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Saque e Voleio

Bia Haddad: sobre meditação, expectativas, contas a pagar e amor no tênis

Alexandre Cossenza

20/12/2016 07h00

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"Se eu estivesse ganhando jogo, você saberia." Foi assim, direto, mas sem mágoa, que Bia Haddad reagiu quando lhe disse não saber que ela morava no Rio de Janeiro há um ano. E a paulista foi assim a conversa inteira, que durou 30 minutos marcados no relógio. Direta, sem fugir de respostas e dando opiniões.

O papo era sobre 201/6/17, mas falamos de muito mais do que tênis. O esporte serviu de ponte para abordarmos educação, ioga, finanças e um bocado de outros temas. Bia falou sobre como quer jogar em 2017 – agressiva, mas se movimentando melhor em quadra -, mas também comentou o quão duro é chegar de uma viagem vitoriosa com dois patrocinadores a menos (Correios e Asics).

A paulista de 20 anos, atual #172 do mundo e #2 do Brasil, também falou do trabalho de meditação que faz no dia a dia, do que acha sobre quem larga o colégio cedo para jogar tênis, de aprender a controlar expectativas e do momento do tênis feminino. E falou bastante, sem titubear.

Bia só ficou sem jeito quando comentou – a meu pedido – o namoro com Thiago Monteiro. Procurou palavras, mudou frases, ficou com o resto vermelho. Mas quando começou a falar – e Bia gosta de falar! – mostrou todo orgulho que sente pelo namorado e sua ética de treinos.

Sim, a entrevista é grande (se você é leitor do Saque e Voleio, sabe como as coisas funcionam por aqui), mas é um papo delicioso que vai te fazer conhecer e entender melhor a menina que há muitos anos é vista como maior esperança do tênis feminino no Brasil. Role a página e curta.

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Em 2015, você terminou a temporada como 198 do mundo. Hoje, você é 172. Você usa ranking como parâmetro para dizer se um ano foi positivo, mesmo considerando que ficou seis meses sem jogar no ano passado?

Em 2015, eu terminei sem jogar sete meses, então não dá pra comparar um ano com o outro. O principal foi que neste ano eu tive mudanças. Em 2015, eu ainda morava em Balneário Camboriú. Este ano, vim treinar na Tennis Route, que é um centro de treinamento super diferenciado no Brasil. Estou aprendendo coisas novas aqui, então essas 20 posições aí que eu ganhei não têm nada a ver com ser melhor ou pior. Este ano foi um ano de mudanças, de consolidação de algumas coisas. Técnica, física, mental, alimentação… Mudei várias coisas. Não estava preocupada com resultado em nenhum momento. Tirando essa última gira, não foi um ano de muitas vitórias, mas foi um ano que consegui colher um pouco do que eu trabalhei durante o ano todo agora, no final dessa gira.

Você vem viajando com quem?

Essa última gira eu fiz com o Paulo [Santos], fisioterapeuta, e vou para a Austrália e Shenzhen com ele, mas aqui na Tennis Route eles têm toda a equipe. O João [Zwetsch] e o Duda [Matos] são os coordenadores e tenho alguns treinadores para o dia a dia, mas para viajar, por enquanto estou viajando com o Paulo.

Mas no balanço, você considera um ano positivo, então?

Muito positivo! Independente de resultado, de eu não ter alcançado meu melhor ranking, foi um ano em que eu evoluí muito. Eu me solidifiquei pra entrar em 2017. Isso foi o principal.

Qual foi o melhor momento do ano? O fim mesmo?

Acho que agora (risos de ambos). Essa gira… Essa gira foi essencial pra mim porque o Paulo pôde estar do meu lado, e a gente fez um trabalho mental show que fez muita diferença. Eu também voltei a jogar feliz, mais tranquila. Me apeguei bem às minhas rotinas tanto dentro quanto fora da quadra e foi um ano que eu dei meu melhor. Puxa, saí desse ano sabendo que dei meu melhor em TODOS dias, independente de estar perdendo ou ganhando. Fiz o que eu podia fazer, então estou satisfeita.

Você falou em "mental" e "rotina". Em março, você já estava fazendo meditação todo dia. Como isso chegou até você? Você procurou alguém, alguém te procurou, como foi?

