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NY, dia 3: Raonic e Muguruza tombam, Nadal impõe respeito

Alexandre Cossenza

01/09/2016 02h12

Terceiro dia de US Open, e dois reais candidatos ao título já ficaram pelo caminho. Nesta quarta-feira, Milos Raonic e Garbiñe Muguruza deram adeus, deixando buracos na chave e abrindo oportunidades para quem quiser/puder aproveitá-las. A rodada também foi cheia de brasileiros nas duplas – inclusive com uma derrota inesperada -, teve um susto médico com Johanna Konta e, no fim do dia, Nadal impondo respeito com o teto retrátil fechado.

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Os tombos

Finalista em Wimbledon, Milos Raonic faz parte do time que apostou em não ir ao Rio de Janeiro. Primeiro, deu a desculpa do zika. Depois, abriu o jogo e afirmou que queria estar bem fisicamente no US Open. Não foi o caso. O canadense (#6) teve cãibras desde o terceiro set e acabou derrotado por Ryan Harrison (#120): 6/7(4), 7/5, 7/5 e 6/1. A descrição de Raonic foi curiosa: "Foram várias coisas: o braço esquerdo; o antebraço direito no fim do terceiro set; as duas coxas; um pouco no quadril esquerdo."

Raonic disse também não lembrar da última vez que perdeu um jogo por causa de cãibras e que o motivo do problema físico foi provavelmente "um pouco de estresse", mas não faz diferença agora. A consequência imediata é o buraco deixado na chave. Harrison vai enfrentar Baghdatis (#44), que derrotou Benoit Paire (#34 – outro cabeça eliminado) por 6/2, 6/4, 3/6 e 6/4. E o vencedor desse jogo vai encarar Monfils ou Almagro nas oitavas. Ou seja, desse grupo sairá o quadrifinalista que enfrentará possivelmente Rafael Nadal.

Mais tarde, na abertura da sessão noturna do Estádio Arthur Ashe, foi Garbiñe Muguruza (#3) quem se despediu. Diferentemente de Roland Garros, quando a espanhola tomou um susto na estreia, mas acordou rápido e venceu tudo até o título, desta vez Muguruza emendou uma atuação abaixo da média com uma derrota. Sua algoz foi a letã Anastasija Sevastova (#48), que fez 7/5 e 6/4.

A favorita parecia que tiraria uma reação fantástica da cartola quando saiu de 1/5 e devolveu duas quebras no segundo set, mas não conseguiu confirmar seu serviço no décimo game e deu adeus quando um forehand cruzado da rival foi fora de seu alcance. Na entrevista ainda em quadra, Sevastova admitiu que tremeu, mas festejou a enorme vitória e a vaga na terceira rodada.

Enquanto a espanhola perde também a chance de assumir a liderança do ranking (a possibilidade existia), a letã ocupa a mesma seção que já está "desfalcada" de Mónica Puig e vai encarar Kateryna Bondarenko (#59) na terceira rodada. Quem vencer enfrentará a vencedora de Bencic x Konta.

Os favoritos

Entre os candidatos que avançaram, Rafael Nadal (#5) mostrou força novamente. Abriu a partida contra Andreas Seppi (#87) vencendo seis games seguidos e jogando um tênis agressivo, bem perto da linha de base e sacando de forma eficiente. Terminou com um triunfo por 6/0, 7/5 e 6/1, dando mais sinais de que será difícil derrotá-lo em Flushing Meadows este ano.

Valem, é claro, as ressalvas de sempre, afinal são apenas dois jogos, mas o histórico indica que Nadal raramente cai antes da hora quando abre um Slam em tão boa forma. E não custa lembrar que sua chave não é das mais duras. O bicampeão do US Open (2010 e 2013) enfrentará Andrey Kuznetsov na terceira rodada e, se avançar, Pouille ou Bautista Agut nas oitavas. Além disso, seu provável oponente de quartas de final seria Raonic, que já ficou pelo caminho.

Hoje, o espanhol é favoritíssimo para chegar pelo menos à semifinal, que pode ser contra Novak Djokovic (#1). O sérvio, aliás, passou para a terceira fase sem entrar em quadra. Jiri Vesely, seu adversário nesta quarta, desistiu do torneio por causa de uma lesão no antebraço esquerdo.

Na chave feminina, o outro nome de peso do dia, Angelique Kerber (#2), avançou e se manteve na briga pelo posto de número 1 do mundo. A alemã teve dificuldades no segundo set e precisou salvar três set points (um no décimo game, outros dois no tie-break) antes de fechar em 6/2 e 7/6(7) a partida contra Mirjana Lucic-Baroni (#57). Kerber agora vai enfrentar a sensação adolescente CiCi Bellis, de 17 anos.

