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Ele morou na casa de Federer, treinou Mirka no circuito e agora tem projeto ambicioso na Flórida

Alexandre Cossenza

23/05/2017 04h00

Rodrigo Nascimento talvez seja o menos conhecido (e reconhecido) dos técnicos brasileiros com belo currículo no exterior. Por outro lado, o paulista, que mora nos EUA desde os tempos de tenista juvenil e que já foi treinador de nomes como Monica Seles, Gilles Muller e Jamea Jackson, talvez seja o dono das histórias mais curiosas. Afinal, quem mais pode dizer que treinou a esposa de Roger Federer e ficou hospedado na casa do tenista na Suíça?

Hoje, baseado na cidade de Wellington, na Flórida, Nascimento dá um passo ousado. Em parceria com Betsy McCormack, viúva de Mark McCormack, fundador da gigante agência de atletas IMG, o brasileiro fundou a R&B Tennis Team, uma academia ambiciosa, com a meta de formar campeões de grand slam, mas com um objetivo primeiro que, segundo Nascimento, é "formar campeões da vida."

Um encontro casual

Mas comecemos pela viagem de volta a 2001. Afinal, imagino que a maioria tenha clicado aqui para saber como foi para Nascimento morar com Federer e sua família. Pois bem. Essa relação começou numa viagem à Europa, quando o técnico brasileiro foi visitar o amigo Sven Groeneveld, holandês que é atual técnico de Maria Sharapova.

Na primeira noite, o jantar tinha à mesa Roger e a então namorada, Miroslava Vavrinec, além do técnico Peter Lundgren, que levaria o suíço ao posto de número 1 do mundo um pouco mais tarde. Vavrinec, que ainda estava na ativa no circuito da WTA, comentou que não tinha com quem treinar na manhã seguinte. Foi quando Groeneveld sugeriu o nome do brasileiro.

No primeiro dia de bate-bola, ela já convidou Nascimento para viajar como seu técnico. Naquele período, Mirka conquistou seu melhor resultado em um grand slam (terceira rodada no US Open) e alcançou o melhor ranking da carreira (#76). Sucesso. Pena que durou pouco. E Nascimento se diverte ao lembrar.

"Ela tinha uma esquerda muito boa. Eu ajudei bastante a direita dela. Tudo que ela tinha de legal fora da quadra… Na quadra, ela é uma pessoa meio complicadinha (risos). Ela tem o jeito dela, eu tenho o meu, e nós acabamos a relação por causa de diferenças pessoais", disse Nascimento, lembrando com bom humor da relação com a ex-tenista (na foto ao lado, Nascimento e Mirka posam junto com Betsy McCormack, à esquerda, e Bethanie Mattek-Sands).

"Eu lembro que uma vez fizeram uma matéria com uma lista em que ela era a terceira mais bonita da WTA na época, atrás da Anna Kournikova e da Barbara Schett. Numa vez, numa discoteca na Suíça, com o Roger, o Peter e dois amigos deles, eu lembro que ela parou a discoteca. Todo mundo olhava para ela. O Roger mandou bem (risos)."

E o relacionamento com Federer, como era? Nascimento de diverte contando. "O primeiro torneio que eu fui com eles foi em Gstaad. A gente ficou num castelo, só o Marat Safin, o Roger, a Mirka e eu. Foi uma viagem, mano. A gente jogava futebol todos os dias. Minha relação com o Roger é surreal. Eu fiquei na casa dele umas duas, três semanas. Ele é brincalhão. A gente ia jogar golfe na França, eu ia com ele no carro, ficava reclamando da Mirka, e ele dizia brincando 'a Mirka não tem jeito' (risos)."

Na época em que Nascimento foi hóspede do futuro número 1, Federer morava com os pais e a irmã numa casa de três andares. "Eu fiquei no último andar, onde ficavam as roupas da Nike e o gato dele. Uma vez, levei uma unhada do gato, joguei ele na parede. Contei pro Roger, ele se cagou de rir", contou o brasileiro. Vavrinec, na época, morava com a mãe, e os dois treinavam em Biel, onde fica o centro nacional de treinamento da Suíça.

O passo ambicioso

Desde o fim do ano passado, Nascimento vem moldando a ideia de uma academia diferente e ousada junto com Betsy McCormack, com quem tem boa relação de longa data (vide foto abaixo). Há três semanas, o projeto saiu do papel, e a R&B Tennis Team ganhou vida em Wellington, no Palm Beach Polo & Country Club. "A gente vai fazer pelo amor. Pelo amor", enfatiza o técnico.

Nascimento chama o projeto de "tennis boutique", ou seja, uma academia para poucos atletas, com atenção especial a cada um. "Vai ser muito mais do que formar campeão de grand slam. Nosso atleta vai ter que ser campeão de vida primeiro." O técnico, aliás, enfatiza a última parte, dizendo que "a Betsy e as pessoas envolvidas nisso [academia] são só pessoas do bem e pessoas que já chegaram lá, então eles não querem nada em troca a não ser que as pessoas devolvam para o mundo. A gente está indo atrás do bem. Quem for do bem e bom, e quiser melhorar e crescer vai ter a possibilidade de trabalhar com a gente. Vai ser uma coisa muito bonita."

O grupo inicial de jovens já empolga o técnico. "A gente tem um grupinho, cara… É uma coisa de Deus. Parece que todas podem ser campeãs. Cada uma com mais talento que a outra!" Também faz parte dos planos incluir um ou dois jogadores brasileiros – inclusive com a possibilidade de bolsa. Só não existe ainda um processo seletivo. "Quem sabe a pessoa lê essa matéria, não tem treinador e… Não posso prometer nada, mas é uma coisa que já estamos de olho. Ainda mais com o Brasil. Vou estar disposto a qualquer coisa para ajudar brasileiros", explica o treinador.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.