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Saque e Voleio

RG, dia 5: as lágrimas de Almagro, o consolo de Del Potro e uma lição de Monfils para Monteiro

Alexandre Cossenza

01/06/2017 16h24

Uma pessoa mais inteligente que eu escreveu que "muitas vezes caímos naquela ilusão tão sedutora que o esporte é competir contra um adversário. Não. Esporte é a superação de si mesmo por meio da troca com o outro. E a dor de esbarrar nos próprios limites desperta o real sentimento da derrota. O competidor que compreende isso faz o que fez Juan Martín Del Potro, porque sabe que o outro é alguém como ele e nunca um adversário."

É com a cena mais forte da quinta-feira que este resumaço começa, mas o texto ainda tem uma análise da aula que Gael Monfils aplicou em Thiago Monteiro, avalia as zebras do dia e o quanto elas mudam as chaves, menciona as cabeças que quase rolaram e, claro, traz o vídeo do ponto do dia. Está tudo aqui, documentado em imagens e vídeos.

A imagem do dia

Se você não viu o vídeo ainda, era para ser um jogão: Del Potro x Nicolás Almagro. Esteve longe disso. Primeiro porque o argentino sentiu o adutor no segundo set e passou a se movimentar mal, perdendo a parcial. Depois porque no terceiro set, quando Delpo dava sinais de melhora, Almagro voltou a sentir dores no joelho esquerdo, Sim, o mesmo que lhe fez abandonar o jogo contra Nadal em Roma. Tentou seguir, não conseguiu. Desabou no fundo de quadra, soluçando de agonia e teve de abandonar. O argentino, que sabe melhor do que ninguém a sensação de não poder praticar um esporte, tentou consolar o inconsolável colega.

Del Potro agora tem cerca de 48 horas para tratar sua própria lesão antes de enfrentar o número 1 do mundo, Andy Murray. Ah, sim: não que faça diferença a essa altura, mas o placar mostrava 6/3, 3/6 e 1/1 quando Almagro abandonou.

Os favoritos

Stan Wawrinka conquistou, nesta quinta-feira, sua sexta vitória seguida no saibro. O campeão do ATP de Genebra fez 6/4, 7/6(5) e 7/5 contra um perigoso Alexandr Dolgopolov. Foi um placar apertado, mas estranho porque o jogo sempre pareceu à disposição do suíço. A impressão que dava era que ele tinha de onde tirar caso o jogo se complicasse. Não por acaso, ele quebrou Dolgo no último game do primeiro set, venceu um tie-break e conseguiu a quebra derradeira no penúltimo game do duelo.

Vai ser interessante ver Wawrinka encarar Fabio Fognini na terceira rodada. O italiano bateu seu compatriota Andreas Seppi por 6/4, 7/5 e 6/3, o que não deixa de ser um alívio para quem vinha de cinco sets contra Francis Tiafoe. O retrospecto é amplamente favorável ao suíço (5 a 1).

Mais tarde, foi a vez de Simona Halep voltar à caminhada como grande favorita pela primeira vez. A vitória desta quinta não foi bonita, mas foi importante (e tem algo mais importante do que ganhar jogando abaixo do seu melhor?). Não que Halep tenha vivido uma tarde pavorosa, mas a romena teve seu saque ameaçado constantemente. No primeiro set, ela foi quebrada duas vezes e cedeu break points em outro game. No segundo, precisou salvar chances de quebra em dois games.

Não é o ideal para quem luta pelo título, mas às vezes um triunfo basta, e o placar de 6/4 e 6/3 sobre a alemã Tatjana Maria (#102) foi o suficiente para lhe dar uma vaga na terceira fase. Halep agora vai enfrentar Daria Kasatkina, cabeça 26, que vem de vitória sobre Marketa Vondrousova por 7/6(1) e 6/4.

Os brasileiros e a lição de Monfils

Na chave de duplas, uma vitória e uma derrota. Rogerinho, em parceria com o italiano Paolo Lorenzi, avançou por WO graças à desistência de Pablo Carreño Busta e Guillermo García López (era primeira rodada, mas não havia times restantes na lista de alternates). André Sá e o israelense Jonathan Erlich, por outro lado, foram superados por Santiago González e Donald Young: 6/3 e 7/6(5).

