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Psicólogo brasileiro é punido pela ATP e entra para 'lista negra' de credenciamento

Alexandre Cossenza

12/05/2017 07h00

O psicólogo brasileiro Aparício Meneses, o Pe, que viajava ao lado do tenista João Pedro Sorgi, atual número 7 do Brasil, foi punido pela ATP e não poderá mais ser credenciado para torneios a partir desta semana. A punição, aplicada pelo supervisor da ATP Tom Barnes, vem após uma discussão com o tenista gaúcho André Ghem durante o Challenger de Savannah, nos Estados Unidos.

Aparício Meneses (à esquerda) e João Sorgi durante sequência de torneios em 2016

Sorgi e Ghem, que dividiam um quarto de hotel naquela semana, se enfrentaram na primeira rodada do torneio americano, e o paulista venceu por 6/4 e 6/3. Ao fim do confronto, Meneses foi cumprimentar o gaúcho, que se recusou a apertar as mãos do psicólogo. Os dois se encontraram novamente pouco depois, já fora da quadra, e Meneses, então, disparou seguidos palavrões, segundo relatou Ghem à ATP.

"Eu cumprimentei o Sorgi, o juiz de cadeira, e o Pe veio me cumprimentar antes mesmo de eu guardar minha raquete. Eu falei 'não, tu tá cumprimentando o cara errado. Ele que ganhou. Eu perdi'. Ele saiu e ficou do lado de fora da quadra. Quando eu saí, falei 'cara, tu não fala comigo, não me dá bom dia, não me dá boa tarde, agora tu quer me dar a mão só porque eu perdi o jogo?' Aí ele me mandou tomar no c*. Assim… a 20 centímetros de mim. Eu tive uma luz assim… Não sei o que me aconteceu. Uma onda de tranquilidade e paz interior… que eu não reagi. Ele falou 'vai tomar no teu c*'. Ele falou três vezes isso."

Após o incidente, Ghem foi até o supervisor do torneio e relatou o que aconteceu. Alguns dias depois, o gaúcho recebeu a confirmação de que Meneses já estava incluído na chamada "No Credential List", junto com um pedido de desculpas da ATP pelo comportamento "inaceitável" do psicólogo. Desde então, Pe não pode mais obter credenciais e fica sem acesso às salas de jogadores e aos assentos exclusivos de tenistas e suas equipes – não importa quem faça o pedido em seu nome. O psicólogo agora só poderá ir aos eventos e se comunicar com seus atletas desde que na condição de espectador comum – inclusive pagando ingresso quando for o caso (torneios das séries Future e Challenger não costumam cobrar entradas).

Sorgi, atual número 271 do mundo, só soube da sanção a seu psicólogo após o contato do autor deste texto. Depois disso, o tenista procurou a ATP para pedir confirmação e questionar a punição aplicada sem que Meneses fosse ouvido:

"Não sei por que a ATP tomou uma decisão tão rápida sem ouvir o Aparício e a minha versão. Estou formulando um email com minha versão dos fatos, e o Aparício, com o relato dele, para enviar à ATP e aguardando pelas decisões e mais explicações. Eu só soube do que realmente tinha ocorrido na segunda-feira [desta semana]. No dia do jogo [na semana anterior], eu tinha visto o Aparício vir me cumprimentar, ir cumprimentar o Ghem, que rejeitou e começou a discutir com ele. Então o Aparício virou as costas e saiu, viu que o Ghem estava de cabeça quente e saiu. Daí o Ghem saiu de cabeça quente e foi atrás dele, trocaram umas palavras, e o Ghem saiu. Nem escutei o que eles estavam falando. Falaram baixo, então para mim não havia tido nada de mais, algo do jogo somente", disse Sorgi em texto enviado por sua assessoria de imprensa.

Em conversa por telefone, Meneses também ressaltou que não foi ouvido pela ATP. O psicólogo negou a intenção de provocar Ghem ao tentar cumprimentá-lo após a partida.

"Eles [Ghem e Sorgi] estavam muito perto. Quando eu fui cumprimentar o Sorgi, ele estava muito do lado. Eu só falei 'Valeu, Alemão'. Entendi que ele estava chateado e não fiz nada nesse momento. Depois, lá fora, é que houve uma discussão, mas foi ele que veio atrás de mim. Foi ele que veio brigar. Provou mais uma vez a posição de jogador de tênis em que ele se coloca. Uma posição de menino mimado e de vítima. É isso que acontece na quadra. É o que ele sempre fez na carreira dele. Foi um dos grandes empecilhos para ele não se tornar um grande jogador de tênis", disse Meneses.

O psicólogo, que também já trabalhou com Rogerinho, Feijão e Laura Pigossi, entre outros tenistas profissionais brasileiros, disse que vai tomar as providências necessárias para se defender. "Dentro desse processo, cabem muitas coisas, inclusive contra o próprio André. Era meu paciente, com quem eu resolvi não trabalhar mais. Estou bem tranquilo em relação ao que pode acontecer", completou.

Coisas que eu acho que acho:

– É de se lamentar que isso tenha acontecido justamente na semana do melhor resultado (por enquanto) da carreira de João Sorgi. Com o vice em Savannah, o paulista pulou 71 posições no ranking e alcançou o 271º lugar – o melhor do tenista de 23 anos até hoje.

– Até a semana passada, o melhor resultado de Sorgi era a semifinal do Challenger de Guaiaquil. No torneio equatoriano, o paulista furou o quali e anotou grandes vitórias em três sets sobre Victor Estrella Burgos (#103 na ocasião), Leonardo Mayer (#124) e Facundo Bagnis (#68), caindo apenas diante de Nicolas Kicker (#129).

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.