciência. E aí, sim, disparou no terceiro set, quando Svitolina já não ofereceu tanta resistência.

Enquanto isso, na Quadra Philippe Chatrier, Karolina Pliskova derrotava a tenista da casa Caroline Garcia por 7/6(3) e 6/4. Um jogo equilibrado e que foi "decidido em detalhes" – perdão, mas o clichê se faz necessário tanto pelo tie-break da primeira parcial quanto pelos poucos break points na segunda. Foram só dois, um para cada lado. Pliskova converteu, Garcia não.

A briga pelo número 1

A liderança do ranking pode ser decidida já nas semifinais, quando Halep e Pliskova se enfrentarem. Se vencer, a tcheca já garante o número 1. A romena, por sua vez, precisa ser campeã para chegar ao topo. Por enquanto, Kerber vai mantendo a posição.

Halep e Pliskova já se enfrentaram seis vezes, e a romena leva vantagem, com quatro vitórias. Ano passado, contudo, foram quatro encontros, com dois triunfos para cada. Elas nunca duelaram no saibro, piso preferido de Halep.

Decididos no primeiro set

O jogo masculino mais aguardado do dia ficou muito aquém da expectativa. Novak Djokovic só ofereceu resistência a Dominic Thiem no primeiro set. Chegou a abrir 4/2 de vantagem, mas perdeu o saque na sequência. Depois, teve dois set points com o austríaco sacando em 4/5 e 15/40. Também não conseguiu converter. Thiem venceu o primeiro set, abriu o segundo com uma quebra e deslanchou. O que assusta mesmo é o placar final: 7/6(5), 6/3 e 6/0, com um pneu no fim – algo que não acontecia com Djokovic num slam desde 2005. No circuito, o último pneu havia sido aplicado por Thomaz Bellucci, em Roma, no ano passado. Nole, no entanto, venceu as duas partidas. Tanto a primeira, contra Monfils no US Open, quanto a do torneio italiano.

Preocupante mesmo para os fãs do sérvio deve ser a declaração dada por ele na coletiva. Em sua análise, o ex-número 1 afirma que o jogo foi decidido no primeiro set e que, depois da quebra no início do segundo, ficou difícil segurar Thiem. É o tipo da frase que até esperamos ouvir de um azarão, aquele cidadão que faz um jogo duro com Federer ou Nadal durante o primeiro set, mas que não consegue se sustentar em um nível altíssimo. Vindo de Djokovic, alguém que já virou tantos jogos e que já vimos lutar em partidas ultralongas, aí surpreende.

Não que Thiem não tenha seus méritos. Pelo contrário. Como o próprio ex-número 1 disse, o austríaco foi, de longe, o melhor tenista em quadra, e foi essa diferença de nível que fez o sérvio abaixar a cabeça antes da hora. É a primeira vitória de Thiem contra um integrante do Big Four em um slam. Será que ele consegue mais uma em Paris?

Enquanto isso, Nadal pouco se esforçou para passar pelo compatriota Pablo Carreño Busta, que já entrou em quadra com uma lesão no abdômen – sofrida durante as oitavas de final, quanto tentou um saque aberto e sentiu dores no local pela primeira vez. Busta pediu atendimento médico, mas nada iria resolver. Abandonou quando o placar mostrava 6/2 e 2/0 para o eneacampeão de Roland Garros.

Assim, uma das semifinais masculinas será o jogo mais repetido da temporada europeia de saibro. Nadal derrotou Thiem nas finais de Barcelona e Madri, mas foi superado pelo austríaco nas quartas em Roma. Ninguém mostrou tênis mais sólido do que esses dois na terra batida. Há quem goste do rótulo "final antecipada", mas com Stan Wawrinka e Andy Murray do outro lado da chave, convém evitar precipitações.

A discussão e a regra mal aplicada

O grande momento de Andy Murray x Kei Nishikori foi a discussão entre o britânico e o árbitro de cadeira Carlos Ramos. O oficial português puniu Murray com a perda de um saque (o britânico já havia sido advertido) quando o placar mostrava 1/1 e 40/40. A punição veio após Murray errar o toss. O número 1 do mundo, então foi questionar o árbitro, o que resultou no surreal diálogo do vídeo abaixo.

