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RG, dia 1: sorrisos de Kvitova, a queda de Kerber e o drama de Bellucci

Alexandre Cossenza

28/05/2017 18h13

Desde que o grand slam francês antecipou para o domingo seu início, o público que vai a Roland Garros vê rodadas pouco empolgantes e quase nenhum resultado com consequências relevantes para o torneio. Parte da culpa é do próprio torneio, que "guarda" os maiores nomes para segunda e terça. Além disso, não é muito bacana escalar no domingo os tenistas que atuaram até sexta e/ou sábado nos últimos torneios preparatórios. Dito isto, até que este primeiro dia de evento não foi dos piores. Teve número 1 dando adeus e um retorno comovente, além do drama de Thomaz Bellucci e um punhado de jogadas bacanas.

A número 1 que tombou

Não é todo dia que se escreve algo assim, mas a eliminação da número 1 do mundo, Angelique Kerber, pouco significa para o andamento do torneio. Com o que (não) vinha jogando até agora, a alemã nunca esteve entre as mais cotadas. O primeiro quadrante da chave feminina sempre foi o mais aberto (leia-se "imprevisível"), como eu escrevi no guiazão publicado no sábado.

Diante de Ekaterina Makarova, uma oponente perigosa em qualquer rodada, faltou tênis e saque para Kerber. A número 1 até que lutou, principalmente no segundo set, mas perdeu todos games de serviço na parcial (e seis de oito em toda a partida). A russa, que nem brilhou tanto assim, avançou por 6/2 e 6/2.

Fo a primeira vez que uma cabeça de chave 1 perdeu na estreia em Paris, mas o que muda para as próximas duas semanas? Quase nada. Tudo continua aberto. O quadrante que vai definir uma quadrifinalista agora tem Makarova, Tsurenko, Ostapenko, Puig, Stosur, Kucova, Flipkens, Minella, Mattek-Sands e Kvitova. Você arrisca um palpite? Eu, não.

A liderança em jogo

Se para Roland Garros a ausência de Kerber não mudará muito o panorama, a derrota da alemã coloca em jogo a liderança do ranking da WTA. Agora Karoline Pliskova e Simona Halep podem alcançar o topo. A tcheca precisa pelo menos alcançar a final, enquanto Halep precisa levantar o troféu para se tornar a nova número 1.

O momento mais feliz

Petra Kvitova voltou. Recuperada de problemas sérios sofridos na mão esquerda durante um assalto, a tcheca sorriu, mandou beijos, disparou winners e controlou as emoções. Nem titubeou diante da chance de superar a americana Julia Boserup por 6/3 e 6/2. A melhor cena do dia, sem dúvida – até porque rendeu uma entrevista em quadra com Marion Bartoli, que enfrentou um grave problema de saúde e estava recuperada e bastante saudável para conduzir o papo.

Kvitova ainda tinha pai, mãe e dos irmãos na arquibancada. Foi um daqueles momentos que nos lembram que esporte é muito mais do que vitórias e derrotas dentro da arena de jogo.

O drama de Bellucci

Era para ter sido bem menos complicado, mas Thomaz Bellucci demorou a encontrar uma maneira de ser eficiente contra Dusan Lajovic (#79), que tentava colar na linha de base e definir os pontos em poucos golpes. O brasileiro perdeu o primeiro set cometendo uma dupla falta num break point e deu outro susto quando cometeu uma série de erros e perdeu o serviço quando sacava para fechar a segunda parcial.

Se no aspecto técnico Bellucci não foi brilhante, o paulista compensou na malandragem e na inteligência. Primeiro, provocando uma discussão com o árbitro de cadeira e paralisando o jogo no fim do segundo set (logo depois da tal quebra de saque). Naquele mesmo game, Bellucci quebrou Lajovic.

Depois, mais tarde, quando Bellucci já estava esgotado – no começo do quarto set -, pediu uma massagem no ombro esquerdo. Respirou e passou a jogar um tênis kamikaze, arriscando tudo nas devoluções. Lajovic não soube lidar com a mudança e acabou perdendo o serviço no nono game da parcial. No fim, o brasileiro acabou com o triunfo por 4/6, 7/5, 6/4 e 6/4.

Após o jogo, em entrevista ao Bandsports, Bellucci disse que se sentiu "bem cansado a partir de um momento do jogo. Mudei meu estilo de jogo, mas era a única opção para ganhar o jogo de hoje" e que "em muitos momentos, eu achei que não ia dar para ganhar o jogo porque eu estava muito cansado."

E se você está imaginando, sim, foi o mesmo problema de sempre. O esgotamento quando precisa jogar com calor e umidade. E as condições nem eram extremas em Paris neste domingo. A temperatura estava na casa dos 30 graus, e a umidade perto de 50%. O próximo adversário será Lukas Pouille (#17), que penou para bater Julien Benneteau (#98) em cinco sets.

Outras cabeças que rolaram

Na chave feminina, duas pré-classificadas deram adeus. Roberta Vinci, que também estava no quadrante de Kerber, foi superada pela campeã olímpica, Monica Puig, por 6/3, 3/6 e 6/2; e Mirjana Lucic-Baroni tombou diante da turca Cagla Buyukakcay por duplo 6/3. O revés da croata, sim, tem peso na chave, já que deixa o caminho menos complicado para Kristina Mladenovic. As duas se encontrariam na terceira rodada, com a vencedora avançando para possivelmente encontrar Muguruza nas oitavas.

Entre os homens, a única baixa foi a de Gilles Muller, que foi eliminado por Guillermo García-López: 7/6(4), 6/7(2), 6/2 e 6/2. No saibro, nada surpreendente. Dá até para dizer que a vitória de GGL complica um pouco o caminho de Milos Raonic, o cabeça 5, que pode encarar o espanhol na terceira rodada.

O ponto do dia

O lance espetacular do domingo foi cortesia de Dominic Thiem, que saiu de um buraco com um gran willy e se aproveitou da incompetência de Bernard Tomic e matou o ponto com uma direita vencedora na cruzada. Veja:

Thiem acabou despachando Tomic por 6/4, 6/0 e 6/2, com o australiano mostrando "aquela" vontade depois do primeiro set. O austríaco, que teve sua parcela de culpa pela preguiça do rival, deu um primeiro passo importante.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.