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Saque e Voleio

Primeiras impressões de 2017

Alexandre Cossenza

08/01/2017 13h37

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Uma semana de jogos. É só isso que o mundo tem para analisar até agora e imaginar o que pode acontecer no Australian Open. É uma amostra pequena, é bem verdade, e muita gente se preocupa mais em calibrar os golpes do que no resultado imediato. Por isso, nem sempre é fácil "ler" o que aconteceu nestes primeiros torneios de 2017. Mesmo assim, já dá para começar a notar algumas tendências. Se elas vão ou não se confirmar em Melbourne e no resto do ano, é impossível saber. Mas elas estão aí, e este post é justamente sobre essas primeiras impressões da nova temporada. Comecemos pelo topo do circuito masculino, onde há dois favoritos óbvios e um interessante equilíbrio abaixo.

Andy Murray e Novak Djokovic

Britânico e sérvio, números 1 e 2 do mundo, respectivamente, são indiscutíveis como favoritos ao título do Australian Open. Ambos jogaram para o gasto em Doha e chegaram na final. E que final! Um jogo surpreendentemente bom para um primeira semana de temporada e que valia só 100 pontos (ou 200, se você é adepto da expressão futebolística "jogo de seis pontos").

O que estava mesmo em jogo na final de Doha era moral, por isso Djokovic sai na frente. Para ele, o triunfo era mais importante. Murray já vinha de vitória sobre o sérvio no ATP Finals. Um resultado igual em Doha poderia mexer com o equilíbrio desse matchup. Com o título nas mãos de Djokovic, o cenário parece voltar a ser o mesmo de quase sempre: o sérvio será favorito caso os dois se encontrem na final em Melbourne.

O segundo pelotão

Kei Nishikori, finalista em Brisbane, talvez tenha mostrado o tênis mais sólido do começo ao fim da semana. Não deixa de ser um ótimo sinal para o japonês, mas vale ligar o alerta para a questão física. O tênis de Nishikori costuma cobrar contas altas, e a primeira de 2017 já apareceu. O japonês saiu da final de Brisbane se queixando de dores no quadril e dizendo que "vou tentar ficar saudável na próxima semana e espero estar pronto para o Australian Open."

Tudo aponta para que Federer seja o cabeça 17 na Austrália, o que significa a possibilidade de um confronto de terceira rodada já contra um cabeça de chave 9 a 12. E como Nadal deve ser o cabeça 9, isso significa que, sim, é possível um "Fedal" já na terceira rodada. Mas o suíço também pode encarar Berdych, Goffin ou Tsonga nessa fase. Resumindo: as consequências serão grandes.

E isso, claro, se ninguém desistir até o início do torneio. Porque se isso acontecer, Nadal sobre para cabeça 8, e Federer, para 16. Nesse caso, aumentam muito as chances de o suíço encarar Murray ou Djokovic nas oitavas. Já pensaram?

Quanto à forma tenística, Federer fez um belo retorno. Jogou a Copa Hopman, se movimentou bem e conseguiu duas vitórias esperadas (Daniel Evans e Richard Gasquet). Mostrou um tênis que deve lhe render vitórias tranquilas nos primeiros jogos em Melbourne. É bem verdade que o suíço foi superado em três tie-breaks por Alexander Zverev e que foi o alemão que venceu a maioria dos ralis. Cabe, no entanto, a velha ressalva de pré-temporada.

Fosse um torneio oficial, Federer teria somado tantos erros não forçados (e foram muitos mesmo!) ou teria arriscado menos? O que ele queria mais: vencer aquela partida ou calibrar seu tênis? Fico com a segunda hipótese, pelo menos por enquanto. Não vejo motivo para desespero. Ainda assim, pairam as mesmas perguntas que todos faziam em 2014 e 2015. O Federer de hoje, com 35 anos, consegue passar por Murray e/ou Djokovic em cinco sets?

