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Saque e Voleio

NY, dia 4: a fábrica americana, o brilho de Del Potro e Ferrer na madrugada

Alexandre Cossenza

02/09/2016 01h58

A chuva que chegou timidamente na noite de quarta-feira voltou e ficou na região de Flushing Meadows por mais tempo. Por isso, a organização do US Open foi forçada a encaixar partidas noite adentro nas quadras externas, enquanto durante o dia o público ficou preso quase exclusivamente à programação do Estádio Arthur Ashe e seu debutante teto retrátil.

Em termos gerais, a jornada não teve nenhum resultado muito espantoso. Ainda assim, quem entrou em quadra ajudou a deixar o cenário de expectativas um pouco mais claro rumo à segunda semana do Slam americano. Este resumaço também aproveita para comentar o grande momento de Juan Martín del Potro, o sucesso da "fábrica" americana de tenistas e a escalação brasileira na Copa Davis.

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Os favoritos

A primeira a entrar em quadra no Ashe foi Simona Halep (#5), que encarou um jogo perigosíssimo contra Lucie Safarova (#44), que poderia muito bem ser duelo de oitavas ou quartas de final em outras circunstâncias. Foi também uma partida nervosa, com 11 quebras de saque em 19 games e que terminou com vitória da romena por 6/3 e 6/4.

Não foi lá uma atuação de gala de Halep. Pelo contrário. A #3 do mundo esteve nervosa, descontou na raquete e terminou o duelo com nove winners e 20 erros não forçados. Safarova, que arriscou mais, também falhou mais. Foram 16 winners e 44 (!!!) erros da tcheca. De positivo, Halep leva uma vitória em condições adversas e contra uma oponente perigosa. É o tipo de triunfo que, quando vem no começo do torneio, fortalece o tenista que ruma à segunda semana.

Halep, que já havia somado uma vitória importante contra Kirsten Flipkens na estreia, agora enfrentará Timea Babos (#34), cabeça de chave 31, que vem de triunfos sobre Barbara Haas e Richel Hogenkamp.

Logo depois de Halep, foi a vez de Andy Murray (#2) entrar para enfrentar Marcel Granollers (#45) e anotar mais um triunfo sólido, sem grande drama – apesar da quebra de vantagem desperdiçada no primeiro set: 6/4, 6/1 e 6/4. O escocês, que mandou no jogo, somou 34 winners e 28 erros não forçados, além de cinco aces e três duplas faltas. Vale destacar o alto aproveitamento tanto nos pontos vencidos com o segundo serviço (65%) quanto na conversão de break points (42%).

A curiosidade do dia ficou por conta do barulho. Não o som dos torcedores, que já gerou reclamações nas sessões noturnas. Hoje, a questão foi o barulho da chuva batendo no teto. Murray disse que não conseguia ouvir a bola.

De qualquer modo, o campeão de Wimbledon e dos Jogos Olímpicos Rio 2016 segue firme e favoritíssimo na metade de baixo da chave. A próxima rodada será contra o italiano Paolo Lorenzi – que bateu Gilles Simon.

À noite, ninguém esperava que Serena Williams (#1) fosse muito exigida pela diminuta Vania King (#87 e generosos 1,65m segundo o site da WTA). E não foi. Em apenas 1h04min, a líder do ranking despachou a compatriota por 6/3 e 6/3, sem ceder break points, somando 13 aces e 38 winners, com 28 erros não forçados.

A vitória desta quinta-feira foi a 306ª da carreira de Serena Williams em torneios do Grand Slam. Ela iguala Martina Navratilova como a maior vencedora de jogos em eventos desse porte. Um recorde que vai cair logo, logo.

Foi também a segunda vitória seguida em que Serena não precisou enfrentar um break point sequer. É de se esperar que os próximos encontros sejam igualmente descomplicados, já que todas cabeças de chave dessa seção caíram, e a #1 pode chegar às quartas sem encarar uma pré-classificada. Seu jogo de terceira rodada será contra Johanna Larsson, e o duelo de oitavas vai ser diante da vencedora do jogo entre Yaroslava Shvedova e Shuai Zhang. Está tranquilo? Está favorável?