Na primeira vez que eu tive contato mesmo, eu treinava no Larri [Passos], e ele sempre falou. A mulher dele praticava ioga, e ele sempre falava que pra mim ia ser muito bom fora da quadra. Eu tinha uma professora lá em Balneário que me ajudava duas, três vezes por semana, mas nunca foi uma rotina que… Eu fazia ali como se fosse uma aula de pilates. Fazia uma aula de exercícios também e, quando viajava, muitas vezes eu deixava de fazer. Aqui na Tennis Route, eu voltei a praticar diariamente. Todo dia antes do café da manhã eu faço. São as minhas rotinas. Tem algumas mentalizações, algumas respirações antes do café do manhã, pra começar do dia bem, e antes de dormir, à noite. São momentos do dia que a gente dá para a gente mesmo. Tem gente que se sente bem com outras coisas, mas me apeguei a isso e estou gostando.

Você faz visualização do tipo antes do jogo, de pensar "minha direita tem que estar assim", minha esquerda…

(interrompendo) Não, não. Na verdade, não é só para o tênis isso. É pra minha vida, tanto que fora da quadra, até atitudes eu estou tendo diferentes. É mais para eu conseguir mais viver o presente e saber que eu estou fazendo o meu melhor. E não é só jogando tênis. É cumprimentando uma pessoa, é no estresse do dia a dia, então influencia muitas coisas.

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Você lê alguma coisa sobre zen-budismo? Porque você está me dizendo coisas que eu li em livros desse tipo…

Não, mas eu cheguei a ler uns livros do [guru indiano Paramahansa] Yogananda. Tem muita relação com isso, né? E eu aprendo muito com o João Zwetsch. Ele me ensina muita coisa. Nas poucas gente que a gente conversa, o papo dura bastante. Os dois gostam de falar (risos). No fundo, tem gente que se apega a religião, tem gente que se apega a ioga, meditação, e tem gente que se apega a outras coisas, sei lá. Todo dia de manhã vai lá na praia e volta. Às vezes, aquilo ali coloca a pessoa bem. Então é muito relativo. Pra mim, isso encaixou e independente de ser ioga ou não, eu estou me sentindo bem. Isso é o que vale.

Você já leu um livro do Phil Jackson, aquele que foi técnico do Chicago Bulls do Michael Jordan? Não sei se você curte esse tipo de livro… Um livro chamado Cestas Sagradas…

Não, não. Achei que você estava falando daquele Jogando Para Vencer.

Não.

Esse é muito bom!

De quem é?

John Wooden, um treinador da NCAA. Ele foi dez vezes campeão da liga. É muito bom, muito bom.

Mas nesse livro do Phil Jackson, ele conta que distribuía livros aos jogadores quando tinha uma sequência de jogos fora de casa. Cada livro tinha alguma mensagem que normalmente tinha relação com o papel que o Phil Jackson queria que o jogador fizesse no time. E um desses livros era de um mestre japonês chamado Shunryu Suziki. O livro chama Zen Mind, Beginner's Mind. E era sobre você aprender ou reaprender a ver as coisas do dia a dia como se fosse criança, como se tudo fosse novidade. Para você não se deixar cair na banalidade do dia a dia, sabe?

É, não criar expectativa! Tem muita gente que espera algumas coisas que não tem que esperar. Tipo assim: se eu ficar esperando ganhar um torneio, eu não vou ganhar. Eu tenho que ir lá, sacar, fazer meu forehand porque ali eu tenho chance de ganhar o ponto pra ter chance de ganhar o game pra ter chance de ganhar o set porque a outra também está fazendo a mesma coisa! O tênis, cara, é muito difícil. Todo mundo hoje está bem fisicamente e mentalmente, e a cabeça comanda, no fundo, né? Tem que estar muito tranquila porque você já tem a bola, a rede e a linha contra você. Tem o outro jogador, tem a torcida… Se você se martirizar toda hora, você está ferrado.

Você falou em "esperar". Ainda te incomoda as pessoas esperarem tanto de você?

Cara, pra mim não muda nada. Se falarem que eu vou ser boa, que eu saco bem, que eu bato bem… O que eu tenho que fazer é entrar na quadra, dar o meu melhor e acabou. Achar não resolve nada. Pô, eu acho que, sei lá, o Thomaz pode ser número 1 do mundo…

(interrompendo) Mas esperar é pior, né? É mais forte!