Murray: Estou no circuito há tanto tempo e nunca ouvi essa chamada!
Ramos: Em todos os pontos você passa do tempo. Em todos os pontos.
Murray: E por que você me pune quando estou arremessando a bola?
Ramos: Porque você já estava em 26 ou 27 segundos quando arremessou a bola.

As respostas de Ramos ilustram perfeitamente tudo que há de errado com a aplicação da regra. Primeiro porque ela não acontece de forma rígida (se fosse, não haveria esse tipo de discussão). Além disso, não há padrão entre os árbitros. Alguns aplicam, outros não. E também existem os casos em que um mesmo árbitro escolhe, aparentemente sem motivo, um momento aleatório (que quase sempre é um ponto crucial!) para dar uma advertência – ou, no caso de Murray, tirar um saque. Analisemos mais detalhadamente o que Ramos diz:

"Em todos os pontos você passa do tempo. Em todos os pontos."

Se Murray passa do tempo em todos os pontos, por que diabos o árbitro não aplica a regra em todos os pontos? Além disso, por que diabos ele pune o tenista logo em um momento delicado (40/40, no caso)? Por que não no 15/0? Qual é o critério?

"Porque você já estava em 26 ou 27 segundos quando arremessou a bola."

Se Murray estava em 26 segundos, por que Ramos não aplicou a regra com 21 segundos? Ou 22? Ou 23? Porque nem o árbitro conseguiu estabelecer um critério para ele próprio, o que é vergonhoso. E lembremos: o limite de tempo nos slams é de 20 segundos, enquanto nos torneios da ATP, o tempo é de 25 segundos.

A intenção aqui nem é defender Murray nem condenar Ramos exclusivamente. O problema é mais profundo. Aparentemente, é preciso que jogadores, árbitros e órgãos se sentem à mesa para discutir o que fazer. É preciso haver algum tipo de padrão na aplicação da regra. Do jeito que vem sendo feito, vai continuar a dar margem para mais e mais discussões durante as partidas. E isso não é bom para ninguém.

E o que mais?

No momento do bate-boca, Nishikori vencia por 6/2 e 1/1. Murray foi para o segundo saque, ganhou o ponto e gritou um "let's go" para o estádio inteiro ouvir. fez 6/1 na parcial e poderia ter aproveitado melhor o embalo se não tivesse perdido o saque quanto teve 3/2 no terceiro set. A parcial foi para o tie-break, e Nishikori colaborou com um punhado de erros não forçados. O japonês ainda abriu o quarto set com uma quebra, mas Murray reagiu rápido e tomou controle de vez da partida. No fim, o placar mostrava 2/6, 6/1, 7/6(0) e 6/1.

Na Lenglen, Stan Wawrinka continuou seu torneio impecável. Aplicou 6/3, 6/3 e 6/1 sobre um Marin Cilic que não teve nenhuma chance real de equilibrar as ações. Ou quase nenhuma. O croata parecia esboçar uma reação quando devolveu uma quebra no segundo set, igualando placar em 3/3, só que perdeu seu próprio serviço no game seguinte. Após essa quebra, o suíço venceu oito de nove games até fechar o jogo. O único susto foi o momento do vídeo acima: um tropeção a dois pontos da vitória.

A semifinal entre Andy Murray e Stan Wawrinka repetirá a do ano passado, vencida pelo britânico em quatro sets. O histórico geral entre eles é equilibrado: são dez vitórias de Murray contra sete de Wawrinka. No saibro, o suíço lidera por 3 a 1.

O brasileiro

Chegou ao fim a participação brasileira entre os profissionais em Roland Garros. Rogerinho e Paolo Lorenzi foram eliminados nas quartas de final de duplas por Fernando Verdasco e Nenad Zimonjic: 7/6(5) e 7/5.

Espanhol e sérvio farão uma das semifinais contra Santiago González e Donald Young, enquanto a outra vaga na final será decidida no duelo Robert Farah e Juan Sebastian Cabal x Ryan Harrison e Michael Venus.

O ponto do dia

Nada foi mais importante nesta quarta do que o match point salvo por Simona Halep contra Elina Svitolina. Correndo riscos, mas jogando com coragem, buscando as linhas. Mesmo sem saber!

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.