Topo

Saque e Voleio

RG, dia 9: os segredos de Halep, a consciência de Murray e a derrota doída de Bruno

Alexandre Cossenza

05/06/2017 15h53

O dia que terminou de definir as quartas de final de Roland Garros teve seus momentos – dentro e fora de quadra. Houve lances bacanas, favoritos passando aperto e alguns duelos sensacionais confirmados. O resumaço de hoje traz, além das análises de sempre, comentários de Simona Halep sobre sua lesão e uma mudança de comportamento, a consciência de Andy Murray em relação a um grande problema fora das quadras, e palpites para os próximos jogos.

O jogo mais esperado

Quando a chave foi sorteada, foi esse o jogo observado como o mais importante duelo precoce. Simona Halep e Elina Svitolina haviam acabado de fazer a final de Roma, eram as duas mais cotadas nas casas de apostas, e a chave de Roland Garros colocava ambas em rota de colisão já nas quartas de final. E vai acontecer porque as duas chegaram lá, ainda que de maneiras bastante distintas.

Halep fez sua melhor apresentação no torneio. Não só isso. A romena vem jogando cada vez melhor em Paris. Nesta segunda, atropelou Carla Suárez Navarro, cabeça 21, por 6/1 e 6/1. Inapelável. E esse game solitário da espanhola ano segundo set veio quebrando o saque de Halep, que teve 40/0 e um punhado de game points. Foi o único vacilo da favorita, que venceu 64% dos pontos com a devolução em todo o jogo.

Svitolina, por sua vez, esteve a dois pontos da derrota. Sorte da ucraniana que a carruagem de Petra Martic, a qualifier que teve 5/2 e 0/30 no saque da rival virou abóbora num passe de mágica. A croata cometeu cinco erros seguidos, iniciando um pequeno milagre de Svitolina. A cabeça 5 ganhou 20 dos 24 pontos seguintes, conquistando sua vaga nas quartas por 4/6, 6/3 e 7/5

Pelas cotações desta segunda, Halep continua como favorita. Svitolina, que havia caído para o terceiro posto, ganhou sua posição de volta após a eliminação de Garbiñe Muguruza. Mladenovic vem em terceiro, seguida de Karolina Pliskova.

O número 1 e o melhor momento

Na chave masculina, Andy Murray descomplicou uma partida nada simples contra o garotão Karen Khachanov, algoz de Berdych e Isner. Diante de um escocês muito sólido e, principalmente, cuidando bem de seus games de serviço, o russo precisou mais do que bater forte na bola. As variações do número 1 do mundo mexeram com a cabeça do jovem de 21 anos. O resultado final foi um rotineiro 6/3, 6/4 e 6/4, que põe Murray diante do velho freguês Kei Nishikori.

Vale lembrar que foi a vitória de número 650 na carreira de Murray e que ele vai às quartas em Paris pelo quarto ano consecutivo. Nas três últimas edições do torneio, ele só perdeu para Nadal e Djokovic – nas semis de 2014 e 2015 e na final de 2016.

O momento mais bacana do dia, no entanto, veio após a partida. Sir Andy Murray pegou o microfone das mãos de Fabrice Santoro e falou sobre os atentados recentes em Londres, Manchester e Paris. O número 1 ressaltou que os acontecimentos afetaram a Europa e várias partes do mundo e, também por isso, agradeceu pela presença de todos que criam um grande ambiente para jogar em Roland Garros.

Os outros favoritos

Stan Wawrinka disparou 35 winners e cometeu 40 erros não forçados, cedeu 13 break points e só não ficou mais tempo em quadra porque Gael Monfils não conseguiu converter 11 dessas chances de quebra. Definitivamente, não foi o melhor jogo do suíço, mas é inegável que ele tinha mais de onde tirar quando a coisa apertou. Por isso, fez 7/5, 7/6(7) e 6/2 e voltou às quartas de final do torneio.