É, esperar. Você espera que eu seja número 1 do mundo… É a cultura do brasileiro. Eles são carentes de ídolo, né? Então se não for o Guga, não está bom. Olha o Thomaz. Desculpa a palavra, mas o Thomaz joga pra caralho! Ele joga muito tênis, é um cara que para mim pode estar entre os 20 do mundo tranquilamente. Ele tem cabeça boa, mas é aquilo… Os caras contra quem ele joga… As pessoas não têm noção. Quem fala isso, não tem noção da realidade. É muito mais duro. É muito treino, é muita força de vontade e dedicação pra você ter uma chance. Para você ter chance! Nada está garantido.

Isso vem um pouco porque muita gente não tem noção mesmo da profundidade do tênis, né? O tamanho do buraco…

É muita coisa que influencia. É muita coisa em volta que as pessoas não veem. Como chegar e dizer "é só jogar a bola aqui que a Bia erra". Pô, você sabe quantas bolas eu treino pra falar isso? Você acha que eu não sei que tenho que melhorar minha movimentação? Sabe quantas vezes por dia eu corro na quadra pra melhorar minha movimentação? Só que eu tenho "dois metros", você quer que eu faça o quê?

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Você tem quanto de altura mesmo?

1,85m. E querem que eu me mexa que nem a Halep. Não, mas eu vou! Pra mim… Eu quero ser a mulher mais alta que se movimenta melhor. Porque você vê a Kerber, a Halep, a Azarenka, as mulheres correm hoje.

Eu tinha perguntado lá no começo sobre seu melhor momento do ano. E o pior, qual foi?

Pior momento? (pensativa)

Teve um pior momento?

Cara, não tive um pior momento. Acho que todos momentos foram especiais.

Fed Cup, talvez? Ficou com um gosto amargo porque era um confronto ganhável [o Brasil perdeu da Argentina por 2 a 1]?

Não, não. A menina jogou muito, a Nadia [Podoroska]. Eu tinha ganhado dela na semana anterior, tinha feito duas semis seguidas, estava cansada, e a menina foi superior. Mérito total da Argentina.

E a Olimpíada, como você viveu? Tanto a parte de não jogar quanto a de ver os Jogos Olímpicos na cidade…

Ah, eu curti. Estava aqui, fui lá. Vi basquete, vi handball, tênis de mesa, achei demais! Tênis de mesa foi o mais legal de ver, o handball do Brasil foi show, os meninos estavam jogando muito bem, uma equipe unida. Acho que todos estádios onde o Brasil estava jogando, a energia estava sensacional. Não esperava que fosse repercutir tão bem. A abertura foi linda, o encerramento foi maravilhoso. Lá fora todo mundo dizia que era no Rio, "tem tiro, vou morrer"…Foi demais. A gente mostrou para o mundo que Brasil é tão ou mais capaz do que outros países de fazer qualquer coisa. Foi sensacional.

Do tênis, você viu alguma coisa?

Na TV só. Eu tentei ir um dia, mas não tinha como pegar ingresso…

A CBT não tinha ingresso pra dar?

Não, não [foi isso]. Até tinha algumas opções, mas coincidia porque eu tinha treino. Acho que eu podia ir na final ou um dia, mas não coincidiu os horários, por isso eu fui nos outros esportes. Mas só de estar todo mundo aqui do lado de casa, achei demais.

Avançando… você terminou com ano com dez vitórias seguidas e dois títulos em ITFs de US$ 50 mil. Aí volta pra casa, acaba o contrato com os Correios, e a Asics está saindo do tênis. Bate um desânimo?

Está sendo um momento delicado para todos. Eu sei porque para o Thiago [Monteiro] também sei que está difícil. Para o Thomaz também está difícil. Para todos está difícil. Hoje, assim, estou muito tranquila no que eu tenho que fazer, que é jogar e seguir nessa pegada. O que vai acontecer fora da quadra vai depender do meu dia a dia e de como eu for este ano [2017]. Não esquento com esse negócio de patrocínio e dinheiro porque se você ficar jogando pelo dinheiro, "putz, não vou pagar minha conta", não [dá certo].

Com o que você tem de patrocínio e com a IMG, você consegue jogar tranquila o ano, no calendário que você quer?

