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Saque e Voleio

Nadal nota 10 no saibro

Alexandre Cossenza

01/05/2017 07h00

Desde que a temporada de saibro começou na Europa, Rafael Nadal não perdeu. Primeiro, conquistou seu décimo título no Masters 1000 de Monte Carlo. Na semana seguinte, venceu mais cinco jogos e faturou o ATP 500 de Barcelona – também pela décima vez. Sim, são dez vitórias seguidas, dois decacampeonatos, mas o que isso quer dizer sobre a atual forma do tenista espanhol?

A visão-copo-meio-vazio aponta que Nadal foi pouco testado nesses dez jogos. Encarou apenas um top 10 (Thiem, na final de Barcelona) e avançou em chaves desfalcadas e/ou esburacadas. Não deixa de ser verdade. Em Mônaco, o espanhol bateu Edmund (#45), Zverev (#20), Schwartzman (#41), Goffin (#13) e Ramos (#24). Em Barcelona, passou por Rogerinho (#69), Anderson (#66), Chung (#94) e Zeballos (#84) antes do encontro com o top 10 austríaco.

Ainda sob o ponto de vista pessimista da coisa, havia alguns jogos mais duros, mas que se tornaram fáceis. Alexander Zverev esteve muito mal, enquanto David Goffin foi prejudicado e perturbado por um erro enorme do árbitro de cadeira. Além disso, Edmund, em quem Nadal aplicou um pneu no primeiro set, venceu a parcial seguinte. Mostrou certa oscilação do espanhol, ainda que tenha sido seu primeiro jogo no piso em 2017.

Há quem prefira ver o lado bom da coisa. Sim, Nadal perdeu um set para Edmund, mas não cedeu nenhuma outra parcial no saibro depois daquele dia. Além disso, só precisou jogar um tie-break (contra Chung). Nos dez jogos, aplicou 6/1 seis vezes – inclusive contra Thiem em Barcelona e contra Ramos em Monte Carlos – as duas finais que disputou.

E é aí o grande ponto que precisa ser feito sobre o momento de Rafael Nadal. Se o espanhol não foi aquele tenista impecável atropelou todos na terra batida em 2008 (ou 2010 ou 2012 ou escolha qualquer temporada – que não seja 2011 – até 2013), o ex-número 1 do mundo foi excelente nos jogos mais duros. Se Zverev teve um dia ruim em Mônaco, Nadal teve grande parcela de mérito. Se Thiem não conseguiu impor sua potência em Barcelona, foi porque Nadal exigiu sempre mais e mais, ponto após ponto, até a exaustão mental do austríaco no segundo set.

Moral da história? Nadal navegou por chaves um tanto acessíveis, mas mostrou habilidade para domar as ondas que apareceram no caminho. E se essas marolas fazem com que ele ainda não pareça dominante o suficiente para ser alçado ao posto de favorito absoluto ao título de Roland Garros, é igualmente verdade que nem Novak Djokovic nem Andy Murray nem Stan Wawrinka nem ninguém mostrou tênis em nível parecido desde que o circuito chegou ao saibro europeu.

Coisas que eu acho que acho:

– Sim, neste momento Nadal é quem lidera as cotações para o título de Roland Garros nas casas de apostas. Nenhuma surpresa.

– Por favor, ênfase em "neste momento" na frase acima. Há dois Masters 1.000 pela frente, então há tempo para que Djokovic e Murray adquiram ritmo e cheguem mais fortes em Paris. O sérvio mostrou flashes de brilho e um elogiável espírito de luta, mas também apresentou um tênis errático e muito menos consistente do que "aquele" Djokovic. A comparação é sempre injusta, mas "aquele" nível talvez seja o necessário para bater Nadal no saibro.

– O panorama não é muito diferente para Murray. O britânico perdeu para Albert Ramos em Monte Carlo e deveria ter sido derrotado pelo espanhol também em Barcelona. Na Espanha, contudo, o número 1 do mundo foi mais sólido (ou menos inconsistente?) e alcançou a semi, onde nem esteve tão longe de superar Thiem. Mostrou evolução, mas ainda não o bastante.

– Que Roma e Paris, com Kyrgios (na Austrália por causa da morte de um parente), Del Potro (em Estoril nesta semana), Wawrinka (perdeu para Cuevas na segunda rodada em Mônaco), Raonic, Cilic (os últimos dois jogam em Istambul antes) e um punhado de outros nomes perigosos, deem uma animada nesse cenário pré-Paris.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.