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RG, dia 8: outro atropelo de Nadal, mais dois brasileiros nas quartas e a campeã que caiu

Alexandre Cossenza

04/06/2017 16h03

Enquanto Rafael Nadal se colocou nas quartas de final de forma imponente, Novak Djokovic fez menos-do-que-podia-e-mais-do-que-precisava, e Dominic Thiem voltou a dominar um adversário, o grande duelo do dia veio na chave feminina, com Kristina Mladenovic eliminando a atual campeã, Garbiñe Muguruza.

O domingão em Paris também foi bom para os brasileiros. Bruno Soares avançou nas duplas masculinas, e Marcelo Demoliner venceu nas mistas. O resumaço do dia traz as análises de sempre, as imagens do choro de Muguruza, pontos impressionantes de Nadal e Thiem e muito mais.

O jogo do dia

De um lado, a atual campeã e fortíssima candidata ao bi. Do outro, a maior esperança da casa na chave feminina, no melhor momento da carreira, vindo de ótimos resultados no saibro europeu (vice em Stuttgart e Madri) e conduzindo a torcida parisiense com maestria. Garbiñe Muguruza e Kristina Mladenovic trocaram pancadas do fundo, oscilaram aqui e ali, jogaram games duríssimos e, no fim, a campeã caiu. Com a torcida em êxtase, Kiki triunfou por 6/1, 3/6 e 6/3, apesar das 16 duplas faltas cometidas ao longo de 1h59min de partida.

Muguruza pagou o preço pelo nervosismo do primeiro set, quando cometeu muitos erros (alguns bobos) e encheu a francesa de confiança. A espanhola fez um belo e equilibrado segundo set, mas pecou ao perder o serviço de zero na parcial decisiva. E pecou mais ainda quando não conseguiu aproveitar três duplas faltas da adversária no segundo game. Quando conseguiu confirmar ali, Mladenovic e a torcida ganharam uma dose extra de adrenalina. O volume subiu na Lenglen, e Muguruza não conseguiu encontrar o caminho para mais break points (apesar de sete duplas faltas de Mladenovic só no terceiro set).

Nas quartas de final, a tenista francesa vai enfrentar uma "veterana" um nome bem conhecido nessa fase em Paris. Timea Bacsinszky eliminou Venus Williams por 5/7, 6/2 e 6/1 em uma partida que poderia facilmente ter durado uma horinha a menos. A suíça, semifinalista de RG em 2015 e quadrifinalista em 2016, abriu 5/1 no primeiro set e perdeu seis games seguidos. Bacsinszky, entretanto, manteve a cabeça no lugar e só perdeu mais três games.

A emoção

Mais tarde, na entrevista coletiva, Muguruza desabou em lágrimas e precisou sair da sala para se acalmar antes de voltar e falar com os jornalistas.

Os outros favoritos

Rafael Nadal perdeu só cinco games, disparou 31 winners e venceu 53% dos pontos de devolução. Foi uma tarde dura para Roberto Bautista Agut, que sucumbiu por 6/1, 6/2 e 6/2 em 1h50min, enquanto o eneacampeão de Roland Garros se coloca como favorito ainda maior a cada jogo que passa.

Classificado para as quartas de final, Nadal perdeu apenas 20 games até agora. Nesta estatística específica, é a segunda melhor campanha de sua vida em Paris. Só a de 2012, com 19 games cedidos nos primeiros quatro jogos, foi superior. A próxima dor de cabeça será de de Pablo Carreño Busta, que duelou por cinco sets longos com Milos Raonic e venceu por 4/6, 7/6(2), 6/7(6), 6/4 e 8/6.

Vale lembrar, só pela curiosidade, que Nadal só foi derrotado duas vezes em Roland Garros. Ambos reveses vieram, no máximo, nas quartas de final. Nunca depois. Sobre a estatística, Nadal falou simplesmente que perdeu uma chance em 2009 porque jogou com o joelho lesionado e que em 2015 havia um tenista jogando melhor do que ele. A não ser que apareça alguma dor até terça-feira, parece difícil imaginar uma nova derrota.

No último jogo do dia na Quadra Philippe Chatrier, Novak Djokovic começou mal, mas se recuperou ainda no primeiro set e eliminou Albert Ramos Viñolas por 7/6(5), 6/1 e 6/3. Esteve longe de ser uma atuação de gala do sérvio, que cometeu 18 erros não forçados só no primeiro set (sorte que o adversário somou 23 no mesmo quesito). Parece justo dizer que o número 2 do mundo vai precisar mostrar mais para passar por seu próximo oponente, o austríaco Dominic Thiem.

Thiem, aliás, aproveitou para curtir o domingão passando por cima de Horacio Zeballos, o argentino também conhecido como aquele-que-chegou-às-oitavas-porque-Goffin-torceu-o-tornozelo. O austríaco, que não tem nada a ver com a lesão do belga, fez 6/1, 6/3 e 6/1, mantendo o nível altíssimo que mostrou desde o início do torneio.

O que pode acontecer nesse Djokovic x Thiem? Tudo. O estilo do sérvio incomoda o austríaco, mas dos dois é Thiem quem vem jogando o tênis mais consistente em Roland Garros. Agora, sem o desgaste acumulado que ficou nítido em Roma, pode ser a chance perfeita para o garotão de 23 anos conquistar sua primeira vitória realmente grande em um slam.