O teto e o barulho

Um dos assuntos recorrentes dos primeiros dias do US Open vem sendo o barulho feito pelo público nas sessões noturnas no Estádio Arthur Ashe. Sim, só à noite, o que se explica porque durante o dia o estádio nem fica perto de estar lotado – muita gente prefere as quadras externas, com partidas quase sempre mais parelhas.

Quem já assistiu a uma sessão noturna no Ashe sabe que sempre foi assim. Muita gente – especialmente nos setores mais longe da quadra – compra ingresso apenas para estar lá e mal presta atenção ao jogo. É normal isso acontecer em Nova York na primeira semana, quando os jogos valem menos e são menos equilibrados.

A questão é que a estrutura montada para o teto retrátil faz com que o barulho desse povo todo seja mais ouvido agora. E ficou ainda mais óbvio depois que o teto retrátil foi fechado pela primeira vez, durante Nadal x Seppi.

O susto

O "susto" de hoje não é um cabeça de chave que quase perdeu, mas um susto de saúde mesmo. Johanna Konta (#14) passou mal no segundo set da partida contra Tsvetana Pironkova (#71) e precisou ser atendida no meio da quadra. "Meu corpo inteiro parecia em choque. Comecei a tremer. Meu coração disparou", explicou durante o atendimento.

Foi impressionante, mas Konta acabou vencendo por 6/2, 5/7 e 6/2 e avançando à terceira rodada. Será, aliás, um dos jogos mais interessantes da rodada, já que Konta vai enfrentar a suíça Belinda Bencic (#26).

Mais uma cabeça que rolou

Outro resultado notável desta quarta-feira foi a vitória de Caroline Wozniacki (#74) sobre Svetlana Kuznetsova (#10). Nem tanto pelo ranking de ambas, mas pelo início da partida. A russa abriu a partida fazendo 4/0, mas a dinamarquesa venceu sete games seguidos e jamais voltou a estar atrás no placar. Fez 6/4 e 6/4 e passou à terceira fase para duelar com Monica Niculescu.

A ex-número 1, que começou mal em suas duas partidas, agora se vê em uma parte nada ruim da chave. Se bater Niculescu, enfrentará Keys ou Osaka nas oitavas. Keys, cabeça 8, ainda é a favorita na seção, mas a experiência de Wozniacki pode pesar, ainda que a dinamarquesa não esteja em sua melhor fase.

Correndo por fora

Vale manter os olhos e ouvidos abertos para gente que corre por fora e, em uma segunda semana inspirada, pode aprontar. É o caso de Petra Kvitova, Roberta Vinci e Belinda Bencic, que venceram em dois sets nesta quarta. Também não convém descartar Dominika Cibulkova, que venceu de virada.

Entre os homens, Gael Monfils (#12) vem se consolidando como o homem mais sortudo de 2016 (basta ver várias chaves da temporada). Hoje, bateu o tcheco Jan Satral (#226) por 3 sets a 0 e vai duelar com Nicolás Almagro. Outra notícia boa para o francês, como já citei no alto do post, foi a queda de Raonic. Assim, Monfils pode chegar às quartas sem enfrentar um cabeça de chave sequer.

Marin Cilic também manteve seu bom momento e venceu mais um jogo em sets diretos. Campeão do Masters 1.000 de Cincinnati, o croata soma oito vitórias seguidas no circuito. Agora, no entanto, a coisa começa a complicar para o campeão do US Open de 2014. Ele enfrenta Jack Sock na terceira rodada e, se avançar, pega o vencedor de Jo-Wilfried Tsonga x Kevin Anderson.

Os brasileiros

Com todos simplistas eliminados, resta ao público brasileiro torcer por seus duplistas. A quarta-feira foi boa para a maioria, mas uma derrota veio de forma inesperada. Marcelo Melo e Ivan Dodig, cabeças de chave #2, foram eliminados pelos americanos Nicholas Monroe e Donald Young: 7/5 e 7/6(2).

NY Vibes #usopen2016

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De resto, só vitórias. Bruno Soares, aliás, venceu duas vezes. Ao lado de Jamie Murray, triunfou em uma partida complicada contra os portugueses Gastão Elias e João Sousa: 6/3, 6/7(3) e 7/5. Mais tarde, ao lado da cazaque Yaroslava Shvedova, avançou também nas duplas mistas. Os dois bateram Yi-Fan Xu e Aisam Ul-Haq Qureshi por 6/4, 3/6 e 10/8.

André Sá e o australiano Chris Guccione também passaram para a segunda rodada. Eles fizeram 6/4 e 6/4 sobre os convidados americanos John McNally e Jeffrey John Wolf. Só que o resultado mais espantoso do dia veio mesmo com Thomaz Bellucci e Marcelo Demoliner derrubaram os franceses Julien Benneteau e Edouard Roger-Vasselin, cabeças 11: 7/6(4) e 6/3. Paulista e gaúcho têm até uma boa chance de alcançar as oitavas. Seus próximos oponentes serão Yen-Hsun Lu e Janko Tipsarevic.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

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