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Saque e Voleio

A CBT está a serviço de quem?

Alexandre Cossenza

12/12/2016 12h50

Lacerda_Davis_Andujar_blog

Talvez a maior crítica feita à Confederação Brasileira de Tênis (e são muitas críticas, feitas por muita gente – pelo menos quando os microfones estão desligados) é que o órgão máximo da modalidade no Brasil gasta energia demais com questões pessoais de seu presidente, Jorge Lacerda, quando poderia estar mais envolvido em resolver assuntos de maior importância para o desenvolvimento da modalidade e seus atletas.

citei aqui no Saque e Voleio vários casos, incluindo o Circuito de Tênis Escolar Universitário e a Nike Junior Tour. Mais recentemente, Lacerda usou sua posição para exigir do Comitê Rio 2016 a não-contratação da jornalista Diana Gabanyi. Todos casos envolveram questões pessoais do presidente da CBT.

Neste fim de semana, recebi um documento com mais um exemplo desses. Lacerda escreve uma carta de apoio a uma das chapas que disputa a presidência da Federação de Tênis do Rio de Janeiro (FTERJ). Entretanto, no texto, endereçado à "comunidade tenística do Rio de Janeiro" e enviado a um endereço de email da FTERJ, o dirigente usa mais linhas para atacar Ricardo Acioly, líder de uma chapa concorrente, do que para elogiar a atual gestão da federação fluminense. Acioly é mais um nome visto por Lacerda como parte de um "grupo" contra ele. Segue abaixo a reprodução do texto, que pode ser baixado aqui.

CBT_Acioly_col_blog

Não vou entrar no mérito da briga entre Lacerda e Acioly, mas há alguns pontos que preocupam no sentido de que o documento foi redigido por um presidente de confederação.

O primeiro deles é que Lacerda admite ter tomado tempo para protocolar no Tribunal de Contas da União, na Controladoria-Geral da União e no Ministério Público Federal, denúncias contra o suposto grupo do qual, segundo ele, Acioly faz parte. É admirável ver que o presidente se preocupou em analisar minuciosamente um projeto apresentado por quem ele considera opositores.

Tivesse o mesmo zelo com projetos apresentados pela CBT, a Confederação talvez pudesse ter dado sequência ao fracassado Projeto Olímpico. Tivesse Lacerda o mesmo zelo no projeto do Grand Champions, também proposto pela CBT, a Confederação não teria sido obrigada a devolver meio milhão de reais. Lembremos, ainda, que a Justiça Federal aceitou denúncia do MPF contra Lacerda neste mesmo caso do Grand Champions. A acusação é grave, e Ricardo Marzola, parceiro de Lacerda na época, já admitiu que assinou documento falso a pedido da CBT. Não é exatamente leve a questão.

Lacerda_Westrupp_Andujar_blog

Também me causou estranheza Lacerda escrever sobre o evento Copa Rio Juvenil, afirmando que "com certeza ficará comprovado crime e dano ao erário ao final da investigação." "Com certeza"? Lacerda já julgou o caso e condenou os réus? Soa ousado e desrespeitoso, até porque não me lembro de ninguém do tal grupo de oposição cravando publicamente que Lacerda será condenado "com certeza".

No que diz respeito a Acioly, o ex-capitão brasileiro na Copa Davis se defendeu escrevendo uma carta-resposta, que está abaixo e pode ser baixada aqui.

CBT_Acioly2_col_blog

Disso tudo, algumas perguntas importantes ficam no ar, já que Lacerda deixará a presidência da CBT em breve, mas afirma com todas as letras que esse suposto grupo de oposição "não terá apoio e nem parceria da CBT."

Será que o presidente eleito, Rafael Westrupp (na foto acima, ao lado de Lacerda), está de acordo com essa postura? Será, aliás, que ele teve conhecimento dessa carta antes de ela ser distribuída? Isso, aliás, leva a outra questão:

O próximo presidente, que faz parte da atual gestão de Lacerda, continuará a política de pouco diálogo e de brigas pessoais com o "grupo de oposição"?

Enviei essas duas questões à assessoria de imprensa da CBT, mas ainda não tive resposta. Quando receber, atualizarei o post.

Coisas que eu acho que acho:

– Que fique claro: não tomo parte de lado algum na eleição da FTERJ. Embora eu tenha acompanhado relativamente de perto o longo e complicado processo que levou a atual diretoria ao poder, não acompanhei o suficiente do trabalho de Renato Cito para julgar se foi bom ou ruim. Tampouco sei o que Ricardo Acioly planeja para a federação.

– A intenção deste post é levantar a questão de sempre: o órgão máximo do tênis brasileiro está realmente sendo usado em prol do tênis ou virou um instrumento de poder nas disputas pessoais de Jorge Lacerda? Para mim, esse é o ponto realmente importante.

Coisas que eu acho que acho, parte II:

– A CBT renovou o contrato de patrocínio com os Correios, fazendo um péssimo negócio. A estatal pagava cerca de R$ 17 milhões por dois anos (no balanço de 2015 da CBT, consta a entrada de R$ 8,6 milhões). Agora, os Correios pagam R$ 4 milhões pelo mesmo período. Há quem não ache que foi um péssimo negócio para a CBT. Discordo. Ou isso ou a CBT entrega um péssimo produto.

– Imaginemos o seguinte cenário: você, leitor, é fabricante de, digamos, cervejas artesanais. Sua empresa tem um acordo com o mercado X, que paga R$ 17 por cada garrafa de 600ml. Um belo dia, o mercado X anuncia que vai parar de comprar seu produto. O que você faz? Tenta vender a cerveja ao mercado Y, ao mercado Z ou a quem quer que queira comprar.

– Se ninguém estiver disposto a pagar R$ 17 por suas cervejas, talvez seja preciso reduzir o preço. Então sua empresa acha por bem reduzir para R$ 15, talvez R$ 13 reais. É assim que funciona a lei de oferta e procura. Se mesmo assim ninguém quiser fazer negócio, e o mercado X oferecer R$ 4 pela mesma cerveja que você vendia por R$ 17, o que se conclui disso? Ou a sua cerveja nunca valeu R$ 17 ou você está fazendo um péssimo negócio ao vendê-la por R$ 4. Ou ambos…

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.