Não, não. Não, vou te falar que, pô, terminei com dez jogos invictos, número 1 do Brasil até agora [Bia estava à frente de Paula Gonçalves no dia da conversa], e começar o ano sem saber como vai começar é muito difícil. Hoje, para você, por exemplo, pagar um treinador, um centro de treinamento, para ter uma viagem e pagar alimentação sua e do seu treinador, hotel do treinador, transporte… Às vezes tem que trocar uma passagem, tem que treinar aqui, ali… É muita coisa que envolve. É muito caro, e vou te falar que o momento está duro para o Brasil. Eu estou no meu melhor momento do ano, e a gente está tentando achar alguma coisa porque… Eu tento não me preocupar com isso, mas sei o quanto é importante. Sei que vou conseguir resolver meus problemas dentro da quadra.

Nesse calendário que você montou, começa no WTA Shenzhen, onde você ganhou convite…

Aí tem Austrália, Fed [Cup], [ITF de] Surprise, [ITF de] Santa Fe e [WTA de] Acapulco.

Isso já está fechado, dá pra fazer com tudo pago?

Não, hotel e passagem ainda não comprei, mas é o plano A. Aí tudo depende. É claro… Se você toma cinco primeiras rodadas, aí você vai pra Challenger. Você ganha um WTA, muda. Tudo depende de como você estiver indo, mas a ideia é essa.

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E você estabeleceu uma meta pra 2017?

Na Tennis Route, eu tenho meta de estudo, meta de tênis e meta minha comigo. Essas três. A minha comigo é terminar bem fisicamente. Graças a deus entrei numa linha que não estou mais me lesionando, não existe mais cãibra, essas coisas. já passei por isso e já estou muito bem de cabeça. A gente está trabalhando coisas muito específicas do meu jogo, então quero começar na quadra, independente de ganhar ou de perder, começar a colocar o que eu venho fazendo no treino dentro do jogo.

O quê, especificamente?

Ah, eu acho que o tênis hoje está muito agressivo. É buscar mais a rede. As meninas estão cortando o tempo, usando muitas paralelas. O tênis está renovando toda hora. As meninas acabaram emagrecendo e isso, você correr mum rali, jogar em pontos longos, ter a possibilidade de, num ponto importante, a menina dar um drop shot, e você chegar na bola… Minha maior arma sempre foi meu saque e minha força, só que eu posso treinar para ser sólida que nem a Kerber? Por que eu não posso fazer isso? Então emagreci para tentar estar rápida. Tem muita coisa que envolve. Eu sou grande, sou canhota, tenho que jogar agressiva, mas tenho que buscar onde melhorar. Ficar mais magra já está me ajudando muito. Você se sentir bem, saber que ganhou o ponto sem usar tua maior arma, isso é demais! É muito legal.

E isso passa a confiança para o resto. Em qualquer jogo que estiver pau a pau, se você ganha dois ralis realmente longos, isso muda muito a balança do jogo porque mexe com a cabeça da outra…

E mulher oscila. A gente oscila muito, né? Você vê direto jogo de 4/0 ficando 4/4 e aí uma faz 6/0, a outra faz 6/1…

O saque tem um peso menor também, né?

Aí eu acho que já tenho mais vantagem porque sou uma menina alta e saco pra ganhar o ponto no saque. Isso é bom, mas ao mesmo tempo eu tenho que treinar mais a minha devolução. Cada uma tem suas especificidades. Mas a minha meta é isso aí. Em relação a ganhar jogo, cara, se eu fizer meu melhor e ganhar ou perder, já está bom.

A meta de estudo como é?

E faço administração na Estácio. Tenho as minhas notas, minhas médias, então minha meta é sempre estar bem. Sempre fui bem no colégio, nunca tive problema, e sempre quis manter isso. Até o Thiago faz o mesmo curso que eu, e a gente faz as mesmas provas. Essa semana, a gente tem quatro provas. A gente tem a pré-temporada também, mas dá tranquilo porque tem muito tempo de viagem, aeroporto, onde dá tempo de estudar. Estou curtindo, terminando o segundo ano.

Você sempre estudou em colégio com aula presencial?

Eu fui até o último ano. Eu fiz o terceiro ano [do ensino médio] à distância porque deu um problema com o colégio, e eu tive que fazer à distância.