Na parte da chave atrasada pela chuva, Elina Svitolina, que começou o torneio como segunda mais cotada ao título, voltou a vencer. A vítima da vez foi a polonesa Magda Linette, e o placar final mostrou 6/4 e 7/5. A ucraniana, campeã em Roma, será favorita também nas oitavas contra Petra Martic, #290, que faz um torneio incrível. Depois de passar dez meses sem jogar por causa de uma lesão nas costas, a croata voltou ao circuito em abril e jogou quatro ITFs antes de tentar o quali em Roland Garros. Deu uma pitada de sorte no caminho, com a lesão no punho de Madison Keys, mas fez sua parte e está entre as 16 com todos os méritos.

Os brasileiros

Bruno Soares conquistou uma vitória importantíssima neste domingo e se juntou a Rogerinho nas quartas de final. O mineiro e seu parceiro, o britânico Jamie Murray, começaram a partida salvando break points no primeiro e no terceiro games, mas seguraram a pressão exercida por Rohan Bopanna e Pablo Cuevas e saíram de quadra comemorando um triunfo por 7/6(5) e 6/2.

Além de serem a dupla cabeça de chave mais alta restando na chave, Soares e Murray não encontrarão outros seeds antes da final. Seus próximos adversários serão o mexicano Santiago González e o americano Donald Young. Se voltarem a avançar, brasileiro e britânico pegam os vencedores do confronto entre Rogerinho/Lorenzi e Verdasco/Zimonjic. A metade de cima da chave tem Cabal/Farah x Peralta/Zeballos e Harrison/Venus x Dodig/Granollers.

Também tem brasileiro nas quartas de final de duplas mistas. Marcelo Demoliner e María José Martínez Sánchez derrotaram Abigail Spears e Juan Sebastián Cabal num dramático match tie-break, com placar final de 6/4, 3/6 e 15/13. Brasileiro e espanhola salvaram quatro match points no game de desempate.

O próximo passo é um confronto com a forte dupla formada pela alemã Anna Lena Groenefeld e o colombiano Robert Farah, que derrubaram os cabeças 5, Alexander Peya e Yaroslava Shvedova.

Fiquemos de olho

Caroline Wozniacki foi a primeira mulher a se classificar para as quartas de final. Com um tênis não espetacular, mas muito sólido, bateu Svetlana Kuznetsova, a cabeça 8, por 6/1, 4/6 e 6/2. Foi mais uma bela demonstração do estilo Wozniacki de tênis. Bolas fundas, correndo riscos calculados, e muita paciência. Sveta, por sua vez, não teve a calma nem a precisão que necessitava para triunfar.

Aproveitando-se do quadrante qualquer-coisa-pode-acontecer que tinha Angelique Kerber como principal nome, Wozinacki se mostrou, de longe, a menos instável da seção (e olha que ela também oscilou). Não é nada improvável que ela vença também na base da consistência sua próxima oponente, mas Jelena Ostapenko, que passou por Sam Stosur por 2/6, 6/2 e 6/4, venceu todos os três jogos que fez na carreira contra a dinamarquesa. Duas delas, no saibro e em 2017 (Charleston e Praga).

Na parte da chave atrasada pela chuva, Karolina Pliskova, #3 do mundo e cabeça 2 em Paris, deu mais um passo em sua chave nada complicada. Bateu Carina Witthoeft por 7/5 e 6/1 e se colocou nas oitavas de final, a três vitórias de se tornar a número 1 do mundo. A tcheca continua correndo por fora na briga pelo título porque Halep vem mostrando mais jogo, mas também será favorita nas oitavas. No entanto, todo cuidado é pouco neste momento com a paraguaia Verónica Cepede Royg, que superou a colombiana Mariana Duque-Mariño por 3/6, 7/6(2) e 6/3.

Cepede Royg, lembremos, já faz um torneio memorável. Derrubou Safarova na estreia e Pavlyuchenkova na segunda rodada. Tanto ela quanto Pliskova já fazem as melhores campanhas de suas carreiras em Roland Garros.

Entre os homens, Nishikori, que segue sem empolgar, escapou por pouco. Chung completou a vitória no quarto set, mas cedeu a primeira quebra do quinto. Correu atrás a parcial inteira e, quando devolveu a quebra, sacou em 4/5 para empatar, mas perdeu seu serviço ao cometer uma dupla falta no match point. O japonês fechou por 7/5, 6/4, 6/7(4), 0/6 e 6/4 e avançou para encarar Fernando Verdasco. O espanhol, lembremos, já abateu Alexander Zverev e Pablo Cuevas. Será que ele tira outro top 10? Não convém duvidar…

Também vale ficar de olho em Karen Khachanov, o russo #NetxGen de 21 anos, atual #53, que já tinha eliminado Tomas Berdych e hoje mandou John Isner de volta para casa: 7/6(1), 6/3, 6/7(5) e 7/6(3). É dono de um saque respeitável e golpes invejáveis do fundo de quadra. Vai como azarão encarar Andy Murray, que sai de uma belíssima apresentação contra Del Potro. Mas se o britânico estiver naqueles dias de ficar no fundão empurrando bolinha, corre sério risco.

O ponto do dia

Daria para fazer um clipe cheio de lances impressionantes de Nadal hoje, então nem tento. Deixo aqui apenas uma pequena amostra. Dois ótimos slices defensivos, um backhand agressivo, outro slice defensivo e uma passada na paralela.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.