Desde a primeira rodada, não vem sendo um torneio exemplar do suíço. Dito isto, é notável que ele ainda não tenha perdido um setzinho sequer. Jogou quatro tie-breaks – um em cada partida – e triunfou em todos. Jogou sempre mais quando precisou. E é de se esperar que ele precise ainda de mais contra Marin Cilic nas quartas.

O croata tinha uma chave duríssima no dia do sorteio, mas o "swell" se desfez e ele acabou nadando com calma. Venceu quatro jogos sem perder sets, sem ceder mais do que três games em set algum e sem se cansar. Nas oitavas, avançou quando vencia por 6/3 e 3/0. O sul-africano Kevin Anderson abandonou por causa de uma lesão na coxa.

Os brasileiros

Bruno Soares e Jamie Murray sofreram uma doída derrota nesta segunda. os dois tiveram match point no saque do escocês no segundo set mas não conseguiram converter e cederam a quebra com uma dupla falta num break point. Donald Young e Santiago González aproveitaram a chance, voltaram para o jogo e triunfaram por 3/6, 7/6(3) e 7/6(4). Murray e Soares anda tiveram dois break points (um no quarto game, outro no sexto) no terceiro set, mas não conseguiram a quebra.

Era uma chance ótima de alcançar as semifinais sem nenhum cabeça de chave pela frente, já que brasileiro e britânico enfrentariam os vencedores de Rogério Dutra Silva e Paolo Lorenzi x Fernando Verdasco e Nenad Zimonjic. Rogerinho, portanto, fica sendo o último representante brasileiro nas duplas masculinas.

A outra semifinal terá os colombianos Juan Sebastián Cabal e Robert Farah, que derrotaram Julio Peralta e Horacio Zeballos por 6/7(1), 7/6(6) e 6/0. Eles aguardam os vencedores de Ryan Harrison e Michael Venus x Ivan Dodig e Marcel Granollers.

Fiquemos de olho

Aos trancos e barrancos, Kei Nishikori segue avançando. Nesta segunda, o japonês bateu Fernando Verdasco depois de um pavoroso primeiro set e outras três parciais nada espetaculares. O cabeça 8 oscilou o tempo inteiro, mas o espanhol oscilou muito mais. No fim, o placar mostrou 0/6, 6/4, 6/4 e 6/0.

Dos oito classificados, talvez Nishikori seja quem mostrou menos tênis até agora. Teve problemas com Kokkinakis já na estreia e por pouco não tombou diante de Chung. Verdasco precisava de uma consistência que não mostrou. Nas quartas, porém, o japonês vai encarar um Murray que vem de duas boas vitórias e que sabe bem o caminho para a vitória. Em dez duelos, o escocês bateu Nishikori oito vezes.

O lado "copo meio cheio" de Nishikori é que ele chegou até aí sem fazer nada espetacular. Se, de repente, encontrar a solidez que vem faltando… Será?

Foi por pouco, mas Karolina Pliskova avançou mais uma vez. A vítima da vez foi a brava paraguaia Verónica Cepede Royg, que lutou o tempo inteiro e, não fosse um par de jogadas precipitadas no 4/4 do terceiro set, poderia estar entre as oito. A tcheca, cabeça 2, fez 2/6, 6/3 e 6/4, depois de salvar dois break points no 2/3 e mais dois no 3/4. Ela segue com chances de se tornar número 1 esta semana. Precisa vencer mais dois jogos e alcançar a final.

A adversária de Pliskova nas quartas será Caroline Garcia, que perdeu o ponto do vídeo acima, mas derrotou a compatriota Alizé Cornet por 6/2 e 6/4. A menina que um dia Andy Murray previu como futura número 1 do mundo faz sua melhor campanha da vida no torneio e terá o melhor ranking da carreira após o torneio, possivelmente entrando no top 20.

Curiosidades das coletivas

Entre muitas outras coisas, Simona Halep revelou que seu técnico, Darren Cahill, disse que os dois não deveriam mais usar tempos técnicos durante as partidas após o episódio de Miami. O treinador disse que a atleta tinha tudo para ganhar torneios grandes, mas precisava mudar de atitude. Desde então, ela parou de pedir tempo, e os resultados apareceram.

