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NY, dia 14: três wezes Wawrinka, o mistério mais sedutor do tênis

Alexandre Cossenza

12/09/2016 11h16

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Num dia, o suíço está quebrando a cabeça e descontando a raiva na raquete enquanto leva uma virada do argentino Federico Delbonis. Duas semanas depois, faz uma das partidas mais memoráveis do ano e bate Novak Djokovic na final de Roland Garros. Num domingo, escapa por um ponto da eliminação diante de um jovem que nem no top 50 está. No outro, faz o número 1 do mundo correr por quatro horas até não conseguir ficar em pé – literalmente – e conquista o US Open. Eis Stan Wawrinka, o mistério mais sedutor do tênis mundial.

O difícil – difícil mesmo – ao ver um jogo do número 1 da Suíça e atual #3 do mundo é não soltar uma expressão de espanto, saudação, admiração e incredulidade – tudo ao mesmo tempo – a cada paralela, de forehand ou backhand, que voa pesada rente à rede, deixa uma marca junto a uma das linhas e morre no fundo da quadra, deixando o adversário frustrado, confuso, meio que desafiando Wawrinka a fazê-lo outra vez, mas ciente de que o suíço é capaz de repetir aquilo nos próximos segundos.

Wawrinka também é o homem que não se importa em estar fora do top 4. Tão consciente que é, sempre é ele mesmo o primeiro a dizer que está longe do grupo de de Djokovic, Murray, Nadal e Federer, não importa o ranking. E não está nem aí para isso. Quando lhe perguntam por que ele tem "só" um título de Masters 1.000, diz que "não sei e só posso dizer que estou feliz com esse troféu hoje." Pouco importa. Ganhou três Slams, batendo Djokovic – duas vezes – e Nadal nessas finais. E, a cada resposta sobre o assunto, é como se Stan dissesse uma combinação de "e daí se não ganhei mais aqui ou ali?" com "não me encham o saco" da forma mais suíça imaginável.

Wawrinka também é um mistério quando soma 11 vitórias seguidas em finais, algo que Djokovic, por exemplo, não conseguiu. E não seria tão espantoso assim se o consistente sérvio conseguisse. Federer fez isso lá atrás, em 2004-05. Nadal também somou mais de 11 em 2005-06. Mas Wawrinka, um homem que raramente joga bem duas semanas seguidas, vencer 11 finais em sequência? E incluir triunfos sobre Djokovic, Nadal e Federer nessa lista? Vai entender…

"Confiança" e "jogos de cinco sets", explica Wawrinka como se as 11 finais fossem a estatística mais banal do mundo. O suíço diz que adquire confiança a cada vitória e que jogos mais longos lhe permitem errar mais. "Depois de uns games, começo a acreditar em mim mesmo, começo a entrar no jogo." Simples, não? Na verdade, não. Nem um pouco. Mas Stan faz tudo soar assim, descomplicado, como se também fossem mundanas a violência e a precisão de seus golpes.

E agora, o que reserva o futuro para Wawrinka? Mais Slams? Uma eventual briga pela liderança do ranking? Ou um título esporádico aqui e outro ali? Pouco importa, acredito eu. E acho que ele mesmo concordaria. Seu poder de sedução está na dúvida. Stan é um homem que num momento segura o troféu como se fosse o melhor presente da vida e, poucos segundos depois, como se estivesse a entornar uma caneca da Oktoberfest.

Seu tênis é aquela colega de faculdade que se mostra disponível num momento e, no dia seguinte, dá a entender que não quer nada. Torcer por Wawrinka, então, é mergulhar de cabeça numa paixão avassaladora sem saber se aquilo vai terminar em relacionamento sério ou num coração em pedaços. Mas quem ousa dizer que todas essas sensações não são gloriosas?

A escolha tática de Djokovic

A questão já foi abordada no post pré-final, mas acho que vale lembrar. Novak Djokovic começou a final de maneira cautelosa, meio que pagando para ver o que Wawrinka tinha na mão. Valeu a pena no primeiro set – como valeu naquela final de Roland Garros – mas quando o suíço achou o tempo e calibrou seus golpes, o cenário mudou. O #1 não achou uma saída, um caminho que lhe desse vantagem consistentemente nas trocas de bola. O plano de jogo que deu certo contra Wawrinka na maioria das vezes falhou neste domingo.

Não me parece tão justo assim criticar a estratégia de Djokovic. Afinal, o sérvio ainda teve muitas chances no segundo e no terceiro sets, quando a partida ainda estava parelha. Foram três break points seguidos não convertidos no quinto game da segunda parcial (0/40), mais três no primeiro game do terceiro set e mais unzinho dois games depois. No fim das contas, a final foi muito mais decidida no velho quesito "chances aproveitadas" do que em planos de jogo.

Mesmo perdendo por 2 sets a 1, Djokovic ainda estaria bastante "dentro" de jogo não fosse pelos problemas nos dedos dos pés, que atrapalharam sua movimentação. Houve polêmica pelo momento em que o atendimento médico foi realizado (após um game par, antes do saque de Wawrinka), mas como o suíço não perdeu o serviço e acabou vencendo o duelo, o assunto perdeu força. Além disso, as imagens da transmissão de TV deixaram claro que o problema de Djokovic era real e bastante sério.

O ponto do jogo

Obrigado à Aliny Calejon por registrar o melhor ponto da partida. Foi, curiosamente, o único ponto vencido por Wawrinka no tie-break do primeiro set.

O top 10

As dez primeiras posições do ranking mundial ficaram assim:

1. Novak Djokovic – 14.040 pontos
2. Andy Murray – 9.485
3. Stan Wawrinka – 6.260
4. Rafael Nadal – 4.940
5. Kei Nishikori – 4.875
6. Milos Raonic – 4.760
7. Roger Federer – 3.745
8. Gael Monfils – 3.545
9. Tomas Berdych – 3.390
10. Dominic Thiem – 3.295

As mudanças mais significativas da lista foram a subida de Nadal do quinto para o quarto posto, o que faz uma diferença enorme no chaveamento de torneios; a ascensão de Monfils, que ganhou quatro postos; e a queda de Federer, que não disputou o US Open e perdeu três posições.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.