Nas simples, Thiago Monteiro foi vítima fácil para Gael Monfils. Enquanto o brasileiro tentava a todo custo distribuir pancadas do fundo de quadra, o francês, pouco incomodado com a velocidade do jogo, variava jogadas plantado lá atrás e aguardava por erros de Monteiro – que vinham. O favorito fez 6/1, 6/4 e 6/1 em 1h30min.

Assim como acontece cada vez que um tenista jovem ou em ascensão encontra um veterano, os buracos no jogo de Monteiro ficaram mais evidentes do que nunca. Seu saque pouco incomodou Monfils, a devolução não fez grandes estragos e faltou variação. Foi um pouco do mesmo que já foi comentado sobre o tênis do cearense durante a temporada. Sólido do fundo de quadra, esforçado, mental e fisicamente bem preparado, mas ainda precisando de recursos para vencer quando o jogo sai daquele basicão-fundo-de-quadra visto nos Challengers e ATPs mais fracos.

Foi a primeira participação de Monteiro na chave principal de Roland Garros. Apenas a segunda vez que figurou entre os 128 num slam. Faz parte do processo de evolução e amadurecimento. Agora cabe a Monteiro e seu time evitar a acomodação e trabalhar para que, aos poucos, esse buracos sejam tapados, e o tenista possa dar o salto de figurante a protagonista nos maiores torneios do circuito.

Cabeças que rolaram

O cabeça 13, Tomas Berdych, tombou em três sets diante do garotão #NextGen Karen Khachanov, de 21 anos. Atual #53 do mundo, o russo que faz sua primeira participaçao na chave principal de Roland Garros, impressionou pela solidez ao longo de toda a partida. Sacando sempre muito bem (embora com pouca porcentagem de primeiro serviço – 47%), ditou os pontos e não cedeu nenhum break point. Berdych esteve sempre correndo atrás e ganhou apenas 27% dos pontos na devolução.

Khachanov, que se casou em abril e credita parte do bom momento ao casamento, agora vai encontrar John Isner, cabeça 21, que eliminou Jordan Thompson por 6/3, 7/6(3) e 7/6(2), com direito a 21 aces. O duelo vale vaga nas oitavas contra Murray ou Del Potro (não, ninguém disse que essa chave era fácil).

Nick Kyrgios era favorito contra Kevin Anderson pelo que jogou na primeira rodada, pelo talento enorme que possui e porque as bolas retas do sul-africano não são as mais propícias para o saibro. Nick Kyrgios perdeu de Kevin Anderson porque não conseguiu manter a cabeça no lugar quando as coisas deixaram de dar certo. Mais especificamente a partir da dupla falta que deu de presente ao adversário o segundo set. Para piorar, uma segunda raquete quebrada ainda lhe rendeu um point penalty.

Pelo menos a cena também rendeu risadas e a espetacular reação do garotinha de camisa branca, logo atrás do australiano na imagem acima. Anderson aproveitou a chance que teve e virou a partida. Venceu por 5/7, 6/4, 6/1 e 6/2 e avançou para enfrentar Kyle Edmund. Um dos dois estará nas oitavas no lugar que poderia ser de Kyrgios ou Tsonga. Quem ganha com isso? Em tese, Marin Cilic, o principal cabeça de chave da seção que define um quadrifinalista.

Já no fim do dia, um tombo considerável foi protagonizado pela russa Anastasia Pavlyuchenkova, #17 do mundo e que ocupava um lugar interessante na chave, com um potencial encontro com Karolina Pliskova nas oitavas. A russa, que vinha de uma final em Rabat e oitavas em Roma, foi eliminada pela paraguaia Verónica Cepede Royg: 7/6(4), 2/6 e 6/4.

Atual #97, a sul-americana pode ser considerada a maior surpresa na terceira rodada. Afinal, na estreia ela já havia derrubado a ex-top 10 Lucie Safarova. O curioso é que Cepede Royg enfrentará a colombiana Mariana Duque Mariño na terceira rodada, o que garante uma atleta do continente nas oitavas. Quem ganha com essa zebra? Em tese, Karolina Pliskova, que tem a chance de ser número 1 do mundo e pode alcançar as quartas de final de Roland Garros sem enfrentar nenhuma cabeça de chave.

Os sustos

O dia começou com duas possibilidades de zebra na chave feminina. Agnieszka Radwanska saiu perdendo para a belga Alison Van Uytvanck, enquanto Elina Svitolina, a segunda mais cotada para o título nas casas de apostas, viu Tsvetana Pironkova (sim, aquela Pironkova) sair na frente. Ficou só no susto. As duas mais cotadas viraram seus jogos e sem nenhum grande aperto. Aga fez 6/7(3), 6/2 e 6/3, enquanto Svitolina avançou por 3/6, 6/3 e 6/2.

