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NY, dia 13: Kerber, campeã e ícone de um novo momento no tênis feminino

Alexandre Cossenza

11/09/2016 11h34

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Angelique Kerber colocou um ponto de exclamação em sua chegada ao topo do ranking feminino ao, neste sábado, conquistar o título do US Open. O número 1 já estava assegurado desde que Serena Williams caiu nas semifinais, mas a alemã voltou ao Estádio Arthur Ashe e derrotou Karolina Pliskova por 6/3, 4/6 e 6/4 para conquistar seu segundo título em um Slam na temporada.

A decisão foi mais uma demonstração de todas as (muitas) qualidades do tênis de Kerber. Agressividade na medida certa, paciência para trabalhar pontos, contra-ataques precisos, enorme capacidade defensiva e uma paralela de forehand (a alemã é canhota) que "quebra" qualquer adversário.

Andy Roddick, periscopando durante a final, foi muito feliz ao comparar Kerber com Tim Duncan, o ala-pivô aposentado que foi cinco vezes campeão da NBA pelo San Antonio Spurs. O ex-número 1 do mundo disse (em tradução livre) que "a grandeza de Tim Duncan estava em sua capacidade de dominar os fundamentos do jogo. Nada saltava aos olhos, nada era um highlight, mas ele foi jogador defensivo do ano, esteve no time defensivo da NBA, foi MVP, conquistou títulos e, ao mesmo tempo, parecia um cara normal. Angelique Kerber é igual. Ela domina os fundamentos. Ela mantém muito espaço entre ela e sua adversária, a não ser que seja de propósito…", "…escolhe a hora certa para mudar a direção, põe em joga várias devoluções, varia bastante a trajetória em suas devoluções…" "Espero que se fale mais sobre seu QI tenístico. Acho que é altíssimo e que é maior do que era dois ou três anos atrás."

O novo momento

O título de Kerber marca sua chegada ao topo e, ao mesmo tempo, parece que a temporada de 2016 ficará para a história como o ano do fim do domínio de Serena Williams. A americana, que completa 35 neste mês de setembro, ainda é a tenista mais completa do circuito. É quem tem mais armas e, em condições normais, é favorita a qualquer troféu. Serena, aliás, ainda tem boas chances de terminar o ano como número 1 do mundo, desde que não decida, como no ano passado, encerrar sua temporada mais cedo.

O ponto é que o enorme vão que a separava do resto do circuito encolheu com a ascensão da turma de Kerber, Muguruza, Halep e, quem sabe, Keys, Pliskova. Serena já não tem físico para jogar um calendário cheio. Disputou apenas oito eventos em 2016 e, mesmo assim, teve de lidar com lesões. Em dias abaixo de seu normal, já não consegue mais sair de buracos como antes. Foi assim em Melbourne e Nova York. Em Paris, foi diferente. O grande tênis de Muguruza sufocou a americana. Impensável tempos atrás. Hoje, nem tanto. O domínio, na plena acepção da palavra, não existe mais.

O top 10

Após o US Open, o ranking feminino tem dois nomes dentro do top 10 alcançando sua melhor posição na carreira. Além de Kerber, que assume a liderança, Pliskova salta para o sexto posto. A ordem fica assim:

1. Angelique Kerber – 8.730 pontos
2. Serena Williams – 7.050
3. Garbiñe Muguruza – 5.830
4. Agnieszka Radwanska – 5.815
5. Simona Halep – 4.801
6. Karolina Pliskova – 4.425
7. Venus Williams – 3.815
8. Carla Suárez Navarro – 3.330
9. Madison Keys – 3.286
10. Svetlana Kuznetsova – 3.250

Teliana Pereira, que ainda ocupa o posto de número 1 do Brasil, cairá para além do 150º posto. Paula Gonçalves não está muito longe e soma apenas 23 pontos a menos que a pernambucana. Enquanto isso, a suspensa Maria Sharapova ocupa o 93º posto, à frente de Francesca Schiavone (94) e Kristyna Pliskova (95).

Leitura recomendada:

Como foram duas semanas complicadas para mim, acabei deixando de lado esta seção de recomendações de artigos durante o US Open. Hoje, contudo, esbarrei num texto indicado pelo jornalista americano Ben Rothenberg e que foi publicado no Washington Post. Nele, a tenista universitária Allegra Hanlon conta como a federação americana (USTA) proíbe os jovens do país de gritar "Vamos!" ou qualquer outra palavra que não seja em inglês durante as partidas. Os relatos – Allegra não foi a única vítima da regra – são entristecedores.

O juvenil brasileiro campeão

Felipe Meligeni Rodrigues Alves, sobrinho do semifinalista de Roland Garros, conquistou o título de duplas juvenis do US Open. Ao lado do boliviano Juan Carlos Aguilar Peña, o brasileiro bateu os canadenses Felix Auger-Aliassime e Benjamin Sigouin por 6/3 e 7/6(4). Foi o último Slam juvenil do brasileiro de 18 anos, que abriu a semana como #40 do mundo em sua faixa etária.

A partir de 2017, Felipe entrará de cabeça no circuito profissional. Até agora, tentou a sorte em cinco ITFs e venceu um jogo – em São José do Rio Preto, em agosto de 2015. Em 2016, o campineiro jogou um Future e um Challenger. Perdeu para José Pereira no primeiro e para Carlos Eduardo Severino no segundo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.