Topo

Saque e Voleio

Sinais positivos de Djokovic

Alexandre Cossenza

18/04/2017 17h14

Desde o segundo semestre do ano passado, parece que alguém baixou um decreto exigindo que toda conversa sobre um certo sérvio passasse pela questão "o que acontece com Novak Djokovic?" Afinal, o cidadão que dominou o circuito por mais de dois anos e venceu os quatro slams em sequência perdeu a liderança do ranking, a aura de invencibilidade e ainda ouviu críticas do ex-técnico Boris Becker por causa de suas novas prioridades na vida.

O 2017 do sérvio também não empolgou até agora. Depois de começar o ano com título em cima de Andy Murray em Doha, Nole tombou diante de Istomin no Australian Open, perdeu para Kyrgios em Acapulco e Indian Wells e não jogou em Miami por causa de uma lesão no cotovelo direito. Fora a zebra em Melbourne, nada trágico. Seu domínio nos anos anteriores, porém, provocou expectativas super-humanas. Como se precisasse estar acontecendo algo de muito errado na vida do sérvio para causar os tais resultados "decepcionantes".

Uma entrevista em especial repercutiu bastante. Djokovic afirmou que o tênis não era a prioridade número 1 em sua vida. A frase foi vista quase como um crime por alguns. Como se Andy Murray, casado, pai e número 1 do mundo, fosse dizer algo diferente. O britânico, aliás, chegou a afirmar que largaria um slam se fosse necessário para ver o nascimento da filha. Como se muitos outros tenistas tivessem prioridades diferentes. O fato é que a tal frase, aliada às críticas de Becker, foi um prato cheio para quem queria questionar Djokovic. Mas eu divago.

Pois o sérvio voltou ao circuito da ATP esta semana, mais de um mês depois de Indian Wells – embora tenha feito um jogo de Copa Davis no fim de semana. Um ingrato retorno, diga-se, diante de um afiado Gilles Simon. O francês foi sólido ao extremo e exigiu um bocado de Djokovic. Aprofundou bolas, alongou ralis, subiu bem à rede. Foi tanto uma prova técnica quanto um teste para a paciência e a força de vontade do atual número 2 do mundo.

Nem foi a mais brilhante das atuações de Nole, mas é aí que entra seu maior mérito do dia e que serve como bom indício de que ele está com a cabeça no lugar e disposto a brigar por vitórias. Simon teve quebras de vantagem no terceiro set. Primeiro, abriu 3/2. Djokovic devolveu imediatamente. Depois, o francês sacou em 5/4. Valia a vitória. Outro game impecável do sérvio. Outra quebra. E Djokovic embalou, venceu três games seguidos e avançou às oitavas de final do torneio monegasco por 6/3, 3/6 e 7/5.

É cedo? Claro que é. Mas Djokovic foi tão exigido em tantos ralis que um tenista menos concentrado ou faminto teria cedido. Não seria vergonha alguma tombar diante do Simon que esteve em quadra nesta terça-feira. O sérvio ficou na briga e saiu vencedor. Como fez tantas e tantas vezes na careira e, numa chave com Carreño Busta, Thiem e Nadal, provavelmente precisará fazer novamente em Monte Carlo, nesta semana. Os próximos dias darão um panorama melhor sobre que Djokovic vamos ver na temporada de saibro europeia, mas esta terça já trouxe sinais positivos.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.