O jogo da "polêmica"

Antes mesmo de Juan Martín del Potro (#142) receber um wild card para o US Open, o americano Steve Johnson (#22) se posicionou contra. Disse que muitos fãs americanos ficariam chateados se o argentino recebesse o convite. Pois Del Potro não só recebeu o convite como o destino colocou os dois frente a frente na segunda rodada do Slam americano. A declaração de Johnson, é claro, deu um atrativo a mais para o encontro.

Com a bola em jogo, Del Potro foi superior, especialmente depois de vencer a primeira parcial no tie-break: 7/6(5), 6/3 e 6/2. Aliás, não deixa de ser admirável o nível de tênis que o argentino vem mostrando desde o Rio de Janeiro, onde derrubou gente do nível de Novak Djokovic e Rafael Nadal. Seu próximo adversário em Nova York será David Ferrer, que sobreviveu a um jogão de cinco sets contra Fabio Fognini que só acabou além da meia-noite em Nova York. Será outro desafio enorme para Del Potro. A pergunta que se faz com mais frequência a cada vitória é: até onde será que ele vai neste US Open? Ao que parece pelo demonstrado até agora, nada é impossível.

Mais um adolescente americano

Jared Donaldson (#122), 19 anos, não ganhou wild card para a chave principal, mas furou o quali e, quem diria, já está na terceira rodada. Depois de superar David Goffin na estreia, bateu Viktor Troicki (#32) nesta quinta-feira: 7/5, 6/3 e 6/3. Com o resultado, Donaldson provavelmente vai entrar no top 100, o que só chama mais atenção para o número de jovens americanos que vêm subindo no ranking.

Só no circuito masculino, a lista de americanos com até 21 anos entre os 300 do mundo tem Taylor Fritz (18, #53), Donaldson (19, #122), Francis Tiafoe (18, #125), Stefan Kozlov (18, #154), Noah Rubin (20, #193), Ernesto Escobedo (20, #201), Tommy Paul (19, #213) e Reily Opelka (19, #292).

A geração é fruto de um trabalho de base que foi reestruturado no fim da década passada, quando a USTA contratou técnicos estrangeiros e montou um programa para que seus jovens aprendessem a jogar no saibro. A intenção era fazer com que os garotos aprendessem a trabalhar pontos em vez de ficarem limitados à combinação saque+forehand e apostando demais na potência de golpes. Não há como questionar que o trabalho, embora com tropeços aqui e ali (o caso da jovem Taylor Townsend foi o mais conhecido), está dando resultado.

Cabeças que rolaram

A lista de quedas do dia tem Samantha Stosur, superada por Shuai Zhang; Timea Bacsinszky, eliminada por Varvara Lepchenko; Feliciano López, derrotado por João Sousa; Gilles Simon, que tombou diante de Paolo Lorenzi; e Alexander Zverev, que não passou por Daniel Evans.

Correndo por fora

Entre os favoritos que confirmaram o favoritismo, Venus Williams, Agnieszka Radwanska, Karolina Pliskova, Kei Nishikori, Dominic Thiem, Nick Kyrgios e David Ferrer. Eu encaixaria Stan Wawrinka – que também venceu hoje – na seção sobre favoritos, mas não vi seu jogo, então não posso fazer a avaliação que gostaria de fazer.

Os melhores lances

O vídeo de hoje é cortesia de Fabio Fognini, que estava fora da tela quando defendeu um smash de David Ferrer com uma paralela vencedora.

Os brasileiros

Sem nenhum brasileiro em quadra, a CBT anunciou hoje o time que disputará a Copa Davis contra a Bélgica, na casa do time europeu, pelos playoffs do Grupo Mundial. A equipe, que já havia sido revelada pelo site da própria Copa Davis, terá a estreia de Thiago Monteiro. Ele se juntará ao trio-base formado por Thomaz Bellucci, Bruno Soares e Marcelo Melo.

A Bélgica ainda não anunciou o time, mas vale lembrar que o #1 do país, David Goffin (#14) não anda exatamente em grande fase. Depois de perder para Thomaz Bellucci nos Jogos Olímpicos Rio 2016, o belga venceu sua estreia no Masters de Cincinnati (contra Nikoloz Basilashvili, então #107) e perdeu os dois jogos seguintes. O primeiro para Bernard Tomic e o último para o americano Jared Donaldson (#122), na primeira rodada do US Open.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.