Neste segundo vídeo, ela fala sobre a lesão em um ligamento "menos importante" do pé e como não usar tempos técnicos nos torneios da WTA ajuda na preparação mental para os grand slams – onde o recurso não é permitido.

Um momento curioso das coletivas desta segunda veio quando perguntaram a Kei Nishikori o que ele lembrava da semifinal do US Open do ano passado, quando derrotou Andy Murray. E sabem o que ele respondeu? Que não lembrava. Não sabia nem se tinha vencido.

Curtinha: Fernando Verdasco disse que a partida de hoje, contra Nishikori, era difícil de explicar. Nós entendemos seu drama, amigão.

Ainda em quadra, Wawrinka falou ao Tennis Channel sobre como foi difícil jogar hoje. Primeiro porque é difícil enfrentar um bom amigo como Gael Monfils, mas também porque ventava bastante em quadra. Além disso, o suíço falou que precisou aceitar a dor nas costas que sentiu durante boa parte da partida.

Palpites para as quartas

No fim das contas, as quartas de chave masculinas chegam com nomes nada surpreendentes. Nem dá para dizer que a vitória de Carreño Busta sobre Milos Raonic, o cabeça 5, foi uma zebra (saibro, melhor de cinco, físico pesando, etc. e tal). Mas quem são os favoritos para as semifinais? Meus preferidos seguem abaixo.

[1] Andy Murray x Kei Nishikori [8]: porque Nishikori não mostrou consistência bastante (até agora!) para superar o Murray calibrado e sólido das últimas duas rodadas.

[3] Stan Wawrinka x Marin Cilic [7]: porque o suíço tem mais margem no saibro (mais spin dos dos lados) e porque o histórico contra o croata pode pesar mentalmente.

[20] Pablo Carreño Busta x Rafael Nadal [4]: porque Nadal em Roland Garros.

[6] Dominic Thiem x Novak Djokovic [2]: difícil, mas pelo que mostrou até agora, Thiem vem sendo mais sólido e agressivo. Por mais que Roma tenha mostrado por que o jogo de Djokovic incomoda o austríaco, Thiem teve algum tempo para pensar num plano diferente. Quem sabe como será sem o cansaço acumulado que pesou contra Thiem na Itália? Será que isso é o bastante? O fato é que é sua melhor chance para anotar uma vitória realmente grande num slam.

As quartas de final femininas também não são tão surpreendentes assim, a não ser pela ausência de Muguruza, a única das grandes postulantes ao título que ficou fora. As seções abertas proporcionaram nomes diferentes, como Ostapenko (quadrante de Kerber) e Garcia (quadrante de Radwanska e Konta). De resto, nada excepcional.

Jelena Ostapenko x Caroline Wozniacki [11]: difícil, mas o jogo paciente da dinamarquesa tem boas chances de prevalecer – a não ser que a letã esteja naqueles dias insanos em que tudo entra.

[13] Kristina Mladenovic x Timea Bacsinszky [30]: Kiki vem conduzindo lindamente a torcida francesa até agora, mas a suíça tem recursos para tirar o jogo do basicão-fundo-de-quadra. Aposto nas variações de Bacsinszky descalibrando a francesa. De qualquer modo, não existe zebra aqui.

[5] Elina Svitolina x Simona Halep [3]: porque até agora Roland Garros vem se desenhando como o torneio da maturidade da romena. Foi sólida mental e tecnicamente. Ninguém foi melhor do que ela por enquanto.

[28] Caroline Garcia x Karolina Pliskova [2]: porque embora fique para mim a impressão de que Pliskova está fazendo hora extra depois de escapar da eliminação contra Cepede Royg, a tcheca é favorita, em circunstâncias normais, contra Garcia. Não que seja uma zebra se acontecer o contrário. Com a torcida atrás, convém não duvidar.

O ponto do dia

Apenas um exemplo de construção de ponto pelo número 1 do mundo. Duas bolas fundas em velocidades e ângulos diferentes, uma curtinha, um lob e um voleio curto para finalizar. Recursos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.