Eu imagino que seja complicado isso…

Você indo pra aula, já perde meio período de treino, mas acho que nessa idade é importante ir pra aula. Tem gente que é louco, larga o colégio na sétima, oitava série. Pra mim, isso é totalmente loucura. Largar o colégio, jamais! Acho que a pessoa que faz até o terceiro ano pode tranquilamente jogar tênis. Eu hoje faço faculdade e jogo tênis. E hoje tem ensino à distância, que facilita muito. Eu sei de outros atletas que fazem, não é só tenista. Porque não é um país de cultura do esporte. Não é que nem nos EUA, onde o cara vai para o college. E no college também não sei se dá pra você ser profissional. É duro, você tem que ver o que é melhor pra você e suas prioridades. Se você tem a prioridade de estudo, talvez treinar meio período não é ruim. Se sua prioridade é ser um bom jogador, um profissional, então às vezes tem que abrir mão de outras coisas. Mas tão cedo não é necessário.

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Agora vem cá… Foi um grande agito em fóruns – não sei se você costuma ler isso – quando se soube que você e o Thiago [Monteiro] estavam namorando. Como é namorar tenista?

A gente é muito parecido, assim. É… (pensando) A gente é muito tranquilo, não é de sair muito…

Vocês se conhecem desde Camboriú, né?

É, a gente é muito amigo desde muito tempo. A gente viajava junto, né? Acho que teve uma viagem que eu fiz que eu tinha 11 anos, ele tinha 13, pra jogar um Sul-Americano de 14 na Venezuela. A gente nunca imaginou que fosse namorar! A vida é muito louca, né? Mas o importante é que ele me ajuda, eu ajudo ele. A gente tem noção que o tênis na nossa vida é o nosso trabalho, é o mais importante no momento. A gente tem uma vida em que se vê muito pouco também porque quando um está viajando, o outro volta. Ele está aqui no Rio, eu tô na China. Aí eu volto, ele está não sei onde, é duro. Mas o mais importante é que a gente está bem, está tranquilo.

Ele estava com você nessa última viagem, não?

Ele estava, ele estava.

E como é ganhar um torneio com o namorado ali do lado?

Ah… (envergonhada)

Você ficou vermelha agora… Por que você tá com vergonha?

É que a gente sempre foi muito amigo, então…

Vocês namoram há quanto tempo? Começou este ano?

É… (pensativa) Não (envergonhada)

Tá bom, não precisa dizer (risos de ambos).

Mas é que a gente começou muito como amigo. É muito louco porque no começo a gente sempre… Como a gente conviveu muito como colega de treino… É recente que a gente começou a namorar, então…

Muda uma chave em algum lugar, né?

É! É muito louco (risos de ambos). Porque eu… Pra mim… Quando eu estou com ele aqui, a gente treina junto. Não tem essa de "você é meu namorado, senta aqui comigo". Não! Estamos no treino. A gente é muito à vontade, se ajuda. Ele é muito tranquilo, eu sou muito tranquila. A gente não briga por nada. A gente só se apoia. Então… A gente se gosta, é o mais importante (risos).

E como você viu este ano dele?

Ah, foi demais. Vou te falar que para mim o diferencial dele não é este ano. As pessoas olham porque ele ganhou do Tsonga, ganhou do Almagro, mas quem conhecia a pessoa que ele é, de onde ele veio… Cara, a humildade dele! Ser um menino que sempre quer o bem de todo mundo e, dentro da quadra, que é o mais importante, ele dá o melhor dele. Você vê ele treinando, você fica preso naquilo ali. Ele é um menino muito diferente, independente dos resultados. Ele lesionou ano passado, faz um ano dessa lesão, e ele aprendeu muito com isso. Ali, ele tomou um tempo e aprendeu algumas coisas que fizeram total diferença para este ano. Ele sempre teve um sonho e tenho certeza que só está começando a carreira dele. Ele merece. É um ano muito especial.

Verdade.

É que eu vejo muito mais a pessoa dele. Todo mundo vê ele na TV e fala "nossa, ele joga muito", "é o próximo Guga", mas eu vejo a pessoa dele, vejo que o tênis dele é… Você vê que é um menino que treina muito. Eu vejo muito mais por esse lado, da personalidade, do trabalho duro dele, que é muito mais do que só ter ganho aqui ou ali. Os resultados não vêm por acaso.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.