A ucraniana vai enfrentar agora a polonesa Magda Linette em busca de um lugar nas oitavas de final, enquanto Radwanska fará um duelo interessante com Alizé Cornet. A francesa, com a a ajuda da tenista da casa, superou nesta quinta Barora Strycova, cabeça de chave #20. Vale lembrar que a seção de Aga na chave é a mesma que ficou sem a já eliminada Johanna Konta. Ou seja, a polonesa é favorita, pelo menos no papel, para chegar às quartas.

Fiquemos de olho

Quem voltou a vencer com folga foi Marin Cilic. O croata, campeão recentemente em Istambul, fez 6/3, 6/2 e 6/2 em cima do russo Konstantin Kravchuk. Cabeça 7 em Paris, Cilic não perdeu mais do que três games em nenhum dos seis sets que jogou até agora. Em uma seção dura da chave, ele encara agora Feliciano López, que bateu David Ferrer, cabeça 30, por 7/5, 3/6, 7/5, 4/6 e 6/4. No papel, o resultado é bom para Cilic, que tem retrospecto favorável (4v e 2d) contra Feliciano e negativo contra Ferrer (2v e 4d). Independentemente disso, o fato é que o croata vem jogando bem e vencendo com folga, e quando um tenista como ele se enche de confiança, é bom prestar atenção.

Entre os homens, o número-1-azarão fez uma partida divertida contra Martin Klizan. Divertida porque a inconsistência de Andy Murray deixou o jogo interessante, com a expectativa de que tudo podia acontecer – inclusive depois de o britânico abrir 2 sets a 1, parecer em controle e deixar o eslovaco abrir vantagem no quarto set. Sorte do escocês que ele contou com um smash pavoroso de Klizan para empatar o quarto set e, eventualmente, evitar um dramático quinto. Venceu por 6/7(3), 6/2, 6/2 e 7/6(3) e agora aguarda Juan Martín del Potro. Todos nós aguardamos.

Enquanto isso, na seção esburacada pelas quedas de Querrey e Zverev, Kei Nishikori, cabeça 8, avançou em três sets. Fez 6/3, 6/0 e 7/6(5) em cima de Jeremy Chardy e passou para a terceira rodada, onde vai enfrentar o sul-coreano Hyeon Chung. O jovem de 21 anos, atual #67, faz sua segunda participação no torneio. Foi ele que tirou Querrey na primeira rodada. Nesta quinta, Chung passou por Denis Istomin em três sets: 6/1, 7/5 e 6/1.

Na chave feminina, é bom prestar atenção em Anastasja Sevastova, a letã #19 do mundo que chamou a atenção do grande público pela primeira vez no ano passado, quando alcançou as quartas do US Open, derrubando Muguruza e Konta pelo caminho. Ela fez uma boa campanha no saibro europeu, com quartas em Stuttgart e semi em Madri, e estreou em Roland Garros com vitória sobre Annika Beck.

Nesta quinta, voltou à quadra e sapecou Genie Bouchard: 6/3 e 6/0. É bem verdade que a canadense ainda se recuperava de uma entorse no tornozelo, mas Sevastova seria favorita de qualquer jeito. Com o resultado, ela já faz a melhor campanha da carreira em Paris, mas tem boas chances ir ainda mais longe. Sua próxima adversária será a qualifier Petra Martic, #290, que eliminou a americana Madison Keys (#13) por 3/6, 6/3 e 6/1. A americana sentiu dores no punho esquerdo, pediu atendimento médico antes do terceiro set, mas não conseguiu jogar no seu nível habitual.

Na ponta de baixo, a cabeça 2 e nada favorita Karolina Pliskova pelo menos fez o dever de casa e voltou a vencer. Fez 6/2, 4/6 e 6/3 sobre a russa Ekaterina Alexandrova e marcou um encontro com a alemã Carina Witthoeft na terceira rodada. Curiosamente, esta já é a melhor campanha da carreira de Pliskova em Paris. Ela pode sair da capital francesa como número 1 do mundo. Para isso, precisa chegar à final.

O ponto do dia

Andy Murray resumido em um ponto. Defesa, defesa, defesa, um lob perfeito e a finalização com uma pitada desnecessária de drama.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.