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Sharapova, agora 'sem culpa significativa'

Alexandre Cossenza

04/10/2016 12h44

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Maria Sharapova teve sua punição por doping reduzida. Antes condenada a dois anos de suspensão por ingestão de meldonium (leia mais aqui), a tenista russa viu a Corte de Arbitragem do Esporte (CAS, na sigla original em francês) diminuir o período para 15 meses. Na prática, a ex-número 1 estará liberada para competir no fim de abril de 2017.

Mas o que mudou para que a punição fosse reduzida? Na prática, nada. Os relatos dos fatos foram os mesmos. A diferença está na interpretação da CAS. A Corte, que tradicionalmente reduz consideravelmente penas por doping, analisou que Sharapova não teve culpa significativa. Essa visão foi diferente da do tribunal independente formado pela ITF, que julgou a russa inicialmente.

Enquanto o tribunal considerou que Sharapova teve culpa significativa ao delegar a conferência de substâncias antidoping a seu empresário, Max Eisenbud, a CAS avaliou que que a opção pelo empresário foi razoável. Logo, a tenista não teve a tal "culpa significativa". Por isso, optou por reduzir a pena.

Quanto a Eisenbud, a CAS considerou válida a escolha do empresário por uma série de fatores. Pesou a favor dele o histórico positivo de respeito às regras antidoping, seja preenchendo os formulários de whereabouts de Sharapova ou realizando pedidos de isenção de uso terapêutico. Além disso, a CAS enfatizou que ninguém precisa ter treinamento específico em antidoping para conferir se uma substância faz ou não parte de uma lista.

A CAS, entretanto, não deixou de apontar as falhas de Sharapova. Segundo o painel de árbitros, a russa não instruiu Eisenbud sobre como fazer tal conferência e não estabeleceu um procedimento para supervisionar o trabalho de seu empresário no quesito antidoping. Por isso, a CAS considerou que Sharapova teve "algum grau de culpa" e que ela mostrou "percepção reduzida do risco que estava correndo ao ingerir" meldonium.

Ranking zero

Agora, com a decisão do CAS, é possível falar com certeza. Sharapova estará liberada no fim de abril, e seu primeiro torneio deve acontecer em maio. Por ter ficado mais de um ano afastada, estará sem pontos e sem ranking. Precisará de wild cards para qualquer torneio. E será que algum evento negará? Difícil imaginar isso acontecendo, especialmente com um nome de peso que vende ingressos e leva público (e dinheiro) ao tênis.

Comemoração nível 'absolvição'

No fundo, Sharapova ainda não se desapegou da raiva que tomou da ITF. Afinal, é a Federação, sempre, quem pede a punição nos casos de doping. Como fica claro no comunicado publicado nesta terça, a ex-número 1 do mundo ainda culpa parcialmente a ITF pelo seu doping. Para a tenista, a federação deveria ter avisado de forma mais enfática. "Aprendi muito e espero que a ITF também tenha aprendido. A CAS concluiu que 'o painel [de arbitragem] determinou que não concorda com muitas das conclusões do Tribunal [da ITF]'…"

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A punição diminuiu, mas a mágoa ficou. Sharapova sempre assumiu a responsabilidade pela ingestão de meldonium, mas continua direcionando ataques contra a ITF. Não importa que nenhum outro caso semelhante tenha acontecido (nem Varvara Lepchenko, que usava meldonium, continuou a tomar a substância depois de 1º de janeiro, quando passou a integrar a lista de medicamentos proibidos), Sharapova continua falando como vítima da ITF. Não é bem essa a situação. E o fato de ela estar comemorando uma punição de "apenas" 15 meses diz muito sobre isso.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.