Soberano no saibro
Três torneios, três títulos, 15 vitórias consecutivas. Nos números, a versão 2017 Rafael Nadal lembra 2007, 2008, 2013 (ou escolha qualquer outro circuito de saibro entre 2006 e 2014). Temporadas que ficaram marcadas por grandes feitos do espanhol no saibro. As três terminaram com títulos em Roland Garros.
O que passa quase sem que ninguém perceba é que Nadal/2017, o veterano que está pertinho de completar 31 anos de idade (3 de junho), é superior nos números a quase todas suas versões anteriores. E não só no saibro. Com os 4.745 pontos que somou no ano até agora, o espanhol faz o segundo melhor "início" (contando quatro meses e meio) de ano da carreira. Só em 2009 (6.025 pontos) esse período rendeu mais frutos ao então número 1 do mundo.
Nem em 2008 (4.100 pontos), quando arrancou para a liderança do ranking, nem em 2010 (3.230), quando partia para retomar a ponta, nem em 2013 (4.000), ano em que venceu dois dos três slams que disputou – não esteve em Melbourne – e voltou a ocupar o posto de número 1 do mundo.
E se faltaram grandes testes em Monte Carlo e Barcelona, Madri veio com condições adversas e uma das chaves mais duras que alguém poderia encarar numa quadra de saibro mais rápida e com altitude. Primeiro, Fabio Fognini quase derrubou um Nadal inconstante e inseguro. Teve muitas chances no primeiro set e deixou escapar a parcial. Forçou um terceiro set, mas o espanhol sacou de algum lugar, quando mais precisava, um tênis mais convicto e seguro.
Foi a única atuação claudicante do campeão. Nick Kyrgios poderia ter sido um desafio e tanto, mas o australiano ofereceu pouca resistência. Difícil dizer quanto cada um pesou, mas entrar em quadra contra Nadal depois da morte de um familiar e sentindo dores não é tarefa das mais animadoras. Depois, Goffin teve uma segunda chance após a confusão de Monte Carlo. Outra enorme partida do espanhol.
A semi, contra Novak Djokovic, foi um teste menor do que o esperado (breve análise abaixo), mas que Nadal superou de forma maiúscula. Por fim, outra decisão com Thiem, repetindo Barcelona, em uma quadra melhor para o austríaco. De novo, o espanhol foi superior. O senhor do saibro, dominando jogos novamente com um spin alto e pesado, escolhendo bem os momentos para subir à rede, usando curtinhas mortais e – não dá para não citar – contando com um backhand calibradíssimo, fazendo estrago em anguladas e paralelas. Uma combinação imbatível até agora.
O tratamento de choque
Novak Djokovic foi a Madri após a corajosa (ou insana? Vocês escolhem!) decisão de se desfazer de toda equipe. Demitiu o técnico, Marian Vajda, o preparador físico, Gebhard Phil Gritsch, e o fisioterapeuta, Miljan Amanovic. Em seu box, apenas o irmão Marko e o guru-amor-y-paz Pepe Imaz. Suou para bater Almagro, jogou um pouco melhor contra Feliciano López e foi superado incontestavelmente por Nadal.
Quando anunciou a separação, Nole disse acreditar que a "terapia de choque" o ajudaria a obter resultados melhores. Embora ele tenha alcançado a semifinal de um Masters (ajudado, é verdade, pelo WO de Kei Nishikori), a tal faísca que ele buscava não apareceu no primeiro set contra Nadal. A segunda parcial foi mais digna, e o sérvio mostrou luta, mas aí faltou a consistência necessária para bater o espanhol no nível de hoje. Só o melhor Djokovic – aquele Djokovic – é capaz de vencer Nadal no saibro.
Fala-se em uma possível parceria de Djokovic com Andre Agassi. O americano, alguém que lidou com falta de motivação, encontrou a tal faísca para dar partida a uma "segunda carreira" de sucesso, e hoje poderia ser a espécie de mestre zen que o sérvio necessita. Por enquanto, porém, não se sabe nada oficial sobre conversas entre eles. Guga também parece ser uma boa opção, mas o brasileiro já disse "não" a Del Potro. Não parece provável que ele volte atrás se Nole pedir. Por isso, o #2 do mundo chega à capital italiana sem um treinador propriamente dito.
A ótima semana brasileira
Os últimos dias foram cheios de boas notícias para o tênis brasileiro – pelo menos dentro das quadras. Em Madri, também neste domingo, Marcelo Melo e o polonês Lukazs Kubot conquistaram mais um título de Masters 1.000. Na final, eles bateram os franceses Nicolas Mahut e Edouard Roger-Vasselin por 7/5 e 6/3.
Nos quatro Masters 1.000 da temporada, brasileiro e polonês chegaram a três finais e conquistaram dois títulos. Não por acaso, lideram a "corrida", o ranking da ATP que conta apenas os pontos somados pelos times em 2017.
No qualifying do Masters 1.000 de Roma, Thiago Monteiro (#100) superou Thomaz Bellucci (#54) por 6/3 e 7/6(3) e avançou à chave principal. Ele estreará contra o alemão Florian Mayer no que será a terceira participação do cearense em um torneio desse porte. Em Indian Wells e Miami, Monteiro caiu na primeira rodada.
Bellucci, por sua vez, não pode reclamar da sorte. Entrou na chave como lucky loser e vai encarar David Goffin (sua vítima nos Jogos Olímpicos) na primeira rodada. Se avançar, encara Fernando Verdasco na sequência.
No ITF de US$ 100 mil em Cagnes-Sur-Mer, na França, Bia Haddad (#115) deu sequência à ótima semana que teve em Praga e levantou o troféu mais importante de sua carreira (por enquanto). Ela superou a suíça Jill Teichmann (#176) por duplo 6/3 na decisão e aparece pela primeira vez no top 100 nesta segunda-feira.
No Future de Valldoreix, na Espanha, Orlando Luz (#533) foi vice-campeão. Ele foi derrotado na final pelo argentino Pedro Cachin (#373). O placar foi 6/2 e 6/1.
Fora de quadra, a nota triste da semana ficou por conta da punição da ATP ao psicólogo brasileiro Aparício Meneses, que discutiu com o gaúcho André Ghem no Challenger da Savannah. Após ler o relatório de Ghem, a entidade incluiu Meneses na lista de pessoas proibidas de receberem credenciais, como já noticiado aqui no blog.
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