No que diz respeito a Nadal, o espanhol vem jogando o tênis agressivo que acredita precisar jogar. Quando dá certo, o ex-número 1 tem grandes atuações. Quando não, perde jogos que não deixaria escapar em outros tempos. Jogando desse jeito, a margem para dias ruins diminui. Não consigo ver o Nadal de hoje ganhando tantos jogos sem jogar seu melhor, como fez por tanto tempo. E lembremos: jogando assim, Nadal não encaixa duas semanas inteiras de ótimo tênis desde o US Open de 2013. A cada dia que passa, fica mais difícil (mas não impossível) imaginar que isso vá se repetir.

Quem corre por fora?

Por enquanto, é difícil dizer o que esperar de Dominic Thiem. No início da semana, o revés diante de Dimitrov parecia decepcionante, um começo de ano abaixo da expectativa. Agora, depois de ver o búlgaro com o título, nem tanto.

Alexander Zverev também chega cheio de moral após a Hopman – especialmente com a vitória sobre Federer. No entanto, o adolescente que muitos acreditam estar no rumo para ser número 1 do mundo ainda precisa de uma grande campanha em um Slam. Talvez de uma grande vitória (em um torneio oficial) para servir de trampolim para voos mais altos. Até que isso aconteça, Sasha entra em qualquer torneio brigando pelo posto de "meu azarão favorito".

O que dizer de Nick Kyrgios, que chegou à Copa Hopman com uma lesão sofrida numa pelada de basquete? A falta de compromisso do garotão não chega a ser uma surpresa (ele vive dizendo que não gosta de tênis), mas me parece um abuso para quem andou falando que poderia conquistar o Australian Open já este ano. Jogo para isso ele, de fato, tem. Ainda precisa mostrar que tem cabeça, foco e todos aqueles atributos que são mais do que bater bem na bolinha.

Quem surpreendeu?

O grande nome da primeira semana na ATP é, inquestionavelmente, Grigor Dimitroc. O búlgaro começou 2017 com três vitórias sobre top 10: Thiem, Raonic e Nishikori. Foi quem mais impressionou – pelo menos em termos de resultados – até agora, e o título de Brisbane lhe dá a confiança necessária para chegar a Melbourne realmente acreditando na possibilidade de uma grande campanha.

As grandes questões para Dimitrov, agora, são: ele teria feito o mesmo em um torneio mais importante, onde o resultado imediato fosse prioridade para todos tenistas?; e ele conseguirá repetir esses resultados em jogos de cinco sets, lembrando que ele não alcança as quartas de um Slam desde 2014? Talvez seja injusto levantar tais questões na primeira semana do ano, mas é nisso que a gente vai prestar atenção em Melbourne, não é verdade?

Nas casas de apostas

Fiquem de olho nas cotações pós Hopman/Doha/Sydney. Vai ser interessante ver o quanto elas vão mudar após o sorteio da chave em Melbourne.

Os brasileiros

Para o Brasil, até que os primeiros torneios do ano renderam resultados animadores. Thiago Monteiro perdeu na primeira rodada em Chennai, mas venceu dois jogos (Fabbiano e Giraldo) e entrou na chave principal em Sydney. O cearense também anunciou seu novo fornecedor de material esportivo: a espanhola Joma, que entra no lugar da Lacoste. Monteiro, lembremos, deixou de ser agenciado por Gustavo Kuerten (garoto-propaganda da Lacoste) para ser atleta da LinkinFirm, de Márcio Torres, que também agencia Bruno Soares, André Sá e Teliana Pereira.

Rogerinho, por sua vez, venceu uma partida (Lajovic) em Chennai, mas caiu nas oitavas de final, superado por Roberto Bautista Agut, que acabou como campeão do torneio. Em Sydney, porém, o paulista foi eliminado na primeira rodada do qualifying por Nikoloz Basilashvili.

Thomaz Bellucci, o #1 do Brasil, entrou na última hora na chave em Sydney, mas não passou da estreia. Diante de Nicolas Mahut, fez um primeiro set nada animador e só esboçou uma reação no finzinho do segundo set. Até teve chances de estender a partida, mas terminou derrotado por 6/2 e 7/6(2).

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Vale notar também que Bellucci não é mais atleta da adidas. O paulista jogou em Sydney vestindo Wilson, marca que já era sua fornecedora de raquetes. O texto de sua assessoria de imprensa cita como marcas parceiras de Bellucci a Claro, a Embratel (que são a mesma empresa) e a Wilson.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.